8.6.09

Falsa surpresa…

Ao visitar o passado, deixo-me surpreender com as histórias que me contam sobre comportamentos antigos de protagonistas do presente. Começo a acreditar em Alfred Adler, discípulo de Freud, que defendia que dificilmente conseguimos alterar o nosso estilo de vida. Creio que Alfred Adler argumentava, perante a dimensão da maldade humana, que aos cinco anos de idade o nosso futuro já está traçado.

Há anos que arrumei o Alfred Adler na estante, um pouco zangado com a descrença dele no poder da educação… e, sobretudo, com a legitimação da irresponsabilidade do ser humano. No essencial, a educação só servia quem estava disponível para a acolher. Os outros, os rebeldes, mesmo que superiormente inteligentes, estavam-se borrifando para o esforço dos mestres…

Hoje, o J.M. contou-me umas histórias com cerca de 20 anos sobre uns conhecidos nossos que me obrigaram a relembrar o Alfred Adler. No essencial, trata-se da história de alguém (no plural) que tendo um dever para cumprir o olvida reiteradamente, de alguém capaz, para proteger os seus correligionários, de desrespeitar o princípio da equidade…

Se ao longo de todos estes anos eu tivesse sido fiel a Alfred Adler, hoje não teria sido surpreendido.

No entanto, tal como ainda não será hoje que vou verificar se a ideia que atribui a Alfred Adler é, de facto dele, também a surpresa confessada não passa de uma falácia… Entretanto, este meu suposto mestre, envergonhado, escondeu-se de mim…

 

7.6.09

A obstinação autista...

A obstinação autista não tem futuro. Infelizmente, a oposição já começou a deitar as garras de fora. Perante os que não sairam de casa, os eleitos cantam vitória, apesar de não passar de uma vitória de Pirro.
Um país em que mais de 60% dos cidadãos não vota, é um país que não tem futuro. E o mesmo se deve dizer da União Europeia. O novo mapa político europeu é ainda mais gravoso que o anterior.
Se o PS percebesse a mensagem do dia de hoje, apresentava a demissão amanhã: substituia o choque tecnológico pelo choque eleitoral. Mas não. Vai apostar no papão da ingovernabilidade. Os comentadores já estão no terreno!
O país continuará a perder!
A vingança e a inveja ganham terreno.

6.6.09

Dia de reflexão...

No CARUMA reflecte-se quase sempre e, hoje, fiquei sem tema porque devo fazê-lo silenciosamente, sem dizer nada a ninguém. O voto é secreto!
Arrisco, todavia, o seguinte: Hoje, que ameaça chover, há quem durma até mais tarde; há quem tenha decidido que não vale a pena ir à praia; há quem fique à espera do Albânia-Portugal e que, caso Portugal ganhe, se sinta definitivamente vingado das tropelias de que tem sido vítima nos últimos anos. E esqueceremos, por instantes, a crise - as causas da decadência...
Dá jeito esquecer, não pensar na nossa responsabilidade: quantas vezes não fomos frontais! quantas vezes adiámos decisões antipáticas! quantas vezes mergulhámos na ambiguidade!, quantas vezes preferimos o compadrio! quantas vezes minámos o trabalho alheio! quantas vezes cavalgámos os pequenos poderes (prazeres)! quantas vezes! quantas vezes...
Depois deste tempo de silêncio (meditação), seria de esperar que, na próxima 2ª feira, o céu surgisse limpo... No entanto, as promessas são de chuva - talvez Portugal tenha ganho à Albânia! Quanto ao resto, não sei. Ou talvez saiba e não queira dizer. Para quê responder a perguntas que nunca me chegarão a ser formuladas!
O medo que nós temos de fazer perguntas resulta de nos recusarmos a ouvir as respostas. E ninguém quer ir além de si próprio! Temos medo do outro e, embora não o queiramos confessar, suspendemos a palavra...

5.6.09

Numa guerra aberta aos ortopoemas

Arménio Vieira (Arménio Adroaldo Vieira e Silva) acaba de ganhar o Prémio Camões 2009. Nasceu na cidade da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde, a 29.1.1941.

A escolha não deixa de ser surpreendente. Para assinalar a polémica opção do Júri, presidido pela professora Helena Buescu, transcrevo a seguinte promessa de mudança de poética (Poesias, 1984):

Prefácio a um livro futuro

Em Dezembro reparei na ortografia

Da velha poesia utilitária

E vi que em Janeiro

Podia começar a dispor as pedras do alfabeto

Em sentido oposto ao que até aí

Não ultrapassa os limites

De uma nojenta gastronomia poética

Risquei de A a Z os versos úteis

E, numa guerra aberta aos ortopoemas,

Decidi que ser poeta a sério

Implicava uma espécie de suicídio

Sobre os meus poemas transitivos

Tracei uma grande cruz vermelha.

2.6.09

Por cá...

De manhã, acossado, recusei um precipitado abaixo-assinado. Recuso sempre... a solidariedade, para mim, manifesta-se de outro modo. Já não espero compreensão!
A meio da manhã, recomendei a leitura das Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, de Antero de Quental. Há 35 anos que faço esta recomendação, sem grande sucesso. Mas continuo...
À tarde, procurei impedir que a fogueira alastrasse. Procuro sempre, desde o dia em que pirómano improvisado me transformei em bombeiro forçado... já lá vão 48 anos.
Mediador desempregado, respondi a um impulso... e na Culturgest, às 18:30 horas, José Afonso Furtado salvou-me o dia. A sua palestra sobre A longa história do livro foi clara, bem ilustrada e ajudou-me a compreender quanto a Contra-Reforma continua a condicionar o desenvolvimento dos povos do Sul da Europa.
Objectivamente, terei de dizer que José Furtado falou da passagem da leitura intensiva da Bíblia (em língua vulgar) à leitura extensiva nos países do norte da Europa. Por cá, entretanto, impera(va) o analfabetismo e o dogmatismo.

1.6.09

Os novos corifeus

Os professores avaliadores devem fazer uma nova formação de médio ou longo prazo ao nível do ensino superior. Esta é a recomendação do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores (CCAP) que considera que, actualmente, muitos não possuem experiência, competência nem perfil para avaliar os colegas, como prevê o modelo de avaliação. O relatório deste órgão consultivo do Ministério da Educação será apresentado à tutela nos próximos dias.

Quem é que definiu o perfil destes conselheiros? Onde é que adquiriram a competência e a experiência necessárias para elaborar um relatório? O que é que significa, na boca destes corifeus, formação de médio ou longo prazo? Por este andar, acabamos por fazer tábua rasa de todas as aprendizagens efectuadas ao longo da vida e, quais castas virgens, voltamos aos bancos das Universidades para lhes taparmos os buracos do orçamento… A estratégia é sempre a mesma: em vez de identificar os recursos humanos disponíveis para as várias missões, desvalorizamos o trabalho realizado e adiamos o país…

30.5.09

O fueiro…

Há tempos que me interrogo sobre o papel da ética nas sociedades actuais. Da minha experiência, ressalta a ideia de que o egoísmo individual ou de grupo faz tábua rasa dos valores que deveriam pautar o comportamento do ser humano.

Registo, a cada dia que passa, provas de intolerância e, sobretudo, de oportunismo boçal, embora os protagonistas pareçam agir em nome de maiorias e de valores respeitáveis. Há, no entanto, nestes comportamentos um traço comum: desprezo por qualquer lei que introduza os princípios do rigor, da responsabilidade e, da consequente prestação de contas num quadro hierárquico.

A estratificação é naturalmente má! Mas, ao contrário dos anos 60 do século XX, estes novos libertários não descansam enquanto não ocupam o topo das demoníacas e desprezíveis hierarquias.

Se os meus olhos tivessem a coragem de subir a página, descobririam, de imediato, que a disposição das palavras obedece a regras cuja observância parece natural… Porém, se os meus olhos se acobardarem, sentir-me-ei mais próximo do discurso pré-verbal e capaz de compreender o fueiro paterno…

Há quem nunca tenha sentido o efeito dum fueiro nem saiba do que se trata, apesar das chispas dos seus olhos mo enterrarem pelas costas abaixo…