17.7.09

Inaceitável…

Independentemente das vicissitudes da aplicação do modelo de avaliação  do desempenho, não é aceitável que na Administração Pública haja um grupo um grupo significatvo de funcionários que, a 31 de Dezembro de 2009, não tenham sido avaliados.

Não é aceitável que, no Ministério da Educação, a diferenciação entre docentes possa ser estabelecida pelas fórmulas de cálculo utilizadas. A última aplicação informática (ver Ficha VII) altera  a classificação final atribuída ao docente, se utilizada… e, por outro lado, dificulta a tarefa da Comissão de Coordenação de Avaliação ao aplicar as quotas.

Não é aceitável que a OCDE ao elaborar o estudo sobre a “Avaliação de Professores em Portugal” tenha ignorado, por inteiro, o papel atribuído aos Centros de Formação…

Não é aceitável que, no referido relatório, o perfil do avaliador interno seja mais exigente do que o do avaliador externo. E também não é aceitável que se queira  apostar em lideranças pedagógicas fortes, quando no processo de selecção e de nomeação esse requisito é desprezado…

E também não é aceitável que ao «atribuir um papel proeminente à Inspecção Geral de Educação», nada seja dito sobre o perfil dos inspectores que descerão ao “terreno”…

E não é aceitável que haja ajustamentos diários, ao sabor dos caprichos políticos, sindicais e de lideranças mais ou menos bem formadas…

Os docentes necessitam de alguma paz de espírito para levar a cabo a razão da sua existência: ensinar a aprender – educar, no sentido nobre do termo…

E tudo o que tem acontecido nestes últimos anos evidencia uma enorme falta de educação!

14.7.09

A resposta…

Finalmente, deixei de ser presidente de um Conselho Pedagógico. E já é a 2ª vez que isto me acontece. Nas palavras simpáticas de colegas de jornada e da nova Direcção: cumpri. Mas cumpri o quê? Será que a Escola se tornou mais participativa?

A resposta será dada em Setembro / Outubro. Se a Escola conseguir executar o programa de celebração dos 100 anos do edifício tendo como dinamizadores (e participantes) os seus professores e os seus alunos, então, poderei dizer: cumpri.

O programa comemorativo e plano anual de actividades devem  fundir-se num documento único (projecto) que convoque o passado e o presente com o olhar no futuro, que provoque o encontro dos antigos alunos e dos antigos professores com os actuais… Dessa mobilização poderá resultar o reforço da consciência identitária…

Num tempo em que cada vez mais se aposta no “homem tecnológico”, dimensão, sem dúvida, imprescindível, a ESCamões ainda está em condições de apostar no “homem humanista”. Se quisermos…

12.7.09

Não há sombra de…

Hoje, li uma dúzia de actas… na demanda de um balanço que acaba por ser ele próprio um constrangimento.  Detrás da enunciação o dispêndio do tempo, da vida, ergue-se sorrateiramente: - Tanto tempo para nada!?  Uma lista interminável de actos preenche o vazio da folha, dá-lhe vida. E a mim, traz-me cansaço, perturbação: – Devo ser simpático? Arrasador? Sentir-me gratificado? Traído?…

As respostas deixam de me interessar, e entro por outras páginas. Páginas de cumplicidade de Mário Sá Carneiro e de Ponce de Leão, autores de “A Alma”, onde esbarro na personagem Jorge que responde a Martim: «Nada que é tudo. / E é tudo porque a vida é constituída afinal por uma série de nadas. E logo o Ulisses de Fernando Pessoa me acena : O mito é o nada que é tudo.

E fito nas galerias do Liceu Camões, três vultos que fogem da sala 41, descem precipitamente a escada, e correm para o Clube Estefânia porque não podem perder a primeira temporada da Sociedade de Amadores Dramáticos: Sá-Carneiro, Ponce de Leão e Tomás Cabreira Júnior.

No balanço de 2008/2009, não há sombra nem de AMIZADE (1912) nem de A ALMA (1913). E é pena!

11.7.09

Amanhã, é tarde!

O pedagogo Raul Guerreiro, do Conselho Federal Parental Waldorf, na Alemanha, publicou um artigo na Revista Ibero-Americana de Educación em que dá o Magalhães como exemplo dos "perigos da robotização da educação". No ensaio, o investigador diz que a iniciativa, "anunciada como 'Revolução para a Educação em Portugal" reduz-se a "uma jogada promocional para acompanhar um big business internacional", e cita estudos que apontam riscos do uso de computadores na primeira infância.

Não sei (ou talvez não queira) determinar os riscos do uso de computadores na primeira infância, na adolescência ou na vida adulta. Sei, no entanto, que o Ministério da Educação faz tudo às avessas: primeiro, distribui os computadores aos alunos e, depois, exige que os professores façam prova das suas competências digitais (portaria nº 731/2009, de 7 de Julho). Há muito que o M. E. deveria ter definido e lançado um programa de formação de professores, tornando obrigatória a dimensão digital. Qual é a entidade formadora de professores deste país que aborda, de forma integrada, a dimensão conteudística com a dimensão digital?

Por outro lado, de nada serve o computador ou a competência digital docente, se as nossas escolas continuam sem as infraestruturas adequadas, correndo-se mesmo o risco de um aluno, no ensino básico, aprender a utilizar as ferramentas informáticas e, posteriormente, ao chegar ao ensino secundário, descobrir que a escola não disponibiliza de forma generalizada acesso à internet nem os professores recorrem aos computadores nos processos de ensino e aprendizagem. No fundo, este aluno terá que regressar à escola dos avós!

Não é que o M.E. não saiba que estes problemas existem. Sabe. Só que as soluções não obedecem a um programa de acção bem hierarquizado, que deverá dar prioridade à formação de professores (e não formadores!) e à resolução dos problemas concretos de cada escola (o M.E. não conhece as suas escolas!), em vez de apostar na propaganda, na culpabilização de pais e docentes, e, sobretudo, em despesas faraónicas (parque escolar) que, face ao fracasso  das duas prioridades apontadas, só servirá para endividar o país e engordar uns tantos…

A educação só vale a pena se for para Hoje. Amanhã, é tarde.

7.7.09

Palimpsesto falhado…

Espero que me desculpem a impropriedade… Como o “post” intitulado O Auditório não ficou gravado em pergaminho, perdi-lhe o rasto…, deixando involuntariamento o comentário do amigo A.S. acoplado a Um voto de confiança.

Um voto de confiança…

Afinal, ainda não é desta que me poderei diluir na paisagem. Creio que Freud me terá ensinado que na abordagem dos fenómenos a evidência nem sempre é segura. Todas as coisas humanas têm duas faces: a manifesta e a latente.

De manhã, estava convencido que a decisão seria primária, determinada pela evidência recente. Afinal o que estava latente era bem diferente: o desejo de consenso, de conciliação, de diálogo – de mediação.

(E eu que já me esquecera que há uma dúzia de anos fui certificado como mediador cultural!)

3.7.09

Um par de cornos...

O gesto marialva do Manuel Pinho resume a ambivalência do génio português. Sempre que damos um passo, desnudamos a rectaguarda. E porquê?

Porque prezamos a hipocrisia: Rimos a bandeiras despregadas do gesto e castigamos o bobo… Ora, se esta nação fosse sábia, o bobo, em vez de ser sacrificado, seria protegido…

Sócrates revelou mais uma vez que não é um homem de Estado. Não lhe faltaram, nestes quatro anos, motivos sérios para demitir ministros… No entanto, sempre que optou pela demissão de algum deles, fê-lo para agradar à plateia.

Uma plateia alarve para quem 100 mil professores na rua valem menos do que um par de bandarilhas…

De facto, a Sócrates falta capacidade para acompanhar e analisar o trabalho dos seus ministros, vendo, por exemplo, que nos Ministérios da Educação, da Agricultura e da Justiça há equipas de burocratas que, ao criarem permanente desregulação, sabotam permanentemente os objectivos das necessárias reformas. Prefere a arena (o palco) e, assim, expõe a sua enorme fragilidade…