17.8.15

A certeza de Maria de Belém

Maria de Belém, ex-presidente do Partido Socialista, anunciou nesta segunda-feira que se vai candidatar às eleições presidenciais de 2016.
"Apresentarei publicamente a minha candidatura após as eleições legislativas de 4 de Outubro", disse Maria de Belém, numa nota enviada à agência Lusa.

Maria de Belém já sabe que o Partido Socialista vai perder as eleições no dia 4 de outubro de 2015. Entretanto, António Costa, em vez de partir a loiça toda, vai adiando, vai dançando ao sabor do tambor da nova coligação.

Incapaz de romper definitivamente com os socratistas e com os seguristas, António Costa vai confirmando que lhe falta o perfil de estadista. 

Tenho pena!Não por ele, mas pelo país!

16.8.15

As eleições e o critério da vizinhança

Como, até ao momento, nem familiares nem amigos decidiram candidatar-se a primeiro-ministro ou a presidente da república, sinto-me à deriva: não sei se me devo abster ou votar em branco. 
Ao ouvir os candidatos, pressinto que me estão a querer enganar: uns surgem mais louros, outros mais brancos, outros ainda mais informais, sem falar daqueles que, invisíveis, querem fazer crer que a Luz está quase a chegar.

Houve tempos em que me norteava por um critério ideológico e votava sempre do mesmo modo; depois, comecei a pensar que os valores dos candidatos deveriam determinar as minhas opções, mas a pouco e pouco fui descobrindo que a honestidade, o rigor, o profissionalismo tinham perdido espaço, sendo substituídos pela mentira, pela corrupção, pela incompetência e pela propaganda...

Deste modo, só me resta o critério da vizinhança: Um dia trabalhei numa escola frequentada por um jovem cheio de iniciativa que hoje se candidata a primeiro-ministro; presentemente, vivo num bairro, onde reside uma mulher que sonha ser presidente da república.

Lançados os dados, uma coisa posso, desde já, garantir: Se o jovem chegar a primeiro-ministro, a minha vizinha nunca será presidente da república; mas se o jovem do Liceu Passos Manuel perder, a minha vizinha ainda tem uma hipótese...

Em conclusão, este critério assegura-me que, no futuro, não teremos um primeiro-ministro e um presidente da república saídos do mesmo berço...

14.8.15

Não é que eu sofra de qualquer fobia

Durante o Estado Novo, havia quem preferisse os gatos aos cães. Atualmente, todos estes bichinhos passaram a animais de estimação, dependendo apenas dos caprichos do Senhor Coelho - nuns dias são sobrestimados; noutros, abandonados...
Eu próprio, vítima do Senhor Coelho, vejo que na gaiola já só tenho dois mandarins, mais ou menos tontos, que passam os dias a responder a todos os estímulos sonoros - parece-me que entoam uma espécie de rap, característico de mentes suicidas, pelo menos em zonas de fronteira. Por exemplo, entre o México e os Estados Unidos, no território das maquiladoras*...
(...)
Não é que eu sofra de uma qualquer fobia, nem sequer da mais genuína, a sacrofobia, o que me trouxe a esta linha tortuosa foi uma outra questão: saber se a telepatia é ou não anterior à comunicação verbal. Convém explicar que a telepatia a que me estou a referir é desconhecida do homem ou talvez o homem se tenha esquecido dessa forma de comunicação - mental - típica dos outros animais, dos minerais e dos vegetais: a imagem seria a matéria primordial e propagar-se-ia sem necessidade de recorrer a símbolos, a signos e qualquer tipo de palavra babélica.
(...) 
Para ser mais claro, esta matéria primordial nada tem a ver com qualquer outdoor, selfie ou até reflexo aquoso, tudo manchas narcísicas da ignomínia que nos governa ou nos quer governar... 
(...)
Finalmente, a outra questão que aqui poderia trazer já não interessa a ninguém, mas fica registada: a arbitrariedade de quem classifica e reaprecia provas de exame nacional - uma aluna brilhante viu baixar a média em dois valores, sem qualquer justificação escrita. Quando se ganha ou se perde, bom seria que os fundamentos fossem consultáveis...

*Maquiladoras (also known as "twin plants") are manufacturing plants in Mexico with the parent company's administration facility in the United States. Maquiladoras allow companies to capitalize on the less expensive labor force in Mexico and also receive the benefits of doing business in the United States. Companies operating in the United States can send equipment, supplies, machinery, raw materials, and other assets to their plants in Mexico for assembly or processing without paying import duties. The finished product can then be exported back to the United States or to a third country.
http://www.sandiego.gov/economic-development/sandiego/trade/mexico/maquiladoras.shtml


13.8.15

Albarde-se o burro à vontade do dono

Albarde-se o burro à vontade do dono.

Um provérbio português, de tipo filosófico...
Uma forma simples, na perspectiva sensata de André Jolles. Paradoxalmente, o livro anda perdido nas estantes, também elas cada vez mais longe da vista. De tal modo que já pensei em vendê-las... para não incomodar...
Também não tenho dúvida: o provérbio é uma forma simples tal como o mito. O que isto significa para mim, é que estas formas guardam, em poucas palavras, uma sabedoria ancestral... ao contrário das formas complexas, como o  romance, que podem ter centenas de páginas a tentarem albardar o burro sem o conseguirem...
O que me preocupa na definição é que este provérbio possa ser do tipo filosófico, porque, na verdade, essa vertente filosófica surge-me como anátema (maldição), isto é, como expressão de resignação...

Curiosamente, na letra do provérbio, nada é dito sobre o burro, apesar de sofrer a ação de um sujeito indeterminado, que até posso ser eu(?)... E tudo é dito sobre o dono: tem vontade, poder - o poder de mandar fazer, a não ser que o dono seja o sujeito indeterminado...

No caso que me conduziu a esta reflexão, posso assegurar que não vou revelar o nome do dono, mas ele bem merecia, e que o sujeito é determinado, albardando-se a si próprio. E eu, resignado, lá vou caminhando página a página...  



12.8.15

Dúvida inesperada

«Woody Allen é do (Ku Klux) Klan? É, confirmou Khalil, repara nos filmes dele, já viste lá algum mano? Não, não vi muitos, disse Fafe. Nenhum, disse Khalil.»  Roberto Bolaño, 2666, Parte III, pág. 340.

Sempre vi Woody Allen como um judeu com um aprimorado sentido do ridículo. Capaz de nos fazer rir dos mitos burgueses ocidentais, este realizador vê a sua obra ser melhor acolhida na Europa do que nos Estados Unidos e tal facto sempre me deixou perplexo. Chega a parecer que os psicodramas, tantas vezes encenados, são uma excrescência para os americanos, à exceção dos das trepidantes metrópoles multiculturais dominadas pela grande finança...

Hoje, porém, invadido pela acusação da Irmandade de Maomé, dou comigo a desconfiar das leituras que vou fazendo, apesar de uma das personagens de 2666 - Barry Seaman - me devolver o sossego:

«Ler é como pensar, como rezar, como falar com um amigo, como expor as nossas ideias, como ouvir as ideias dos outros, como ouvir música (sim, sim), como contemplar uma paisagem, como sair para dar um passeio na praia.» op. cit., pág. 299.

11.8.15

Esta manhã no restaurante O Tabuleiro...

Esta manhã, no restaurante O TABULEIRO, fui interpelado: - «Então, ontem, o senhor não escreveu nada? Não deu notícia de nada?»
Até hoje, ninguém se tinha queixado! Desculpei-me como pude: na verdade, as notícias que poderia ter registado já são antigas, apesar de se repetirem diariamente. Aproveitei para informar o meu interlocutor (o senhor Eduardo) de que ando a ler um livro que esgota a minha atenção, um livro de difícil manuseamento (pesa 1300 gramas!), um livro sobre a geografia da terra e dos comportamentos humanos - alemães, espanhóis, mexicanos, americanos (USA), chilenos... de ditadores e de acólitos e, finalmente, das suas vítimas; um livro cru e cruel, um livro que ainda não entendi como foi possível escrevê-lo em tão pouco tempo, sob o cutelo da morte iminente...

Para que se entenda que escrever pode ser um caminho tortuoso, Da PARTE DE ALMAFITANO, transcrevo:

«Bom, disse o jovem Guerra, se quer saber mesmo o que penso, eu não acredito que seja verdade. As pessoas veem o que querem ver e o que as pessoas querem ver nunca corresponde à realidade. As pessoas são cobardes até ao último alento. Digo-lhe isto confidencialmente: o ser humano, falando grosso modo, é a coisa que existe mais parecida com uma ratazana
                                                                                                             Roberto Bolaño, 2666
 

9.8.15

Arrumar

Em tempo de arrumações, acabo de encontrar uma foto que me faz lembrar como tudo é volátil...
O portátil, que me permitia continuar a trabalhar ligado ao mundo, ainda existe, mas cada vez mais bloqueado pelo lixo das atualizações quase diárias. Os óculos já foram substituídos, mas o efeito é o mesmo - sempre que escrevo ou leio, ponho-os de parte.
O resto esfumou-se ou, para não ser tão pessimista, transformou-se.
(...)
Arrumar é uma tarefa titânica em que se desarruma para posteriormente apagar, como se diz na linguagem informática. 
De facto, é o que tenho andado a fazer - a apagar. Em alternativa, já pensei em abrir uma loja de venda de tralha... Talvez, desse modo ainda sobrasse alguma coisa que pudesse ser útil aos outros...
(...)
Arrumar é também não querer incomodar sob o pretexto de que fizemos alguma coisa de útil nesta vida. Como tal, o melhor seria tudo apagar...