29.10.16

Da Biblioteca Nacional ao C.C. Vasco da Gama

Durante a manhã, entrei na Biblioteca Nacional, em Lisboa. O objetivo era ver a exposição sobre Vergílio Ferreira, nascido em 1916. Situada na "sala de referência", a exposição ocupa uma parede, não toda, porque ainda há espaço para expor o acervo traduzido de Bob Dylan, recente prémio nobel da literatura, que Vergílio bem gostaria de ter recebido... De tudo o que observei, fica-me na retina a letra miudinha do autor, homem certamente tímido e introvertido. E também a máquina fotográfica, ferramenta imprescindível ao "realismo" do escritor...
O espaço silencioso daquela sala convida a que se revisite os catálogos e por entre eles acabei por descobrir o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), com inevitável alusão ao Prólogo, mas o que, desta vez, despertou a minha atenção foi o volumoso in-fólio inquisitorial, onde o Censor dá prova de atenta leitura, ao apontar de forma minuciosa as passagens que teriam de ser cortadas.
Sem querer referir todas as pequenas "celebrações", convém, no entanto, não perder a exposição Da Feliz Lusitânia à Felix Belém.
Em síntese, talvez por ser sábado, fiquei com a sensação de que a BN já terá sido um lugar mais procurado - havia 10 leitores na Sala de Leitura Principal.

Durante a tarde, desloquei-me ao Centro Comercial Vasco da Gama. O bulício era tal que cheguei a pensar que o Natal estaria à porta.

28.10.16

Na morte

Na morte, aplaudimos.
Selecionamos os lugares, as ações, os acontecimentos em que tudo foi harmonia, entrega, paixão e amor ao próximo.
Na morte, somos filhos do único deus que nos concebeu sem mácula, que proibiu as fraquezas...
Na morte, estamos todos de acordo.

Em vida, a inveja cega. O interesse esmaga. A vaidade despreza...

Na morte, batemos palmas. Não se sabe é a quem...

27.10.16

O problema de José Sócrates

Mas o que torna uma liderança carismática? Sócrates responde. “As lideranças carismáticas são, muitas vezes, um produto das crises. As pessoas revelam-se nessas alturas de crise. O carisma é sempre algo de excecional, de fora do comum. O maior inimigo do carisma é a rotina”. Em entrevista à TVI

Carisma. S.m. 1. Força divina conferida a uma pessoa mas em vista da necessidade ou utilidade da comunidade religiosa. 2. Epilepsia (v. carismático*). 3. Atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excecional. 4. O conjunto dessas qualidades.

José Sócrates tudo faz para vender o novo livro, escrito a quatro, seis mãos...
Ataca agora António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa porque lhes falta CARISMA. Ainda bem!
Ele, sim, é um líder carismático porque soube enfrentar a crise. Será que alguém duvida do seu contributo para a solução dos problemas dos portugueses? Ele está convencido de que é nos momentos de crise que se revelam os líderes carismáticos. Eu também, acredito que a liderança pode afirmar-se nessa situação.
Só que dispenso o "carisma", pois se há alguém que se tornou «popular» e "célebre" durante e após a crise foi ele, José Sócrates. E porquê? Porque lhe faltou a necessária educação para destrinçar  o que é do interesse público do que é do interesse pessoal... e seus amigos.
O problema de José Sócrates é um problema axiológico. E já é tarde para aprender que nem todos os meios justificam os fins. Dir-se-á que Sócrates nunca leu Maquiavel ou, pior, não sabe lê-lo! 

26.10.16

Só vejo deseducação...

« In rem omnem diligentia.» Cíc. Fam.

Hiperatividade. Déficit de atenção. Estes conceitos dominam o discurso de pedagogos, psicólogos, pais e docentes.
Tempos houve que bastava a noção de desatenção. Dispersão.
Avesso a modas, fui observando os comportamentos e dei conta de que a indisciplina  se ia instalando - primeiro combateu-se a disciplina do Estado Novo, e, mais tarde, a vontade democrática passou a ordenar...
Entretanto, com a instalação do pântano democrático e o consequente desmoronamento dos valores, a hiperatividade e o déficit de atenção instalaram-se...
Quanto mim, só vejo deseducação.

Os Antigos bem sabiam que o sucesso  só  estava ao alcance de quem se concentrava totalmente no objetivo.

25.10.16

A arte e a bestialidade humana

Conhecer o território? Compreender as migrações, forçadas ou não, e o seu contributo para a dignificação, por exemplo, da mulher nas cortes do nordeste peninsular? Perceber que a cortesia ( o amor cortês) foi essencial para a elevação da condição feminina na Idade Média pouca interessa...
Afinal, em termos civilizacionais, a arte parece ser pouco mais do que um ato gratuito, fruto da ociosidade de alguns, privilegiados, ou um serviço prestado a um mecenas, ávido de glória terrena e de reconhecimento eterno.
E mesmo que assim fosse, a boçalidade reinante é tão impulsiva que falta o tempo para olhar o passado como lugar e tempo de aprendizagem... Porém, sobra tempo para dar expressão a tudo aquilo que a Arte, desde sempre, procurou combater: a bestialidade humana.

(Este apontamento assinala os hiatos em que a voz se cala para ouvir as verdades babélicas que crescem sem qualquer freio... Se as deixarmos à solta, a Torre acabará por ruir.)

24.10.16

Das palavras, hoje

Umas são caras, outras raras, sem esquecer as feias - as palavras.
Hoje, aprendi que "discípulo" é uma palavra feia.
Ontem, descobri que há palavras inefáveis, de tão raras. Por exemplo, "polissénantica"!
Há dois dias, soube que 'obsceno' é o termo adequado ao nível lexical da "oratória".
Há até palavras que mudam de fatiota de acordo com a essência do locutor: "incenscial", "icensial", "incensial"
- Que tal vai a mixórdia? Numa versão de última hora: - Que tal vai a "michórdia"?

23.10.16

No museu de Cerâmica de Sacavém


Por mais que o queiramos ignorar, a verdade é que envelhecemos, o que não quer dizer que o tempo passe e, sobretudo, que tudo possa desculpar, em particular, a mistificação.
No Museu de Cerâmica de Sacavém, duas exposições a não perder: uma sobre os móveis OLAIO, empresa que não conseguiu sobreviver aos ventos democráticos; outra sobre a Fábrica de Loiça de Sacavém, definitivamente perdida, no dia em que as FP25 assassinaram o administrador, Diamantino Bernardo Monteiro Pereira. 
A visita a estas duas exposições é um bom testemunho do que aconteceu em Portugal com o desmantelamento de muitas empresas, apesar do slogan de Abril SACAVÉM EM LIBERDADE É OUTRA LOIÇA!...