12.8.17

A minha horta

A horta
Espero que o proprietário atual do terreno não se aborreça com esta foto.
Registo-a, aqui, apenas como testemunho de um dos lugares onde comecei a trabalhar com cerca de 4/5 anos - a horta, situada na "Ingueira", na encruzilhada do Carvalhal do Pombo com  o Cabeço Soudo e a Rexaldia.
Desse tempo, resta a nora, que puxada por uma burra, me garantia a água necessária à rega diária.
A horta, hoje, é pequeníssima, se comparada com a daquele tempo, que estaria melhor organizada e me dava um trabalho dos diabos. Lembro que, para além das batateiras, dos tomateiros, dos feijoeiros, das aboboreiras, da beterraba, das couves de vários tipos, das alfaces, das cenouras, também lá havia três ou quatro laranjeiras e que, ao lado, corria a ribeira que assegurava a água do poço...
Embora o trabalho não fosse remunerado, a não ser com o almoço e o jantar, alguma roupa e um par de sapatos de tempos a tempos, creio que a Geringonça não deveria deixar de fora os pequenos trabalhadores, cuja atividade teve início mal começaram a andar... 

11.8.17

A coisa e a imagem


Praia do Atlântico - Troia
O que eu vi não é o que a foto mostra. Tudo estava no devido lugar. A luz intensa tostava e o azul era límpido. Apesar do bar estar abandonado, nada se me afigurou tão cinzento. Será que a ausência daquele equipamento, numa praia com bandeira azul, contaminou tudo à volta?

10.8.17

Ficar em silêncio

Sempre que as férias se aproximam, decido continuar a catalogação e o registo de publicações acumuladas. Não sei bem para quê, embora lá no íntimo acredite que, assim, estarei a facilitar a vida a quem quiser desfazer-se de tal acervo...
Por outro lado, desconfio que a tarefa tem uma outra motivação: folhear ou voltar a rememorar todo um conjunto de existências que, doutro modo, não me questionariam a não ser pela acumulação de pó e do horrendo bicho do papel - o lepisma saccharina...
Este procedimento tem, no entanto, um custo: em vez de avançar na tarefa, perco-me na leitura breve de cada livro, de cada revista..., fazendo esperar as leituras que tenho em curso e em projeto, como acontece com a Palingenesia,  com Sursis e com No Ano da Morte de Ricardo Reis - o primeiro para pagar a dívida ao (António) Silva Carvalho, o segundo para completar a leitura da trilogia de Jean-Paul Sartre (Les Chemins de la Liberté) e o terceiro, por obrigação profissional, pois a leitura que dele fiz já se escapuliu da minha fraca memória...
(Lembro-me agora que ainda hoje pensei que o Silva Carvalho bem poderia recuperar o 'António' para se diferenciar definitivamente do Armando... Espero que este apagamento da identidade não resulte de nenhum trauma com origem no velho 'estado novo')...
O que não se entenderá é por que motivo, tendo dado a esta postagem o título "Ficar em silêncio", não me calo. A razão é simples, é porque tenho aqui ao lado um livrinho intitulado Elogio do Silêncio, de Marc de Smedt, e não resisti a folheá-lo, tendo, de imediato, poisado os olhos na afirmação de que o "silence" surgiu na língua francesa (?) em 1190, descendendo do latim SILENTIUM, com a particularidade de "ser o único substantivo masculino que acaba em ence, en francês..."
Ora, digam lá se o melhor não seria eu ficar em silêncio, pelo menos, nas férias!

9.8.17

A única ficção - (António) Silva Carvalho

«A única ficção que me atrai é a realidade.» Silva Carvalho, Palingenesia ou o estado e o processo do romance, pág.116, Fenda, 1999

Neste caso, por mais que o Autor se queixe de não estar suficientemente preparado para construir o romance segundo as leis do género - muito permissivo, diga-se -, como leitor, o que me interessa é o próprio Silva Carvalho..., pois na obra encontro muito do que da sua própria boca, em tempos anteriores à escrita, ouvi...
No romance, o homem ganha coerência. E, por outro lado, a História daquela época recupera uma dimensão bem distinta da que habitualmente é transmitida pelos "filhos-família" que se autoexilaram em Paris, no Bairro Latino...
Ao ler, tão tarde, este romance, compreendo melhor o sofrimento daquele que, desde cedo, percebeu que a ideologia mais não é do que uma forma de opressão... e que, até hoje, se manteve distante e discreto, embora, lá no fundo, acredite que o tempo se encarregará de lhe reconhecer o caminho...
O problema é que a realidade vive refém da memória, sendo muitas vezes difícil revivê-la sem recurso à imaginação, à ficção.

8.8.17

Promo internet. A MEO abusa do cliente

Acabo de receber da MEO a seguinte mensagem: «PROMO INTERNET: o seu pedido de desativação foi recebido com sucesso. Obrigado.»

A MEO é simpática! Sempre pronta a premiar o cliente...

Resolveu premiar-me com dois gigas até 31 de Agosto. Ativou-os em todos os cartões da meu pacote MEO. Não me pediu autorização para o fazer! Mas informa que, a partir de 1 de setembro, o cliente passa a pagar mais 3,98 euros, a não ser que ligue para o nº 800200023, a pedir a desativação...

 Obrigado a pedir a desativação de um produto que não solicitei!

7.8.17

O calão, em qualquer contexto

Dois idosos cavaqueiam junto a um quiosque, quando, de súbito, um deles exclama: - Olha quem ali vai! Um cabrão, por acaso, bastante simpático.
Fico sem saber qual o significado do termo "cabrão" naquele contexto, mas recordo que, desde a minha infância,  este palavrão e muitos outros me feriam os ouvidos, sem que os visados mostrassem aborrecimento...
Atualmente, o calão tornou-se língua de referência, de tal modo que conheço miúdos e miúdas que, em cada três vocábulos utilizados, dois pertencem ao referido registo... Há até quem esgote o léxico numa única expressão: f...; c...; fp...; p...; m...                               
                                                                          em qualquer contexto. 

6.8.17

Servidão

Servidão.
Com Cristo ou com cidra, tudo o que se enxerga é combinação de interesses e de prazeres... Mas quem lucra esconde-se, sabendo que cedemos voluntariamente
Primeiro, a maçã; depois, o enjoo e a ressaca...
A música, apesar da variação, cresce ao som da vara que se afoga como se dela pudesse jorrar toda a água que nos falta... 
Mas não. Apenas um tempo de torpor.