16.5.19

O falso método de estudar

«Quando chegam aos exames e provas de aferição, “os alunos não falham na memória (…) falham na análise e na crítica”, disse o secretário de estado da Educação, lembrando os problemas que os estudantes têm revelado nas provas quando lhes é pedido para raciocinar, argumentar ou relacionar conceitos.» João Costa 'Ensinar e avaliar'

Os alunos não falham no exames, falham todos os dias. Porquê?
Porque o que se exige diariamente é muito pouco - estar, se possível, sem perturbar.
Paradoxalmente, aprendem cedo a criticar, embora não queiram analisar, pois tal significa empenho, trabalho, raciocinar, extrapolar…
Neste caso, quem me surpreende é o secretário de estado da Educação que, no cargo em que foi investido, já poderia ter acabado com este falso método de estudar. Já teve tempo para por cobro à ditadura das Editoras e do IAVE. 

14.5.19

O homem de lata

Não fez parte da minha infância, o homem de lata. A distância era intransponível, apesar dos 50 anos decorridos desde que ele surgira na América… No entanto, o homem de lata ocupou muito do tempo dos meus filhos…
Ao vê-lo no ecrã, ia pensando que, apesar da bondade, havia ali um mundo sem alma, sem Deus. E esta ausência, à época, não me afetava por aí além. No caso, a distância também era intransponível…
Hoje, no metro, lembrei-me dos escritos - os escritos na vidraça que indiciavam que a casa 'se alugava ou se vendia'.
Hoje, no cais, lembrei-me dos escritos - os corpos que por ali passavam surgiam todos anotados, como se houvesse algures um Escriba Supremo…
Ainda pensei numa possível exegese, mas recuei não fosse descobrir «o triunfo puro da mercadoria». (Eduardo Lourenço)

13.5.19

Descaramento

António Costa disse no Parlamento que todo o país está "chocado" com o "desplante" de Joe Berardo perante a comissão de inquérito à Caixa.

O país  deveria estar chocado com o 'desplante' de um Estado que deixa à solta indivíduos da estirpe de Joe Berardo…
Quantos outros estão presos por dívidas bem menores?!

12.5.19

O velho professor

O velho professor encontrou quem lhe desse um bordão. No entanto, nos dias que correm, para os professores só há bordoada.
Reparem que, no caso do 'velho professor', até lhe foi melhorada a visão, talvez para poder ver que os tempos dos mais novos não andam de feição. 

11.5.19

Às arrecuas, a União europeia

O federalismo
Formação_federalismo

Viriato Soromenho-Marques, Portugal na Queda da Europa, Temas e Debates, Círculo de Leitores, p.349:

«No domínio conceptual encontramos a raiz da objeção contra o federalismo efetuada em nome do privilégio da homogeneidade, sob todas as suas formas. Na verdade, ela abriga-se, não num conceito, mas sim num preconceito, que poderemos designar como uma metafísica naturalista da identidade política.» 

Nestas eleições para o Parlamento Europeu, como só me interessam as invisíveis propostas federalistas, sinto-me incapaz de avaliar o que se está a passar em diversos países… até porque não me é dada a possibilidade de votar numa proposta transnacional… 
Resta-me voltar a ler Kant e procurar compreender porque é estou a andar ao contrário.


10.5.19

Inaudíveis, as palavras

Quando as vias respiratórias superiores claudicam, as palavras tornam-se inaudíveis. Do outro lado, alguma compreensão, embora, em certos casos, predomine a indiferença e até um certo desafio…
Hoje, no entanto, vi-me confrontado com alguma amargura, porque os poetas (os escritores) parece que desconhecem a alegria: é só tristeza, dor, pequenez…
Apesar do dia não ser o mais alegre, lá fui explicando que a poesia ou é  narcisista ou lacrimejante - celebra a glória pessoal e coletiva; celebra a perda…
Na literatura portuguesa predomina um sentimento de perda (de impotência individual e nacional) ou, então, de nostalgia mais ou menos infantil, mais ou menos patrioteira…
E daqui não saímos, nem mesmo quando nos oferecem bilhete para construir uma outra europa -federalista e solidária…
Quando as palavras se tornam inaudíveis, há que desconfiar das reticências.   

9.5.19

Notas sobre a história da pontuação

C’est au IIe siècle av. J.-C. que l’on estime la naissance de la ponctuation grâce à Aristophane de Byzance (257- vers 180), alors conservateur à la bibliothèque d’Alexandrie, qui utilisa un système de trois points pour couper les phrases : le « point parfait », positionné après la dernière lettre, en hauteur, indiquait que le sens de la phrase était complet ; le « point médian », situé à mi-hauteur, avait la fonction de notre point-virgule actuel ; quant au « sous-point », placé à l’extrémité inférieure d’un mot, il faisait office de point final. On retrouve d’ailleurs dans ce système de points l’étymologie du mot « ponctuation », du latin punctus qui signifie « point ». A história da pontuação
Au Moyen Âge, Gasparino Barzizza, (1370-1431), rédige le premier traité de ponctuation, La Doctrina punctandi.
La ponctuation s’est surtout développée avec l’apparition de l’imprimerie (vers 1440). Goeffroy Tory (1480-1533), par exemple, invente l’apostrophe et le point crochu qu'Étienne Dolet (1509-1546) renomme « virgule » dans son ouvrage Traité de la ponctuation de la langue françoise plus des accents d’ycelle. La Renaissance est également l’époque où l’on invente les signes diacritiques (comme la cédille et les accents). Les signes de ponctuation tels que nous les connaissons sont des apports successifs liés à l’essor de l’imprimerie. Ils seront pleinement organisés à partir du XVIIIe siècle. Dans l’article Ponctuation  de L’Encyclopédie, Nicolas Beauzée défend avec force l’intérêt de la ponctuation. Il la règle sur les besoins de la respiration.
No início do século XV, o ponto, a vírgula e os dois pontos tornaram-se frequentes. No século XVI, surgem as maiúsculas, a apóstrofe e o ponto de exclamação.
No entanto, até ao século XVIII, a pontuação só tem o valor de «respiração». A partir dos finais do século XVIII, a pontuação passa a ter uma função gramatical - ela influencia o sentido da frase.
No século XX, a utilização da pontuação é regulamentada, apesar de todo o tipo de transgressões.

Le XXIe siècle et l’apogée de l’Internet ont vu la ponctuation se métamorphoser ; les smileys et le langage SMS apportent des éléments nouveaux, propres à l’époque dans laquelle nous vivons