24.5.13

Um banco vegetal



No caso de morar ali alguém será por pouco tempo. Todavia uma coisa o desalojado terá assegurada: um banco vegetal! Pode parecer pouco, mas tem assento e espaldar para poder descansar e, se quiser dormir, a enxerga é de relva aparada.

E como há quem diga que o futuro a deus pertence, fico-me pelo presente!

7 não rima com 17!

7 não rima com 17! Uma greve no dia 7 de junho em vez do dia 17 não tem qualquer impacto. Será compensação pela redução do raio da mobilidade? Mobilidade que não pode ultrapassar os 65 quilómetros, grande vitória!
Parece-me, até pelos ilustres antecedentes, que alguém irá ser nomeado brevemente para um dos anexos do poder. Resta saber, quem e para onde!
Assim, não!

23.5.13

Uma película muito fina...

Há quem, preocupado com o futuro da língua portuguesa, organize um «encontro mundial» em Paris. Estranha escolha! A velha Sorbonne continua a cativar paisanos deslumbrados com a cidade da luz...
O "futuro da língua portuguesa" é um tema promissor, mas, no meu entender, melhor seria que se olhasse para o presente da língua nos lugares onde ela se realiza, no significado das variedades do português e no modo como estas consolidam ou inviabilizam a construção de identidades culturais.
Basta entrar numa sala de aula para perceber que a língua está reduzida a uma película muito fina que nada conserva da sua génese, da sobranceria do colonizador, da revolta do colonizado e das tentativas de diálogo entre grupos de matrizes bem distintas. A dimensão histórica da língua é ignorada a cada passo e esta não passa de um tolo catavento.
Se não arrepiarmos caminho, a "língua portuguesa" não terá qualquer futuro, a literatura tornar-se-á incompreensível, ficando apenas ao alcance de uma minoria, as pontes de diálogo quebrar-se-ão.
Não se trata já de saber se continuaremos a falar a mesma língua, mas se nas últimas décadas não matámos a língua portuguesa, pelo menos na variedade europeia.
A escolha de Paris para realizar o "encontro mundial" é já um indicador seguro da competência de quem gere a política da língua portuguesa.
Mas compreende-se! Haverá sempre quem prefira Paris, Berlim, Londres, Nova Iorque, Camberra, Pequim, Tóquio...  
 

22.5.13

Lisboa, às 14 horas…





Quatro tempos! Do fontanário monumental ao pink! No intervalo, o pragmatismo de Ventura Terra, já distante do espiritualismo, mas ao serviço da res publica. Entretanto, houve tempos em que no templo se defendiam  ideias semelhantes às do falanstério socialista.

Hoje, o rosa alastra, só o consumo interessa! No entanto, às 14 horas, as ruas da cidade estão quase desertas…

/MCG

21.5.13

Misérias

Irrequietos, olham para trás, galhofam baboseiras e soltam risinhos cúmplices, senhores de um saber temporão.
Sem pudor, desaproveitam as palavras da experiência e da ciência, preferindo exibir a brutalidade e a boçalidade de ações, cujas consequências, por princípio, nunca aceitam.
Apressados, olham as horas como se elas lhes fossem mais favoráveis no pátio ou na mortalha de um cigarro.
Quando chamados ao palco, repetem receitas apressadas ou, simplesmente, emudecem, incapazes de ter e desenvolver uma ideia.
"Copiam" e "colam". Vivem em rebanho, não precisam de pastor!

20.5.13

Vidros esfumados


Passamos, mas não vemos; sobrevoamos, mas não vemos! É aqui ao lado!
O tijolo e o zinco a descoberto esperam novos moradores. Há até um cadeirão para os mais snobs ou para os mais cansados.
Os governadores em ano de eleições mandam pintar as fachadas. A faixa da Gebalis já está a ficar vermelha… e mais perto do Tejo, lá para Belém, os conselheiros irão ver e ouvir tachos e panelas! Ou talvez não!
Os vidros começaram por ser blindados e agora são, também, esfumados…

19.5.13

"Última Vontade" de Ruy Belo

( Para a Teresa Belo e para os meus alunos de Literatura)
Já sabíamos que havia um deus desconhecido (Ignoto Deo) na poesia de Almeida Garrett e de Antero de Quental, hoje encontrei-o em ÚLTIMA VONTADE de Ruy Belo:
 
Quando a sereia se ouvir
no coração desolado como uma cidade
recorda que te procurámos através das árvores
E tu escondias-te por trás dos frutos
e recolhíamos as mãos
cheias apenas de tempo
Sempre brincaste connosco
desde os dias da nossa juventude
Puseste-nos nos olhos
estação sobre estação e a vida dava as mãos
de árvore para árvore à volta da terra
Ia de ramo morto para ramo vivo
como um pássaro mais e nós ríamos
na tua transparência
 
Fechem-se-te agora os lábios
sobre a palavra que somos
Perdoa se algum dia
errámos com o coração
Não nos deixes morrer longe de jerusalém
 
Leio e no lugar da sereia vejo a harpia! Mas o Poeta prefere a sedução mesmo quando a desolação lhe enche o coração perdido na cidade ( a triste cidade humana nunca será capaz de substituir a natureza celestial!).
E deus está lá desde sempre, nos frutos, no tempo... escondido, invisível e, indiferente à fraternidade dos homens, brinca com eles, estende-lhes os dias até...
E o Poeta descobre o jogo do deus desconhecido, vê-o nas palavras e com elas suplica que, apesar da eventual falta de comunhão, não nos deixe morrer longe das portas de Jerusalém, da terra prometida...
O deus escondido mora nas estações, nos ramos das árvores, nos frutos, no tempo... e não precisa de qualquer templo!