24.12.14

O Natal e o Ano Novo exacerbam..

O Natal e o Ano Novo exacerbam o que há de bom e de mau em cada um de nós. A fantasia apresenta-se sob a forma de mesa farta, de bulício, de prendas previsíveis e, frequentemente, supérfluas... Para o mês de Janeiro transitam a pobreza e a depressão!
Como tenho mau feitio, não me vou alongar mais. Vou deixar o foguetório para o Governo, anunciado, desde já, pela hipnose coletiva. 

Valha-nos o Papa Francisco!
Boas Festas!

23.12.14

Falta o chicote

Ainda decorre a entrevista ao ex-ministro das finanças, Teixeira dos Santos, e já os mabecos correm para a antena. A publicidade prolonga-se enquanto lhes aparam as garras e as sobrancelhas. Caruma, 26.06.2013

Nada tenho contra os jornalistas, considero-os essenciais numa democracia responsável. Há, porém, um grupo que deveria ser enxotado - os mabecos. Um termo que terei furtado ao Mário de Carvalho ou a algum escritor angolano, provavelmente a Pepetela ou a Ruy Duarte de Carvalho.

Na novela Ocaso de Carvangel, Mário de Carvalho apresenta os mabecos do seguinte modo: «A razoável distância, paralelo à estrada, acompanhava-os a trote leve um grupo de pequenos animais pardos, de que mal se distinguiam os contornos.»

Este aparente desvario vem a propósito da família de José Sócrates não o poder visitar no Estabelecimento Prisional de Évora sem ser filmada e enxovalhada. Falta por lá (e por cá) o cocheiro de Carvangel!  

(Nesta quadra em que o consume explode, recomendo como presente de Natal a leitura de VARANDIM de Mário de Carvalho. Esta novela ilustra, à saciedade, o fascínio pela desgraça alheia e como o feitiço se pode virar facilmente contra os feiticeiros.)  


Nota: mabeco - cão bravio africano (origem obscura).

22.12.14

Ao serviço do estado islâmico

«Mossul foi conquistada em quatro dias, num combate entre 300 jihadistas e 20 mil soldados iraquianos.»

Lembra os cronicões medievais: um grupo minúsculo de crentes ao serviço do 'Deus verdadeiro 'derrota um exército infinitamente grande de infiéis, de cães...
Que mais dizer? Já era assim no tempo das Cruzadas! Já era assim em Ourique e em Aljubarrota!

Desta vez, o cronista é o alemão Juergen Todenhoefer. Tem 74 anos e idade para ter juízo! No entanto, declarou à CNN que o fervor das populações locais é quase um entusiasmo extático, algo que nunca tinha visto em qualquer outra zona de guerra.»

Fica, porém, uma dúvida: Qual é sentido da expressão « quase um entusiasmo extático»?

21.12.14

NO PRINCÍPIO...

No princípio era o pai e a religião. Caso quisesse reformular, poderia ter escrito ' no princípio era o pai e Deus', mas não, pois excluiria a mãe e era ela quem melhor agia em conformidade com a religião, na qual, para além do Coração de Jesus, cabiam Santa Teresa de Ávila e Santo António, para além da inevitável Sagrada Família... sem esquecer Santa Bárbara e a Senhora de Fátima...
Logo a seguir, surgiam a Escola e a Capela. Talvez antes devesse ter colocado o Trabalho! O pai, sem os meios para poder pagar a jorna aos trabalhadores, não prescindia do trabalho gratuito dos filhos. Gratuito, nem pensar! Afinal, quem é que os sustentava e pagava a dormida?
A Capela exigia a presença dominical, não fosse o cristão transviar-se da palavra de Deus. Para evitar alheamentos, o Padre (outro pai!), por vezes, irado, apelava à FÉ e advertia contra a Razão - o logos demoníaco... 
A Escola rivalizava com o Trabalho. Situada perto da Capela, a Escola surgia no planalto, de costas para a Serra. Era igual a todas as escola do Estado Novo e lá dentro, no altar-mor, não faltava o quadro preto, sob a Cruz ladeada dos algozes do Templo: Américo Tomás e Oliveira Salazar. A Escola, no entanto, parecia ser o caminho da redenção individual. Era lá que uns tantos descobriam o meio de se desligarem do LUGAR em que tinham visto a Luz.
Pensava-se que a Escola era a porta para outra dimensão. Só que o caminho não era linear... abria-se num abismo impossível de ultrapassar sem recurso ao Templo...
Tudo fora delineado, deixando o EU de fora. Ao EU só restava ter FÉ ou fingir que tinha FÉ ou angustiar-se por a não encontrar...

(Não sei bem porquê, estas foram as ideias que se me instalaram manhã cedo no cérebro e, aqui, deixam de fora a Casa, as Casas... todas elas irremediavelmente perdidas.)

20.12.14

A FÉ

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) executou cem dos seus combatentes estrangeiros, que tentavam fugir da cidade de Raqqa, no norte da Síria, avançou hoje o jornal britânico Financial Times.

Sempre vi a FÉ em Deus, qualquer que ele seja, como sinal de entrega total ao IGNOTO DEO. Como sinal de sacrifício da própria vida. Um sacrifício extraordinário ao serviço do DESCONHECIDO!

Pessoalmente, nunca senti essa FÉ! Talvez, por fraqueza minha, no entanto, disfarçada pelo primado da RAZÃO, apesar de cada vez mais  fragilizada... 

Este preâmbulo serve para explicar que os combatentes estrangeiros, ao serviço do Estado Islâmico, parecem não ser assim tão diferentes de mim. Na iminência da morte, esquecem a FÉ e desertam...
Só que eu nunca senti esse fascínio pela glória e, sobretudo, pelo dinheiro!

A História ensina que a FÉ dos combatentes estrangeiros não é distinta da FÉ dos mercenários.

Pessoalmente, dispenso a FÉ dos jihadistas e a FÉ dos mercenários! Embora o signo seja o mesmo, o significado é diferente...

19.12.14

Mário de Carvalho e as regras do Marquês de Queensberry

Na página 45 da obra O Varadim seguido de Ocaso em Carvangel, Mário de Carvalho compara o primeiro-ministro a «um pugilista experimentado, sem alguma vez transgredir as regras do marquês de Queensberry», dando expressão a uma arte de argumentar exemplar...

Esta associação da atividade política ao boxe profissional leva-me a transcrever um excerto http://www.boxergs.com.br/associa1.htm:

No final do século XIX, o boxe amador estava bastante difundido na Inglaterra, fazendo inclusive parte dos estudos obrigatórios nas escolas mais tradicionais inglesas. Por exemplo, na época, era famoso o torneio anual de boxe amador entre os alunos de Oxford e Cambridge, as duas mais tradicionais e importantes universidades da Inglaterra.

Como as Regras de Londres eram apropriadas apenas para boxe sem luvas, John Graham Chambers, proprietário de uma academia de boxe amador em Londres, escreveu um detalhado conjunto de regras para boxe com luvas e para prática por amadores. Como tal, introduziu rounds com a duração fixa de três minutos, lutas com duração limitada de rounds e outras medidas de proteção. 
Como Chambers tinha apenas 24 anos de idade, procurou um padrinho de peso para suas regras. Esse acabou sendo um colega de escola, jovem como ele mas de uma importante família aristocrata: o Marquês de Queensberry, que ficou imortalizado emprestando seu nome às tais regras. 
Inicialmente, os profissionais ridicularizaram as Regras de Queensberry. Contudo, a perseguição inclemente, tanto da polícia inglesa como americana, aos praticantes do boxe sem luvas fêz com que os profissionais também passassem a lutar sob as regras do marquês. 

18.12.14

Não imaginemos...

«Não imaginemos o sentido como uma relação oculta que o espírito estabelece entre uma palavra e uma coisa, nem que esta relação contém a totalidade dos usos de uma palavra, tal como se poderia dizer que a semente contém a árvore.»Ludwig Wittgenstein, O Livro Azul.
  1. 'Imaginar' só acontece quando a mente combina imagens, isto é, estabelece relações, não entre objetos (físicos), mas entre as representações mentais que deles fazemos. Se no procedimento existe mistério não sei! De qualquer modo, submetemo-nos à convenção para que a sociabilidade não se perca.  
  2. Não sei o que seria da Religião e da Poesia se, de repente, o 'oculto' desaparecesse. O Simbolismo extinto e substituído pelo USO...  a descrição imperaria até à náusea absoluta! Toda a iconografia abolida!
  3. Dar forma à totalidade dos usos mataria qualquer relação. Nem sequer as metonímias sobreviveriam!
  4. Por este andar, afirmar que a semente contém a árvore não faz qualquer sentido, nem em potência...
  5. Condenar Sócrates por corromper a juventude não faz sentido, pois o Tribunal não conseguiu identificar as vítimas. Que se saiba, nenhuma apresentou pessoalmente queixa!
  6. Chegado à última página do Livro Azul, estou por perceber a razão do adjetivo. Será que o caderno do filósofo era 'azul'? Ou o livro só era 'azul' para ele por uma qualquer relação oculta que me escapa? E ainda me falta ler o Livro Castanho!