12.8.16

António Gonçalves Ribeiro tem biografia a menos

Ainda a propósito daqueles que têm biografia a mais, hoje, ao reler documentação vária sobre o regresso dos portugueses de África em 1974 e, sobretudo, em 1975, verifico que há quem tenha biografia a menos.  Pelo menos, é o que constato ao pesquisar o nome de António Gonçalves Ribeiro, responsável pelo retorno de uma boa parte dos 700 mil que vieram acrescentar 6% à população metropolitana.
O milagre do regresso e da integração dos portugueses de África muito deve ao voluntarismo e à abnegação desse português que tomou para si a responsabilidade  que era do MFA, do Presidente da República, do Governo e das Forças Armadas... que bem se esforçaram por sacudir a água do capote. Lá no fundo, os Governantes da época não eram muito diferentes dos do Estado Novo... Só a ideologia mudara, o que não era pouco, pois isso significou que as colónias ( províncias ultramarinas) tivessem ficado nas mãos das potências estrangeiras... e que os laços afetivos fossem definitivamente destruídos... 
O que explica muita coisa! Não fosse essa irresponsabilidade (da cegueira doutrinária de Salazar ao excessos dos primeiros anos da Revolução), não estaríamos hoje tão mal governados e sob a batuta do eurocentrismo.

11.8.16

Sempre o passado

Uma travessa? Uma chávena?
Sempre o passado. A herança.
As pessoas só interessam depois de mortas. E nem todas!
Vivem nas porcelanas, nas fotografias, em certas palavras...
(...)
Quanto aos vivos, se longe, assombram a cada esquina de distância...
Se perto, falta a paciência, já é tempo de zarpar...

E depois pego no Livro da Vida, falta lá imensa gente. Olho à volta, e é tudo tão inflacionado...

10.8.16

Ponte aérea durante o Verão Quente de 1975

«Havia quem defendesse (no Conselho dos 20, um dos órgãos do MFA) que os não devíamos ajudar, porque eram fascistas. Lembro-me do tempo que se perdeu com esta discussão e que a reunião foi inconclusiva a este respeito.» Vieira de Almeida, ministro da Economia nomeado por Portugal para o Governo de transição saído do Acordo de Alvor, assinado a 15 de Janeiro de 1975.

O tenente-coronel Gonçalves Ribeiro acabou por ser o responsável pela ponte aérea. É provável que os mais de 200.000 portugueses saído no âmbito da ponte aérea devam a Gonçalves Ribeiro o facto de lhes terem sido postos à disposição os meios de fuga.
Gonçalves Ribeiro chegara a Angola em 1972 para uma comissão de serviço de dois anos. A mulher e os filhos regressaram a Portugal em agosto de 1974, mas ele optou por prolongar a sua permanência na ainda colónia portuguesa. Integrou o Governo provisório que administrou o território até ao Acordo de Alvor. Em 1975, transitou para o gabinete do Alto-Comissário Silva Cardoso, que substituíra o almirante Rosa Coutinho no cargo…
Em junho de 1975, «Portugal relegou a descolonização para plano subalterno. E, no entanto, faltavam ainda cinco meses para a data da independência de Angola estabelecida em Alvor.»
A 11 de Junho de 1975, o tenente-coronel Gonçalves Ribeiro desloca-se de Luanda a Lisboa, reunindo com a Comissão Nacional de Descolonização, onde defendeu que a TAP «estava muito longe de poder fornecer os meios necessários à saída da população branca. Um problema que não tem merecido o mínimo de atenção por parte do Governo», queixava-se. Naquela reunião, informou que, em Luanda, já havia 50.000 desalojados, vindos de outras áreas de Angola. E os pedidos de reserva de transporte para a metrópole ascendiam a 140.000.
Em maio de 1975, havia três exércitos em Luanda e cada um se considerava dono e senhor da cidade. A segunda batalha de Luanda seria desencadeada no início de julho. O MPLA acaba por dominar a maior parte da capital. Para a comunidade portuguesa, acentuava-se a urgência da partida.
Em Lisboa, acreditava-se que uma nova cimeira poria termo à guerra entre os três movimentos de libertação. MPLA, FNLA e UNITA reuniram-se entre 16 e 21 de junho, em Nakuru, no Quénia, sem que Portugal estivesse representado – o que violava uma das cláusulas do Acordo de Alvor. No texto de Nakuru, não foi feita qualquer referência a Portugal.
Entretanto, o MPLA estava a receber armamento pesado vindo da União Soviética e de outros países do Leste europeu. E a FNLA alimentava os cofres com dólares vindos dos Estados Unidos.  Era a lógica do conflito Leste-Oeste.
Para Gonçalves Ribeiro, havia que “aguentar” com um mínimo de dignidade: « E se queriam partir (os militares) tínhamos de os  trazer (os portugueses). Os militares não podiam partir, deixando lá abandonados aqueles que queriam vir embora
(a continuar)

Donald Trump a brincar com o fogo...

O candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, está novamente no olho do furacão, depois de ter proferido declarações polémicas. O magnata "sugere" aos seus eleitores o assassinato da sua rival, a democrata Hillary Clinton, que defende mudanças na legislação de compra de armas de fogo.
“Hillary quer, essencialmente, abolir a segunda emenda. Se ela conseguir escolher os juízes, não há nada que possam fazer. Talvez os defensores da segunda emenda possam, não sei”, disse o candidato republicano num comício na Carolina do Norte.  Económico

«Talvez os defensores da segunda emenda possam, não sei.» Isto é, Donald Trump convida os defensores da utilização pessoal de armas de fogo, a impedi-la de alterar a segunda emenda. E como?
O tom dubitativo não só não apaga a exortação, como reforça a pressuposição: «Não o posso fazer, mas delego em ti.»
Uma vergonha! Uma avaliação psiquiátrica vinha a calhar...

9.8.16

Soa a sirene

São 21h20, soa a sirene...
O apelo de reunião dos bombeiros prolonga-se...
Não sei se o fogo anda por perto ou longe... a verdade é que as televisões passam as horas a dar conta da falta de meios de combate aos incêndios. As imagens não mentem: os meios humanos e os equipamentos são escassos...
E sobretudo as populações não estão educadas para reduzir os riscos, evitando despejar o lixo no mato, limpando caminhos e bosques. As autoridades, por sua vez, fazem vista grossa... E até os pirómanos vivem à solta...
Quanto aos governantes, estão de férias!

PORTUGAL SEM FOGOS DEPENDE DE TODOS!

Entretanto, na Madeira, ouvem-se cada vez mais explosões de botijas de gás.

Qual é a notícia?

É a primeira vez que reformados e trabalhadores ativos da Função Pública trocam de posição. O número de beneficiários da Caixa Geral de Aposentações (CGA) ultrapassou o de subscritores – aqueles que fazem descontos para a reforma. Num relatório, o Tribunal de Contas (TdC) nota que “2015 é o ano de viragem, em que o número de subscritores é inferior ao número de aposentados/reformados”.
Os dados constam do Relatório de Acompanhamento da Execução Orçamental da Segurança Social. No documento, divulgado ontem, o TdC revela que, no final do ano passado, o número de aposentados da Função Pública era de 486.269 pessoas. Só por si, esse dado deixava clara a evolução face a 2006: o número de beneficiários cresceu 23,5%, quando comparado com o cenário de dez anos antes. Jornal i

Se diminuiu o número de contratados e os novos deixaram de descontar para a Caixa Geral de Aposentações, qual é a surpresa? Qual é a notícia?
Agora, só a canícula é que pode tapar o buraco! 

8.8.16

Resposta de Salazar a George Ball

Lisboa, 29.02.1964
  1. A ordem nova (americana), ao defender «o movimento nacionalista dos povos do continente africano», visando  a independência, «tem de negar o direito preexistente». Esta mudança de posição dos Estados Unidos torna o diálogo impossível.
  2. A Carta das Nações Unidas « prevendo prudentemente várias soluções, desde a integração à independência, entendeu confiar a definição do destino desses territórios à autodeterminação dos povos interessados por intermédio da soberania responsável e, naturalmente, quando pudessem responder por ato tão transcendente de vontade política.»
  3. Três graves queixas de Salazar: a) «os territórios ultramarinos portugueses não são, não eram territórios dependentes mas politicamente integrados num Estado que nessa forma constitucional foi admitido sem discrepância nas Nações Unidas; b) nas moções votadas referentes a Portugal a autodeterminação não tem sido a escolha de opções diversas, conforme prescreve a Carta, mas a imposição de uma só - a independência; c) no tocante aos territórios portugueses (pelo menos em relação a estes) a independência imediata que se tem exigido recusa a natural evolução dos povos e a existência de uma formação política esclarecida. (...) E podíamos queixar-nos ainda de que a chamada autodeterminação está sendo procurada através de todos os meios de pressão externa, como se a vontade dos povos possa substituir-se à única válida das populações interessadas.» 
  4. Salazar sabe bem que o objetivo da autodeterminação defendido pelas Nações Unidas ( e pelos Estados Unidos) é apenas um disfarce da exigência de independência imediata, indo ao ponto de referir a posição do Secretário-Geral da ONU, U Thant, pois as Nações Unidas terão chegado ao ponto de votar não ser precisa qualquer preparação para a independência.
  5. Salazar contrapõe à proposta americana: «V. Exª contrapõe aos resultados desastrosos obtidos naqueles casos em que a independência se operou contra a potência soberana, o êxito alcançado quando a mesma se processou com o auxílio desta. Ora a experiência tem demonstrado (...) que a estabilidade política dos novos Estados ou assenta numa base tribal ou depende do auxílio exterior. No primeiro caso assistimos a um recuo traduzido no renascimento da primitiva organização dos territórios; no segundo estamos perante o que poderia designar-se pseudoindependência ou soberania disfarçada dos mesmos territórios.»
  6. Salazar antevê que no caso de uma independência em que sejam quebrados os laços políticos, a consequência será «a de a posição de Portugal ser tomada por um terceiro país - e não será isso que se pretende?»
  7. Em 1964, Salazar caracteriza o mapa político africano, à exceção da África do Sul,  com «um tom exclusivamente neutralista, senão já alinhado em alguns casos contra o Ocidente, o que quer dizer que os novos Estados africanos se recusam a tomar posição no conflito ideológico que contrapõe o Ocidente ao mundo comunista ou tomam-na em favor deste.»
  8. Sobre a estratégia comunista, Salazar defende que o comunismo «pode desistir de formar partidos políticos africanos identificados como comunistas; nem procurará ostensivamente instalar repúblicas populares. Os objetivos comunistas em África contentar-se-ão, ao que nos parece, com captar África para a nacionalização da riqueza formada, meio caminho andado para lhe cortar o progresso económico, e depois em neutralizá-la, ideológica e estrategicamente. (...) Por isso, e na medida em que fomentarmos, o neutralismo africano, creio que estaremos a criar posições que servem, essencialmente, os interesses do inimigo.
  9. Sobre o terrorismo, Salazar não tem dúvidas de «que, se cessasse o auxílio externo aos terroristas, estes não tardariam também a fazer cessar a sua maléfica e inútil atividade...»