8.8.12

Dos que furtam com unhas invisíveis

Tela praevisa minus nocent.
A lição é de S.Jerónimo e vem citada na ARTE de FURTAR.
No essencial, significa que temos que aprender a ver o mal antes que ele nos prejudique. O caso é que a TMN insiste em cobrar todos os dias 1,07 euros, mesmo depois de ter procedido à alteração da relação contratual e de ter assegurado ao cliente que, num prazo de 24 horas, lhe iria desligar o acesso à internet.
O objetivo do cliente era reduzir custos, mas a TMN, com unhas invisíveis, insiste em aumentar-lhos.
Quantos cidadãos são diariamente presa destas unhas invisíveis?
 
24.03.2013
A Arte de Furtar é das poucas obras que não corre o risco de ficar obsoleta. Ainda na última semana, a União Europeia e o FMI institucionalizaram a rapina eletrónica. Vai-se à conta bancária do cliente e subtraem-se 20%! Dizem que acima de 100 mil euros..., em Chipre. No futuro, tudo é possível!
   

6.8.12

Não são os coveiros…

«Não sãos os coveiros que nos matam. Simplesmente estão lá quando morremos.» Mafalda Ivo Cruz, Mil Folhas, 26 de Janeiro de 2001, PÚBLICO

O registo fotográfico não deixa de impressionar pelo fulgor do volume e da cor da pedra. Porém, passado o deslumbramento, fica por perceber por que motivo, ao longo dos séculos, se insistiu no transporte da pedra para um lugar onde a areia  cedo começou a escassear. A exuberância dos edifícios esconde a míngua do homem comum e a vaidade dos governantes.

E passando do coletivo ao individual, nada difere: o egoísmo (ou a cegueira?) de uns leva-nos, de súbita morte, à cova. Passada a surpresa, só o coveiro se empenha momentaneamente em esconder-nos dos vivos…

5.8.12

O fotógrafo

«O etnólogo em exercício é o que se encontra em qualquer parte e que descreve o que observa ou o que ouve nesse mesmo momento.» Marc Augé, Não-Lugares

O fotógrafo é, assim, um etnólogo involuntário. Captura, num momento, linhas de tempo distintas, formas circulares, verticais e horizontais. Captura o grupo e a individualidade, a luz e a sombra…

… e deixa o Infante a enxergar o lado errado da missão, ao contrário do ciclista que segue confiante, mesmo que, amanhã, caia no desemprego.

Mas esse detalhe pouco importa ao etnólogo!

/MCG

3.8.12

Ao mudar a cor


Não aprendo / esqueço. Sombra de mim próprio / rasgo o passado.// Ao mudar a cor /o pavão imagina-se loureiro./

1.8.12

O narcisismo da voz

Cada vez que morre um comunicador, há logo quem afiance que a sua voz ficará para sempre. Não valeria a pena exemplificar se, de facto, isso fosse verdade. Por exemplo, quantos reconhecem hoje a voz de Vitorino Nemésio?

Embora existam registos audiovisuais dessa voz, ninguém sente necessidade de os divulgar. Porquê? Provavelmente pela natureza da mensagem! Do fascínio de outrora pouco resta, talvez porque a eloquência nos impeça de ver a obra.

Todavia, de Cristo ou de Maomé nem rosto nem voz, mas isso não impede que a mensagem continue a incendiar a terra.

Só um narcisista se atreve a enunciar a elocução “Para sempre!

/MCG

30.7.12

O texto e a imagem

Quando a sociedade se corrompe / corrompe-se primeiro a linguagem.” Ruy Belo

De acordo com Antoine Compagnon, a cultura literária entrou em declínio, embora não se saiba se se trata de um fenómeno irreversível. A Literatura (As Belas Letras), na perspetiva de Eduardo Prado Coelho (2000), teve o seu apogeu associado ao reforço da ideia de consciência nacional e, consequentemente, à valorização da língua materna.

Algumas das ideias, fundamentadas nas teorias de Derrida e de José Afonso Furtado, são de plena atualidade, nomeadamente, quando EPC afirma: « a média dos alunos é cada vez mais fraca, mas os bons alunos são alunos excecionais – aqueles são perigo, estes a oportunidade.» 

Hoje, a globalização, ao diluir as fronteiras, dilui as literaturas e a língua em que a consciência nacional se inscrevia e, por outro lado, a imagem substitui o texto literário, procurando o prazer instantâneo do reconhecimento, mesmo que virtual. 

28.7.12

O fazedor…


O que não se pode é tocar o sino e ao mesmo tempo ir na procissão. Camilo José Cela
Apesar de ter adormecido acomodado à ideia, ao acordar, apercebi-me que há quem tenha o dom da desmultiplicação – o fazedor.

Eu que, outrora, tive o ofício de sineiro, sentia-me aliviado por não ter de marchar alinhado e aprumado e, ao mesmo tempo, sentia-me excluído do rebanho.

Faltava-me essa qualidade, hoje, muito abundante,  que é a de fazedor!