6.9.09

Cobrindo a Megera, de olho na fera

Cobrindo a Megera, de olho na fera, peça deteatro infantil de rua ,  apresentada no Centro Cívico de Carnaxide, aborda de forma didáctica, mas extremamente divertida, o problema das doenças sexualmente transmissíveis (DTS)... Uma forma de abordar o problema da SIDA,  de modo simples e eficaz.
No entanto, apesar de o público nada pagar, naquela tarde de Domingo, às 18 horas, a maioria dos presentes no Centro Cívico preferiu ficar sentada nas esplanadas adjacentes, à espera do Dinamarca-Portugal. E nem sequer se pode argumentar que os espectáculos eram inconciliáveis! 

4.9.09

Intenções vs propostas

Há em Portugal tantos problemas que exigem resolução imediata ou, pelo menos, que necessitam de análise cuidada para que as soluções não sejam indefinidamente adiadas, e nós o que fazemos?

- Sentimo-nos asfixiados na nossa liberdade porque finalmente alguém teve a coragem de pôr termo à desinformação permanente, ao insulto e à arrogância de 2 ou 3 desbocados… ( em nome da liberdade de expressão! Mas, afinal, o que é a liberdade?)

- Desenhamos paulatinamente a árvore genealógica do chefe democraticamente eleito para, no momento certo, atirarmos para a opinião pública (o eleitorado, no caso) mais um ramo podre… Se o chefe é culpado de algum delito, porque é que não é feita prova? Não deve ser falta de empenhamento dos investigadores! Uma qualquer investigação não pode levar tanto tempo!

- Procuramos os melhores argumentos jurídicos para, no caso do povo oferecer uma maioria absoluta a Sócrates ou a Leite, podermos democraticamente impugnar as decisões do Governo… Que o povo vote, não abdique do seu direito desde que o faça a nosso contento! Cada vez mais as minorias silenciam as maiorias. Tudo porque às minorias não falta a convicção…

Não seria preferível, os candidatos à governação deste triste país apresentarem as suas propostas, debatendo-as à exaustação, para que o povo possa escolher?

Continuo sem saber quais são as propostas dos candidatos, por exemplo, nos domínios da educação e da justiça, sectores fundamentais para a resolução da maioria dos problemas nacionais. E quando refiro propostas não me estou a referir a intenções simpáticas e vagas.

3.9.09

The Fountainhead, 1949

Bénard da Costa na recensão que fez do filme The Fountainhead (Vontade Indómita) escreve: «E explica (King Vidor) que foi ao tempo da filmagem de The Fountainhead  que leu a obra de Jung e que os problemas do auto-reconhecimento, da dignidade interior e do poder e da divindade que cada homem traz em si se lhe impuseram 'If you can't find God in the expression of man, then where do you find it?'»
O arquitecto Howard Roark, inspirado no célebre arquitecto americano Frank Lloy Wright, representa todos aqueles que nascem para acrescentar ao mundo algo de  novo, insubmissos ao gosto e ao mando dos poderosos ou das turbas.
No meio da actual luta política, é bem mais fácil descobrir mil Gay Wynand / Peter Keating ( símbolo do poder dos media, das corporações, em suma do dirigismo das consciências) do que um Howard Roark. Porque será?
Este filme estreou em Portugal a 17 de Abril de 1950 e algo me diz que ele terá ajudado Vergílio Ferreira a enquistar-se contra a literatura oficial do Estado Novo, e sobretudo contra o neo-realismo português.

2.9.09

Ser claro...

Sócrates admite que errou na questão dos professores. Leite quer rever o estatuto da carreira docente. Os restantes pura e simplesmente revogam tudo. Compreende-se a posição do CDS, do PC e do BE - a chefia do governo não passa de uma miragem.
Até aqui, tudo bem. Mas o que é que Sócrates e Leite propõem para que os eleitores possam escolher?
NADA. Adiam a resposta na esperança de, embolsado o voto, fazerem o que lhes der na gana. 
É, agora, que precisamos de respostas claras para que a contestação não desça à rua já em Novembro... até porque, neste país, há quem não saiba fazer mais nada.

31.8.09

A oliveira

                                                                               Quantos anos terá esta oliveira? Apesar da doença que a esventra, persiste hirta e pronta a recomeçar a cada momento... e dá fruto a quem o quiser colher. Conheço-a há mais de 50 anos, no entanto ela parece indiferente à minha presença, um pouco como o elefante ignora a formiga...
A oliveira não avança nem cai, a oliveira cresce e permanece. Mesmo que água lhe falte por uns tempos, a oliveira nutre-se da seiva milenar que gera a vida.
Não conheço os pensamentos da oliveira, mas já percebi que ela não se deixa afectar pela propaganda nem tem qualquer tipo de inveja das minúsculas filhas que se deixaram europeizar.
À oliveira ninguém pede para votar, mas se isso acontecesse ela votaria no arco-íris...

30.8.09

Saramago, o cornaca

«A História é uma tola.
Eu não posso abrir um livro de História, que me não ria. Sobretudo as ponderações e adivinhações dos historiadores acho-as de um cómico irresistível. O que sabem eles das causas, dos motivos, do valor e importância de quase todos os factos que recontam?»
Almeida Garrett, Viagens na minha Terra
Saramago, tal como Garrett, reivindica para o romancista o privilégio de estar do lado da verdade, desde que esta dê a devida atenção ao povo. Ao escritor, iluminado, cabe o mesmo papel que ao cornaca. Montado no cachaço do elefante, o escritor, ora de fato vistoso ora imundo, conduz o povo, não a Santarém ou a Viena, mas ao cinismo e ao cepticismo. A ironia e, sobretudo, a paródia prazenteira dos valores dominantes encarregam-se de nos libertar do peso da História.
No final da leitura, fiquei como a Dona Catarina, ao tomar conhecimento da morte do elefante, Não quis saber, embora não tenha desatado a chorar…
Agora, refeito do impacto, parece-me que Saramago ficou a ganhar a Garrett. Pelo menos por uns tempos, o Ministério da Educação pode declarar A Viagem do Elefante como leitura obrigatória, pois não correrá o risco de cansar os alunos com erudição (desnecessária!), seja ela histórica, política, económica, filosófica, geográfica, literária… Afinal, quem é que tem estômago para ler As Viagens na minha Terra?
« No fundo, há que reconhecer que a história não é apenas selectiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da pura realidade. Em verdade vos direi, em verdade vos digo que vale mais ser romancista, ficcionista, mentiroso.»
José Saramago, A Viagem do Elefante
Quanto mais leio Saramago mais me convenço que se ninguém tivesse inventado os milagres, ele estaria no desemprego! Quanto à História, bem sabemos que o espírito do «revolucionário” é reescrevê-la, ou, em alternativa, queimá-la. E quanto à Geografia, não vale a pena esforçarmo-nos, o santo GPS resolve! E finalmente, sobre os clercs não deixa de ser curiosa a nota (solta) na página 227: «Estas observações talvez venham a ser consideradas desnecessárias pelos leitores mais interessados na dinâmica do texto que em manifestações pretensamente solidárias…»
Ora em termos de dinâmica do texto, fiquei finalmente a compreender a gramática do autor: utiliza a mesmo do seu ilustríssimo antepassado: «tão rápido como santo antónio quando usou a quarta dimensão para ir a lisboa salvar o pai da forca.»
E a propósito, em nome de tratamento igual e solidário, é mesmo necessário eliminar os nomes próprios?
Para terminar, e de acordo com a profunda reflexão de Saramago de que não é possível descrever uma paisagem com palavras, deixo aqui uma foto por identificar, assegurando que não se trata do mar das rosas, a norte de Barcelona.

24.8.09

CEDDO

Ontem, vi o filme CEDDO (1977) de Ousbane Sembene (Senegal, 1923-2007). CEDDO documenta o processo de colonização islâmica de um reino africano. Em nome do Corão, o imã vai ao ponto de desapossar o rei do seu título, pois o termo "rei" só poderia ser atribuído a Alá, tal como proíbe qualquer ícone e ídolo. O processo de colonização recorre à eliminação de todos os sinais de identidade do grupo e do indivíduo, terminando numa guerra santa (jiad)...
O filme tornou-se me interessante porque a literatura (e o cinema) que conheço raramente abordam o papel do Islão na destruição das tradições africanas. Neste filme, curiosamente o padre, representante da colonização cristã católica, não passa de um lunático sem tropas, completamente ignorado, apesar de ser colocado no mesmo plano do comerciante europeu, mais ou menos anglo-saxónico, cujo papel é vender álcool (proibido pelo imã) e armas...
De certo modo, Ousbane Sembene documenta a história da colonização: 1º Cristo, depois Maomé que mantém o seu domínio até hoje, apesar da resistência, sobretudo, feminina. De facto, a mulher africana, na maioria dos países continua a ser a maior vítima da colonização islâmica... No essencial, ficou-me a pergunta: - O que é que é mais importante o ser humano ou a religião?