13.1.15

Nem São Marcos nem São Mateus

São Marcos: Jesus falava como autoridade e não como os escribas. E para surpresa de todos, libertou o seu interlocutor dos "espíritos impuros"
São Mateus: É necessário experimentar a morte para subir à glória...

Por razões que não são de interesse público, tive de ouvir, neste fim de tarde, a defesa destas duas ideias, em que Cristo surge como protagonista.
Apesar de tal pensamento me parecer extremamente perigoso, nada pude opor, pois, neste tipo de cerimónia, o participante não tem o direito de questionar ou de refutar. O participante apenas pode responder ritualmente!

Esta liturgia assenta numa doutrina dogmática que impõe a obediência cega à Autoridade e, sobretudo, legitima a morte própria ou alheia como escada celestial...

Afinal, o que é que distingue o pensamento cristão do pensamento islâmico?

12.1.15

Era domingo...

Era domingo, os olhos do mundo sobre Paris e eu, que nada sou, percorria Lisboa: uma cidade quase deserta, a sair da neblina, fotografada por uns tantos forasteiros... Um pequeno grupo de nativos esperava que o cicerone desse início à visita, atrasada pela cunhada vá lá saber-se porquê... talvez ela preferisse as imagens de Paris...
Entretanto, enquanto observava os céus e os jardins de Lisboa, eu ia pensando que o fervor dominical não faz qualquer sentido se, no dia seguinte, tudo continua na mesma...
Ainda pensei que a minha descrença era inútil e até infantil, mas, hoje, segunda-feira, verifiquei que a matança continua um pouco por toda a parte...

Na Nigéria, as crianças são utilizadas como "explosivos"! Quem é que corre para lá?

11.1.15

Os governantes correm para a arena...

A notícia entusiasma de tal modo os poderosos que eles correm para a arena, assemelhando-se a um grupo de delinquentes. Abraçam-se, beijam-se, dão pancadinhas nas costas... 
Oficialmente solidários, percorrem a avenida, separados da turba e, amanhã, tomarão decisões como ontem...

Senhores das comunicações, dos exércitos e das polícias fazem juras de que o amanhã será mais seguro, fazendo de conta de que nada têm a ver com o mundo em que cada vez há mais seres a viver em condições infra-humanas.

(...) E os pequenos correm, também, procurando juntar-se aos grandes, mesmo se na  notícia não passam do rodapé.

Estas palavras podem parecer ácidas e pouco solidárias com as vítimas. Creio, no entanto, que os humoristas assassinados bem dispensariam a companhia de todos aqueles que se servem do humor em causa própria.

10.1.15

O que é que os faz correr?

Amanhã, vão estar todos em Paris. Solidários!
Mas com quem?

A União Europeia, nos últimos anos, ao promover as desigualdades, em nome do rigor orçamental, mais não fez do que favorecer comportamentos discriminatórios, esperando que as vítimas se resignem...
Mas esse tempo já lá vai! 

Chegou o dia em que não só os grupos organizados, em nome de um qualquer ídolo, mas também os descamisados quererão fazer "justiça" pelas próprias mãos.
A anarquia está a caminho. Talvez seja por isso que os nossos governantes correm para Paris...

9.1.15

Em meu nome, não!

Qualquer que seja o nome de Deus, ele só poderá dizer: - Em meu nome, não!
Há muito que Deus deixou de ser um assunto pessoal, pois o homem não descansou enquanto não o institucionalizou... Deus tornou-se Igreja, e, como tal, passou a ser foco de DISCÓRDIA...
Foco de DISCRIMINAÇÃO!
(...) 
É assim que a DISCRIMINAÇÃO é o maior agente de violência. Com Deus ou sem Deus, vivemos um tempo em que a discriminação assentou arraiais, atropelando os mais elementares direitos humanos, por isso não espanta que a VIOLÊNCIA cresça diariamente.
É fácil e justo condenar os autores dos recentes e noticiados atos de violência, em França, mas, nos últimos dias, a violência dizimou milhares de seres indefesos, sem que tal tenha causado o mesmo fervor mediático...
Enquanto não percebermos e combatermos este tipo de discriminação, ninguém está livre de se encontrar do outro lado da barricada e de entrar na galeria dos «terroristas», dos «bárbaros», dos «assassinos», por ora em nome de Deus...
Não esqueçamos que todos temos as mãos sujas de sangue!

Em meu nome, não! Em nosso nome, não! Em nome do homem, não!  

8.1.15

Nesta sala, não acontece nada

Aquilino Ribeiro
Nesta sala, não acontece nada. Às quintas-feiras, entre as 14h15 e as 15h00, não acontece nada. Na verdade, ainda hoje não aconteceu nada, a não ser aquela ideia de que andam por aí a repetir que Fernando Pessoa sofria de fragmentação, como se ele tivesse escrito
                                                     
EU SOU UM FRAGMENTO
Embora ele tenha explicado, ninguém quer entender a importância do SER EVADIDO... da necessidade que ele teve de fugir de qualquer CADEIA que o impedisse de SER.
Porque SER não é PODER, nem TER, nem PERTENCER... é VIVER a valer, isto é, é SENTIR, nem que seja apenas com os olhos, porque todos os outros sentidos aprisionam, imobilizam, interditam o SONHO e o DESEJO...
(...)
Na LÍNGUA, o Poeta ganha o que o Rebanho vai perdendo na VIAGEM. A LÍNGUA É O SEU PAÍS...

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
(...)

Nesta sala, não acontece nada...

7.1.15

A iniquidade alastra…

O frio é severo, mas tal parece não incomodar o homem que dorme(?)sob uns trapos que não o cobrem por completo. Entretanto, o longe desperta sentimentos de comiseração…

Um destes dias, despertaremos sob a metralha não dos deuses mas dos homens que, hoje, desprezamos.

É triste!