5.8.17

A dupla realidade de Manuel Laranjeira

«Compor a realidade como uma obra de arte - também cansa às vezes. Principalmente a gente começa a aborrecer-se da realidade!» Manuel Laranjeira, Diário Íntimo, 4 de fevereiro de 1909

Conceber um diário - registo de atos e de pensamentos, por vezes, inconfessáveis - como obra de arte é um projeto paradoxal, pois o autor revela-se marcado por uma ideia de posteridade, à partida, gratuita.
Do que o autor vai registando, o leitor nunca sabe se se trata da realidade vivida ou de uma outra realidade, desejada.
De tanto repetir o enjoo da vida, de tanto se desculpar com um eu interior, tenebroso, de tanto desprezar os seus semelhantes, de tanto desconsiderar e amesquinhar as mulheres, mesmo a sua amante da época, Manuel Laranjeira parece querer elevar-se acima da escumalha que o cerca, sem, no entanto, encontrar quem o acompanhe nessa ideia, à exceção, temporária, de Miguel Unamuno...
E com tal comportamento, Manuel Laranjeira acaba por engrossar as fileiras do Decadentismo que, não podendo pôr fim à desditosa Pátria, se aniquila a si próprio, em nome do Desespero, a que a doença não seria alheia, ou de uma visão do mundo incorrigível.

Que a realidade possa cansar, entendo, mas que a Arte a tenha de refletir já me parece absurdo.

3.8.17

Agora

« He feels the time is surely now or never...more.» David Byrne, Listening Wind

Nem ontem, nem amanhã, o que fazemos agora é o que somos.
O que fazemos é pouco... ou nada.
Num instante, o vento deslumbra-nos...
E ficamos suspensos, tontos...
- Do quê? 
- Nunca saberemos...
Como o Poeta (Silva Carvalho) que, passados vinte anos,  concluiu que o melhor era escrever um romance - Palingenesia... por não poder «continuar por mais tempo nesta inexequível solidão.» Talvez desse modo encontrasse um leitor, um interlocutor...

2.8.17

No Centro Comercial Colombo, não se distraia...

Sala de aula, 2001-2002
Se passar pelo Centro Comercial Colombo, não se distraia!
Vá à Praça Central e dê uma olhadela ao "Mundo Fantástico de Paula Rego"... até 27 de  setembro...
Ali, predominam as relações entre a Vida, a Literatura e as Artes Plásticas... 

1.8.17

Se fôssemos realistas...

Se fôssemos realistas, saberíamos que a alegria é um luxo e que a tristeza é o estado natural do homem...
E não admira que a tristeza alastre, pois a prepotência é cada vez acutilante. A prepotência dos homens que não se importam de mentir, que não se importam de agredir, que não se importam de explorar, que não se importam de se atravessar no caminho, que não se importam de silenciar pela chantagem, pelo grito, simplesmente pela palavra sem direito a resposta... ou até pela omissão.
Se fôssemos realistas, não nos deixaríamos iludir pelos profetas da Desgraça nem pelos sonhadores irresponsáveis...

(Se fôssemos realistas, mudávamos mais vezes de lentes.)

249,1 mil milhões de dívida pública

Em junho, a dívida pública subiu para 249,1 mil milhões!
Será que podemos continuar a ignorar o estado das finanças públicas portuguesas?

Ou o melhor é ir de férias, pagando-as a crédito?
E já agora, qual é o montante da dívida privada?

É insignificante: a dívida das famílias e das empresas particulares, que, no seu conjunto, engordou mais alguns milhões no mês em questão e atingiu os 724,4 mil milhões de euros.

30.7.17

Os argumentos de Boaventura de Sousa Santos

Decidí entonces no volver a pronunciarme sobre la crisis venezolana. (26.05.2017)

¿Por qué lo hago hoy? Porque estoy alarmado con la parcialidad de la comunicación social europea, incluyendo la portuguesa, sobre la crisis de Venezuela, una distorsión que recorre todos los medios para demonizar  un  gobierno  legítimamente  electo,  atizar  el  incendio  social  y político  y legitimar  una  intervención  extranjera  de  consecuencias incalculables. Boaventura de Sousa Santos(26.07.2017) En defensa de Venezuela

Custa-me acreditar que a situação da Venezuela tenha apenas causas externas e sobretudo que o atual Presidente tenha capacidade para resolver o problema. 
A ideia de que internamente haverá condições para retomar o rumo chaviano sem recurso à força é absurda. Qualquer solução passa pelo abandono do poder pelo senhor Maduro e seus acólitos...
Quanto à comunicação social, Boaventura de Sousa Santos sabe bem que ela dança ao saber das conveniências de quem a financia...
Custa-me acreditar nos argumentos de Boaventura de Sousa Santos, ainda do tempo da Guerra Fria...