16.12.12

E agora queixam-se!


Se olhar atentamente as imagens, vejo um rio que perdeu o valor económico que anteriormente o dignificava. Dele só restam artefactos e símbolos sobre o solo que outrora vivia submerso pelos esteiros.
Por detrás, esconde-se a igreja que das dores fazia riqueza espiritual para todos e material para uns tantos.
Embora não se oiça, sobre todos paira um primeiro-ministro que ameaça cortar nas pensões de todos porque uns tantos raramente trabalharam.
O problema é que a maioria sempre trabalhou e se não descontou é porque os governantes deste país pouco ou nada se preocuparam em reconhecer o valor do trabalho. E agora queixam-se!

15.12.12

Esburgo

Quando a ordem da TROIKA é cortar na despesa dos estados, estes voltam-se para os cidadãos e esburgam-nos por inteiro. É simples e rápido!
Só não contam com a resiliência dos indivíduos! Estes conseguem ir mais além: cortam até no próprio osso, deixando os estados sem capacidade de cobrar qualquer receita e afundando, em simultâneo, os malulos...
Claro, dos mortos, a História nada dirá! E os indivíduos ver-se-ão obrigados a desenhar nova cidadania.   

14.12.12

Cipaios e malulos

(Não é fácil compreender o leitor de blogues! No caso de caruma, há posts que são frequentemente visitados e outros que raramente o são. A atualidade da matéria parece não despertar mais interesse do que os registos de ocorrências efémeras.
Por outro lado, também não é fácil explicar o elevado número de visitas com origem, por exemplo, nos Estados Unidos ou na Rússia. Parece haver algures motores de busca por arrasto!)

A incongruência de tudo isto está no aparente desinteresse dos malulos por este meu blogue! Esse povo intrépido que no início do século XX tudo fazia para se apoderar da África austral! Esse povo tão matreiro que disputava com a Grã-Bretanha a posse dos territórios reivindicados pela Coroa / República portuguesa!

Há, no entanto, uma diferença significativa: apesar dos malulos não se interessarem pela caruma, eles interessam-se, de verdade, pelos aeroportos portugueses, até porque o cipaio de serviço não pára de bajular os  régulos alemães.

(Como todo o pensamento se constrói na linguagem, há ideias que só são possíveis se revisitarmos os signos dos tempos que insistimos em ignorar. E essa ignorância de nós faz escravos e cipaios!)

10.12.12

A Lua de Joana e a responsabilidade da narrativa

I- Enfim, longe de querer criticar  a autora da LUA DE JOANA, pois  a obra continua a ter boa receção,  há, todavia, uma constante que irrita: a responsabilidade é sempre dos outros - dos pais excessivamente ocupados com o trabalho, dos "dealers", das más companhias... Levando à letra o pensamento de Sartre, l'enfer ce sont les autres!... 
E quando se discute a tendência, os argumentos dos jovens viram-se sempre contra as opções dos pais - poderiam trabalhar menos horas, estar mais presentes, dialogar mais. Mas será verdade? É fácil pensar que o conforto cai do céu!, que as palavras seriam aceites!, que a simples proximidade é dissuasora!
E é este lado da narrativa que é preocupante: os jovens morrem de overdose porque querem experimentar o interdito ou porque se sentem desacompanhados? Os mesmos jovens que argumentam que é possível experimentar o veneno de forma controlada só para ver os caminhos trilhados pelos trágicos amigos... Defendem a responsabilidade da iniciativa, mas atiram para o outro a responsabilidade do desfecho... o pai, médico, que no fim lastima amargamente não ter estado presente é, certamente, o mesmo que esteve à cabeceira de muitas vítimas irresponsáveis!
A narrativa que seduz pode ser um veneno que corrói a mente das Luísas ou das Bovarys e dos adolescentes que, ano após ano, vão balançando nas "Luas de Joana"...
( O discurso sobre a responsabilidade deve libertar-se definitivamente do estigma da culpa!)

II - Quem diria que Sócrates iria voltar precisamente por causa da narrativa! E claro com a sua narrativa, contra a narrativa da direita: Cavaco, à cabeça; Passos e Gaspar, a seguir; José Seguro, finalmente. Este último, por omissão. O que significa que Sócrates nem sequer lhe reconhece que Seguro tenha narrativa... 

9.12.12

Às 18h25

Literatura Portuguesa


Ao registar a morte de Garrett, em 9 de dezembro de 1854, às 18:25 h:


(...) nessa hora - nessa mesma hora fatal em que se extinguia o legítimo herdeiro da lira de Camões - preparava-se talvez para ir despreocupadamente no seu camarote de São Carlos assistir desdenhosa e risonha, com aquele garbo senhoril que todos lhe reconheciam, assistir à representação de Sonnambula, — ataviava-se com sedas e veludos, recamava-se com guipures e rendas de Alençon, abrilhantava-se de adereços de pérolas e diamantes,envolvia-se em perfumes de inebriante sedução, a formosíssima inspiradora das Folhas Caídas, ingratamente esquecendo-se já do“divino” Poeta que nos seus amenos versos a imortalizara! (Cunha, 1909: 71)
- Rosa Montufar Barreiros era andaluza, de Cádiz, nascida em 1819, filha dos marqueses de Selva Alegre e mulher do oficial do exército Joaquim António Velez Barreiros. Este fez parte da expedição liberal que, vinda da ilha Terceira (Açores), desembarcou no Mindelo. Homem de confiança do duque de Saldanha e extremamente leal à rainha D. Maria II, recebeu o título de Barão de Nossa Senhora da Luz em 23 de janeiro de 1847, por decreto de D. Maria II, e o de Visconde em 16 de junho de 1854, por decreto do regente D. Fernando.

SÉRGIO NAZAR DAVID, GARRETT: ENTRE A CRUZ DO DESEJO E A LUZ DO AMOR






As vítimas e o carrasco

A - Há muitos factores que desmotivam quem quer trabalhar com um mínimo de seriedade.
E esses vêm de cima! A instabilidade profissional tornou-se norma. O desrespeito pelo passado dos funcionários é permanente. Faz-se tábua-rasa das aprendizagens e da experiência. Não se aposta de forma estruturada na formação dos novos professores. Não se reconhece o mérito e valoriza-se o oportunismo e a ideologia.
B - A propósito da leitura de O retorno, não me sai da cabeça que há uma ligação estreita entre o que aconteceu com a descolonização e a situação atual. O regresso precipitado, com uma mão à frente e outra atrás, deixou a necessidade de, friamente, recuperar a riqueza perdida. 
O enriquecimento súbito de muitos e a frieza posta na aplicação do "castigo" são, afinal, comportamentos esperados, pois a vingança serve-se fria.
 
C - As vítimas, como tem acontecido nas últimas gerações, serão os carrascos do futuro! Nada de surpreendente...

8.12.12

Interlúdio XV

De regresso, para explicar que a suspensão da escrita neste blogue não resulta de qualquer falta de apreço pelo trabalho das turmas A e B e de alguns alunos da turma J.
Pelo contrário, para além das conversas privadas na sala de aula, típicas de uma sociedade indisciplinada, quase tudo me convidaria a manter este registo.
Há, no entanto, outros factores que desmotivam quem quer trabalhar com um mínimo de seriedade.
E esses vêm de cima, da tutela! A instabilidade profissional tornou-se norma. O desrespeito pelo passado dos funcionários é permanente. Faz-se tábua-rasa das aprendizagens e da experiência. Não se aposta de forma estruturada na formação dos novos professores. Não se reconhece o mérito e valoriza-se o oportunismo e o carreirismo.
As vítimas, como tem acontecido nas últimas gerações, serão os carrascos do futuro! Nada de surpreendente...