14.9.15

Refugiados, desempregados e emigrantes

Portugal necessita de acolher dignamente os refugiados, mas não pode condenar ao desemprego e à emigração centenas de milhares de portugueses. 
Qualquer política, que favoreça os refugiados e, simultaneamente, vote ao ostracismo os seus naturais, gerará focos de dissensão e, a médio prazo, de xenofobia.

Como tal, é necessário que os partidos esclareçam devidamente que medidas tencionam tomar para diminuir o desemprego e a emigração, assegurando, consequentemente, a integração harmoniosa dos refugiados.

De nada serve apregoar solidariedade com as vítimas da guerra e do despotismo para depois as deixar ao abandono.  A União Europeia não se esquecerá de nos enviar os refugiados mais pobres, sejam eles sírios, iraquianos ou outros...

Entretanto, multiplicam-se as imagens de terror, apelando à compaixão. Só ninguém diz, de forma clara, quais as medidas a tomar depois do próximo ato eleitoral.
A continuar assim, o absentismo irá aumentar! É que já não faz sentido continuar a responsabilizar o passado. 
Quem ganhar as próximas eleições, terá que resolver os problemas do presente, minorando os do futuro.

13.9.15

A dissolução do vínculo social

 «Muitas vezes se diz melhor calando do que falando em demasia.» Provérbio oriental

(Num supermercado.) A caixa recebe de um cliente, já idoso, uma nota de 10 euros para pagar 6 euros e 5 cêntimos. Mecanicamente, pergunta-lhe se quer colocar o número de contribuinte na fatura, ao que o senhor, de forma pouco audível, responde: - só quero a 'demasia'! A menina, perplexa, volta a insistir no NIF, e o idoso na 'demasia', gerando-se o impasse...
Perante a indecisão, decidi explicar à jovem caixa que 'demasia', no contexto, significava 'troco'. Fixou-me, de modo interrogativo, e explicou-me que nunca ouvira tal palavra. Não perdi a oportunidade de lhe explicar que a sua avó certamente conhecia o significado do vocábulo...

Entretanto, fiquei a pensar que, provavelmente, a jovem caixa não teria tempo para ouvir os avós. Na verdade, os mais velhos hoje já só servem para pagar as contas.

Incapazes de ouvir e de falar, dissolvemos o vínculo social. E essa destruição instala-se prioritariamente na língua materna e, a todo momento, somos convidados a abandoná-la, a tornarmo-nos falantes de uma única língua - a língua das praças financeiras, mas também a língua dos apátridas.
Sobre essa mudança, nada dizemos. E vamos (ou não ) votar em quem há muito já deixou de ouvir os mais velhos, e se prepara para os asfixiar, roubando-lhes as pensões e taxando-os a toda a hora. É para isso que serve o número de contribuinte. Agora até nos novos jogos de fortuna e azar é preciso indicar o NIF...  

12.9.15

Todos apátridas

T. Parsons (1957): «A condição mais decisiva para que uma análise dinâmica seja boa é que cada problema seja contínua e sistematicamente referido ao estado do sistema como um todo (...) Um processo ou um conjunto de condições, ou 'contribui' para a manutenção (ou o desenvolvimento) do sistema, ou é 'disfuncional' na medida em que atenta contra a integridade e a eficácia do sistema.» Citado por Jean-François Lyotard, A Condição Pós-Moderna, pág. 34-35, Gradiva.

Como o atual sistema já eliminou a luta de classes, sobra o capitalismo internacionalista. À exceção do velho pcp, já ninguém ousa falar em luta de classes.
As classes, aos poucos, foram-se diluindo, sobrando apenas os pobres e os ricos, todos apátridas. É por isso que a Coligação tem como objetivo lutar contra as desigualdades. É um objetivo coerente, pois o que está em causa é o empobrecimento geral, destruindo as classes intermédias, fortalecendo, deste modo, a casta dos ricos, novos e únicos cidadãos do mundo. 
Aqueles que lutam pelo poder já fizeram a sua opção: apanhar o comboio dos ricos! Se algum disser o contrário, é porque é 'disfuncional': ao atentar contra o sistema, está a pôr a nu a sua «paranóia».
Num mundo em que o 'global' foi capturado por oligarquias desregradas, das diversas máfias aos múltiplos cartéis, fazer política exige visão global e, sobretudo, uma estratégia de mudança devidamente partilhada pelos eleitores - exige verdade. E não propaganda!

11.9.15

Robots ávidos

«Numa sociedade em que os nossos desejos são constantemente estimulados pelo consumo, pela hierarquia social, pelo estatuto dado pelo que se possui, os homens são convidados a serem robots ávidos.» Roger Garaudy, APELO AOS (PORTUGUESES) VIVOS, Raiz e Utopia 11/12.

A ideologia de cada um (sim, porque agora cada um de nós tem uma ideologia!) é transparente: consumir mais e melhor, e encontrar o atalho que leve ao enriquecimento rápido e sem esforço. E enquanto isso, deixamos para trás a consciência que nos permitia destrinçar se o desejo era moralmente aceitável ou se, pelo contrário, este era fruto do instinto mais irracional...
Hoje, somos robots que reagimos a estímulos manipulados por verdadeiras agências de intoxicação.
(...) 
Acabo de dar conta de que Passos Coelho vai ganhar as eleições, porque o eleitorado é maioritariamente feminino. Pelo menos, é o que corre nos media... Qual será a fragrância que ele emana?

10.9.15

Os Tsípras portugueses

Embora tenha prometido não seguir o debate Passos / Costa, acabei por ouvir os últimos 20 minutos. Fiquei com a sensação de que o jogo da democracia estava a ser travado por dois homens com atitudes bem distintas. O primeiro vestira a máscara da seriedade e da responsabilidade; o segundo escolhera uma farpela mais atraente. Ambos, no entanto, estavam conscientes de que o poder, independentemente do vencedor nas urnas, nunca esteve nem estará nas suas mãos... 
(...)
Não posso deixar de estranhar a atitude dos entrevistadores: parecia que queriam domar feras que mais não eram do que cordeirinhos.
(...) 
Este é um jogo democrático que será sempre decidido na secretaria.

Se não formos capazes de olhar para nós, porque nos falta distanciamento e discernimento, então, olhemos para a Grécia!

Definição de Tsípras: alguém que, no contexto do capitalismo internacionalista, promete o que não tem, e acaba a fazer o contrário do que prometera.

9.9.15

De joelhos

Não vou seguir o debate entre Passos e Costa. Porquê?
Pela simples razão de que nenhum surge como alternativa válida.
Apenas vão debater qual deles está em melhor posição de servir o capitalismo internacional. Desde a entrada de Portugal na União Europeia e, particularmente, desde a entrada no "euro", que os auto-intitulados partidos do eixo da governação nos colocaram de joelhos...

Ouvi-los mentir tornou-se-me intolerável. Não há luz, nem cor, nem máscara, nem tom, nem argumento, nem promessa que me possam persuadir que o debate desta noite é mais do que uma pantomina...

A não ser que os farsantes nos dissessem que estão acorrentados de pés e mãos e que, na verdade, apenas ali estão a jogar à democracia para tranquilizar o capitalismo internacional.

8.9.15

O meu mapa cognitivo

Um ponto.
Um ponto cujo sentido da totalidade começou por ser pré-capitalista: a aldeia, a igreja, o burro, o trabalho não remunerado; o romantismo e o realismo utópico...
Outro ponto cujo sentido da totalidade foi sendo moldado pelo capitalismo nacionalista e colonialista: a cidade, a igreja, o autocarro e o comboio, o estudo dos heróis, o emprego e a remuneração crescente, baseada na progressão académica e, sobretudo, na antiguidade; o modernismo incompreendido...
Derradeiro ponto cujo sentido se vai perdendo no capitalismo internacionalista (na chamada pós-modernidade): a viagem, as novas tecnologias, a estagnação profissional e a perda de remuneração; a ideologia confinada à representação de «la relación imaginaria del sujeto com sus condiciones reales de existência». Fredric Jameson, 1984, El posmodernismo o la lógica cultural del capitalismo avanzado.
Um ponto que vai perdendo a distância crítica, porque incapaz de compreender a cultura gerada pelo capitalismo internacionalista - o pós-modernismo. Este, mais do que contracultura, é a forma avançada da alienação do ser, cada vez mais à deriva.
Um ponto.