8.12.11

Olhar distorcido

Estará a realidade distorcida ou sou eu que a vejo distorcida? Doravante, a dúvida fará parte da minha abordagem do quotidiano. Do quotidiano mesmo e já não da vida! O todo esgarça-se nos detalhes e o esforço para os reunir cansa até a percepção se diluir em sons sobrepostos que enlouquecem.

Terá a catedral ganho uma nova fachada ou apenas terá sido escondida por um arquiteto agnóstico?

Se os sinos tocassem, as vidraças deveriam estilhaçar-se!

7.12.11

“A dívida dos pequenos países é eterna.”

Afinal, Sócrates sabia o que fazia! Aprendera que os países não devem pagar as dívidas. Quem lho terá ensinado? – Os professores, certamente!

Assim se vê que um sistema educativo permissivo dá muito maus frutos. E há por aí tantos alunos mal aconselhados!

5.12.11

Sugestão…

Este ano, espero que o senhor presidente Cavaco promova a apanha dos cogumelos que certamente crescem nos jardins de Belém para que nenhum filho dos funcionários do Palácio fique sem uma prenda de Natal.

Ouvi-lo queixar-se da austeridade palaciana incomoda-me porque, de imediato, me faz pensar na tristeza da dona Maria que, apesar dos seus presépios, não difere muito da da minha avó Vitória que, para oferecer um rebuçado aos netos, tinha que consultar o marido e senhor.

Com um pouco de sorte, este ano, se seguir o meu conselho, o senhor presidente ainda poderá mandar servir uma sopinha de cogumelos. Porque para o ano…

3.12.11

Se me sentasse naquele banco…

Se me sentasse naquele banco, ficaria de costas para o lugar onde, dizem, vi a luz do dia. Considerando o tempo já passado, a disposição é a mais adequada, pois esse tempo está cada vez mais distante. O lugar ali está, embora desativado… Já ninguém ali nasce! Nem sei mesmo onde é que hoje é suposto nascer! E sobretudo que eu saiba ninguém ali segue a regra do Carmo

Sintomaticamente, se me sentasse naquele banco, continuaria a ver, como no primeiro dia, o quartel cuja origem remonta a 1806, o Regimento de Cavalaria nº 3, também ele desativado…

Embora, por segundos, tivesse pensado em subir a rampa e sentar-me ali de costas para o tempo já passado, não o fiz, não fosse a cavalaria carregar sobre mim.

Mas, deveras, o banco, em frente da igreja do Carmo, lembra-me um certo tempo de austeridade, de trabalho e de silêncio e tão intensa é essa presença que já não estou certo que aquele banco esteja de costas para o tempo já passado…

1.12.11

O feriado do 1º de Dezembro

Um estado laico e soberano jamais abdicaria de um feriado cujo simbolismo é identitário. Farisaicamente, o mesmo estado cede à Igreja Católica o 8 de Dezembro, como se todos os portugueses prestassem culto à padroeira bragantina…

O estado laico não deveria imiscuir-se nas questões de fé, favorecendo uma igreja e tolerando ou ignorando as restantes.

Ao estado, apenas, compete definir os feriados que celebrem os momentos (re)fundadores da nação. E eles não são assim tantos!

30.11.11

O polvo democrático…


A 30 de novembro de 2011, o polvo democrático aprovou o orçamento de estado mais anti-democrático da democracia. E com esta aprovação, CDS, PSD e PS abriram a porta ao desinvestimento e à insubordinação individual e coletiva.
Ao longo de 37 anos, o polvo democrático, acolitado autarquicamente pelo partido comunista, partilhou a clientela partidária, inventando um país de abril à medida da sua avidez e da sua ignorância – um país postiço que, agora, é posto a ferros…
37 anos depois de abril, o polvo democrático, mestre do disfarce, mas incapaz de se libertar dos tentáculos, prefere saltar sobre a presa, sugando-lhe a medula e deitando fora o esqueleto.

29.11.11

A metáfora do muro…



A propósito das “Crónicas de Tempos Vagos” de António Souto, dou comigo a passear pelo blog “Floresta do Sul” de António Manuel Venda que ali sacrifica aos deuses que conseguem preencher o tempo sem levantar muros, visíveis ou invisíveis. 
Ao mesmo tempo, ainda oiço a magnífica lição de José Jorge Letria, para quem os muros são mais uma construção do leitor do que do autor. E entre ambos, surge a brecha que nos permite passar através do muro, isto é, nos permite comunicar. E recordo “O Silêncio” de Sophia (ou seria de Mónica?) que lhe permite despertar para uma realidade ensurdecedora.
Hoje, no Auditório “Camões”, apesar da sapiência dos autores, o muro esteve vezes demais do lado dos destinatários. Esperemos, no entanto, que a iniciativa sirva para abrir mais uma fenda…