8.5.19

O Nogueira do Sindicato

Ouvi dizer que o Nogueira do Sindicato está a pensar em abandonar o Partido Comunista. Surpresa! Espanta-me que o PC acolha árvores de tal porte… Sempre me habituei a pensar num Partido rigoroso… por vezes, até demais.
Os tempos andam revoltos. Hoje vi tratar o Nogueira como «o professor de Coimbra» e logo pensei que se trataria da reencarnação do de Santa Comba…
A esta hora, o Nogueira deve estar a acender uma vela à UTAO!

Mais 398 milhões de euros: é este o custo que teria a recuperação integral do tempo das carreiras especiais, estima a UTAO.
Só que o Governo discorda: Descongelamento de carreiras: “Cálculo da UTAO é totalmente arbitrário.

7.5.19

Memórias de Tomar

Faleceu José Carlos Camolas, jogador do União de Tomar no tempo em que eu estudava na cidade nabantina - 1971-73. Creio que na mesma época lá jogou o Eusébio...
No entanto, nunca entrei no estádio, embora, inicialmente, vivesse muito perto dele. Hoje, ao ler que falecera Camolas, lembrei-me que sempre associara aquele nome ao proprietário de uma loja, onde comprei duas ou três garridas camisas aos quadrados…
Ainda recordo a rua estreita, a montra da camisaria, a pensão em que vivi temporariamente, e sobretudo a Biblioteca, da qual ainda hoje conservo uma pequena obra de David Mourão-Ferreira, Motim Literário, editada pela Verbo em 1962, com o carimbo da Fundação Calouste Gulbenkian.
Confesso que nunca foi minha intenção ficar com o livrinho cujo título fora roubado a José Agostinho de Macedo, mas da última vez que passei por Tomar, apercebi-me que a Biblioteca mudara de lugar tal como eu…
Entretanto, espero que esta memória não seja falsa!


6.5.19

Não é fácil ser...

Não é fácil ser… num país que não perde a oportunidade de adular a inteligência do chefe, sobretudo, quando se trata do primeiro-ministro.
A natureza do chefe é virtuosa e temporã. Desperta nos humildes e nos invejosos atitudes próprias dos hienídeos.
Não é fácil ser… quando o chefe é venerado por hienas cabeçudas que só sabem abanar a cauda.
(Infelizmente, as hienas não correm perigo de extinção.)

5.5.19

Em desiquilíbrio

À boleia do equilíbrio orçamental, velejamos mesmo que a seca se aprofunde. O paradoxo ignora a dívida, a baixa produtividade, a fragilidade da iniciativa pública e privada… 
Na origem do desequilíbrio estão as alterações climáticas - a inteligência diminui a cada hora que passa, com perogrulhada ou não - como é óbvio, em tradução portuguesa.
Lá dizia Saramago "Nunca tivemos melhor filósofo do que Pero Grullo".

4.5.19

A peste

Ainda estou a recuperar do castigo… do tempo perdido.
Face à balbúrdia instalada, só me resta aquietar-me, não venha o velho Tirésias revelar-me que sou fruto de algum desmando ancestral, e que para sempre devo penitenciar-me… cegar-me. 

3.5.19

O canivete português

Ainda pensei na espada de Dâmocles! Depois pensei na Excalibur… no gládio ungido do Mestre da Paz… no entanto, vou ficar-me pelo canivete português - à sorrelfa, o truão lá vai repartindo o quinhão.
O resto é conversa de empanturrar! Por exemplo, diz o enfatuado: - "O professor no topo de carreira ganha « à roda de três mil euros.» Ganha mas não recebe! Em muitos casos, não chega a receber 1900 euros líquidos…
Vá lá! Multipliquem por 14...

2.5.19

Amanhã

Francisco Goya, 3 de maio de 1808

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya
 (Poema lido por Eunice Muñoz)

(…) Tudo é possível,  
ainda quando lutemos, como devemos lutar,  
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, 
ou mais que qualquer delas uma fiel  
dedicação à honra de estar vivo.  
(…)
Jorge de Sena


Este espantoso quadro de Goya é uma das imagens mais memoráveis da desumanidade do homem para com o homem. Os exércitos de Napoleão ocuparam a Espanha, mas no dia 2 de maio de 1808, os cidadãos de Madrid levantaram-se contra os franceses. No dia seguinte, o exército francês revidou com uma terrível vingança, executando centenas de rebeldes e muitas outras pessoas que eram apenas observadores dos inocentes. Goya só conseguiu registrar esses factos alguns anos depois, quando o rei Fernando VII foi reconduzido no trono espanhol. O quadro transcende o contexto histórico específico e demonstra duas características principais da arte de Goya: suas imagens marcantes e diretas, e sua moralidade que questiona mas, em última análise, é distanciada.
Este quadro de Goya intitula-se O 3 de Maio de 1808 em Madrid: Os Fuzilamentos na Montanha do Príncipe Pio, embora também seja conhecido por Os Fuzilamentos da Moncloa.
É pintado de forma totalmente anti-retórica: num charco de sangue, três cadáveres no chão, enquanto um frade e alguns camponeses esperam receber a descarga; aproxima-se deles uma outra fila de condenados que vão morrer. É noite; contra o céu escuro recorta-se o perfil da capital e, em primeiro plano, rodeado de luzes e sombras projetadas de encontro ao muro por uma lanterna, tem lugar a execução brutal e sem piedade.
A atenção concentra-se na figura do condenado de camisa branca e com os braços em cruz que desafia os soldados sem rosto, curvados e fixos no ponto de mira, enquanto o frade reza e os restantes fazem gestos de desespero, numa atmosfera ainda mais gélida, devido ao sangue que se espalha pelo chão e que chega aos pés dos algozes.
A camisa imaculada, prestes a ser trespassada pelas balas, converte-se no estandarte de uma denúncia universal contra a guerra.
              Simone Martins, 7 de outubro de 2017