14.2.16

Azar!

O meu Anjo não prevê qualquer alinhamento favorável dos astros.
Como tal, não necessitam de me consultar nem de fazer qualquer donativo para as obras piedosas das irmãzinhas do caruncho.
(...)
Eu já me tinha esquecido que o Céu me atribuíra um Custódio. Por maior respeito que o Céu me inspire, cedo descobri que a minha importância era tão insignificante que o divino Céu nem sequer se lembraria da minha existência...
Por mais tola que esta ideia possa parecer, a minha situação não é muito diferente da de Portugal. Ao ler Le Monde Contemporain, de J. Bouillon, P. Sorlin e J.Rudel, acabo de verificar que, apesar da participação trágica na Primeira Guerra Mundial, só, na página 82, surge a primeira referência a Portugal: 
«Au sortir de la guerre, qui ne lui avait valu que de minces avantages coloniaux, le Portugal traversa une crise agricole et monétaire qui ne purent résoudre les libéraux...», isto no subcapítulo: Les autres régimes autoritaires d'après-guerre,   

13.2.16

Falta-nos um ministério da Chuva!

Quando a chuva se prolonga, as notícias de inundações têm, pelo menos, um ponto em comum: a geografia. 
Há anos que por esta época ouvimos as mesmas reclamações das populações e das autoridades locais. Há anos que as autoridades nacionais prometem resolver os problemas decorrentes da acumulação das águas...
Há anos que ouvimos falar de programas de intervenção que ponham termo a esta fatalidade.
No entanto, abre-se o Céu e, afinal, tudo continua na mesma, à exceção do país que fica cada vez mais pobre...
Falta-nos um ministério da Chuva!

12.2.16

Não sei se estais tristes...

Eu estou triste. 
Nós estamos tristes.
Não sei se estais tristes...
Os mandarins estão tristes. 
O dia esteve triste.
A noite acabará por ser triste - ganhe o Benfica; ganhe o Porto; se o jogo acabar empatado, o Sporting ficará triste... O Sporting também ficará triste se o Benfica ganhar. Quanto ao jogo em si, pouco importa...
(...)
Até o alemão Wolfgang Schäuble confessou que está triste com o destino dos portugueses - os juros da dívida portuguesa estão a aumentar e a responsabilidade é da nova esquerda que ousa questionar a vassalagem a que estaríamos obrigados...
E o mais extraordinário é que o colapso escondido dos bancos alemães é, afinal, culpa dos países periféricos que insistem em defender os direitos mais elementares dos seus cidadãos.
O alemão Wolfgang Schäuble nunca soube o significado da termo 'cidadão'. Para o Senhor Wolfgang Schäuble, os povos periféricos não podem a aspirar a ser mais do que vassalos... 
              A ideia é antiga. Já tem bem mais de 100 anos, e, de tempos a tempos, agudiza-se... 

11.2.16

O novo real - subjetivo e cruel

Aprender a ver o que nos cerca podia ser um projeto de vida. Podia ser o princípio da revolta e da denúncia. E em tempos assim foi.
Para que a objetividade não nos escape, descrevemos minuciosamente a paisagem, o corpo, o objeto. Insatisfeitos, fotografamos; filmamos não, apenas, o objeto ou o corpo, mas a situação, o curso do acontecimento...
E depois, quando pensávamos na plenitude, na captura da flagrância, retomamos a imagem, a cena, e começamos a montagem, e tudo o que lá estava inicialmente mais não é do que pretexto para a expressão de um novo real - subjetivo e cruel...
Cruel, porque a realidade de pouco serve, pois o nosso anseio está agora nas mãos do programa que tudo permite manipular...
E nós gostamos!
(...)
Regressado à plenitude da sala de aula, fiquei neste triste estado - marioneta de um filme por estrear.    

10.2.16

Um silogismo manhoso

Não nos é permitido  aumentar a despesa pública. Porém, para fomentar a economia, a aposta principal centra-se no aumento do consumo, sem agravar a dívida...
Para atingir o objetivo, o Governo propõe-se reduzir o número de horas de trabalho, sem prejudicar o serviço prestado - em regra, mau. Propõe-se, também, só contratar um funcionário por cada dois que deixem a função pública e, sobretudo, defende que as escolas devem acolher as crianças e os jovens, de manhã e de tarde. E porque não à noite?
Eu, por exemplo, vivi em regime de internato durante cinco anos e meio e quero crer que lá em casa ninguém deu pela minha ausência. Não sei se o Governo da época também apostava na diminuição de funcionários para reduzir a despesa, mas ainda me lembro que havia um número razoável de prefeitos (ou similares) que zelavam pela disciplina. Sim, porque o importante era a disciplina!
Por aquilo que vou ouvindo, a disciplina hoje já não será um problema, desde que a criança e o jovem estejam ocupados a fazer aquilo para que têm natural inclinação que, como se sabe, anda longe da aprendizagem do português, da matemática, das línguas estrangeiras, da filosofia, da programação, da física, da biologia...
Estou, no entanto, sem saber se o Governo pensa reciclar os professores, transformando-os em animadores infantis, culturais, políticos, religiosos... ou se pensa contratar quem se ocupe de vigiar os interiores e as imediações das escolas...
Para contratar sem aumentar a despesa, o melhor é despedir os professores ou aposentá-los com vinte ou 30% do vencimento...

9.2.16

Não digo que o Céu esteja zangado

Não digo que o Céu esteja zangado, mas parece. A Igreja Católica inventou o Carnaval de três dias, seguido da Quaresma, para dar cabo das Maias demasiado primaveris e libertinas..., embora atualmente esta não se pronuncie quando os corsos são deslocados para o primeiro domingo da Quaresma.
O Céu nunca gostou que lhe alterassem o projeto genesíaco, mesmo que o tenham feito em seu nome... Já a ideia da existência de quatro estações lhe desagradava - a flores florescem durante todo o ano, cada uma a seu tempo... E nós próprios nascemos e morremos para além das estações.
O Céu apenas reconhece, como princípio estruturante, a semana de trabalho, com direito a um dia de descanso. O mês e o ano são invenções de papas e de imperadores, preocupados com o registo da sua efemeridade que confundiam com a"imortalidade"...
No que me diz respeito, já deixei de andar pelas estações e aborrece-me falar delas, porque há tantos lugares onde o Sol deixou de brilhar e a Chuva de cair ou, então, quando a enxurrada chega, fingimos que a culpa é do Céu.

8.2.16

O único vício que me resta...

Alimentar um blogue não é fácil! A maioria das postagens não consegue despertar o interesse do leitor de ocasião, sobretudo quando o escrevente não se limita a um tema e insiste em dar opinião sobre tudo o que mexe...
E o que mexe, sem ser a bola, é a política que finge servir, mas que, afinal, se serve de nós. Os políticos parecem ser (são) perversos por nascimento e têm sempre à mão o argumento de que nós é que somos os responsáveis pela nossa triste situação: somos nós que fumamos; somos nós que consumimos a crédito; somos nós que preferimos o automóvel ao transporte público...
No meu caso, o argumento não me convence: utilizo o automóvel, porque a Carris encurtou a carreira 22 - se ela, pelo menos, chegasse à Praça José Fontana!; não fumo há mais de 30 anos; e bem gostaria de não utilizar o único cartão de crédito que possuo - bastava que não fosse obrigado a suportar as consequências da austeridade, em matéria de desemprego e de remunerações amputadas..
O único vício que me resta é este de preencher um espaço em branco, até que um cometa me liberte...