9.6.19

Das duas odes, prefiro esta

Sofro, Lídia, do medo do destino.

A leve pedra que um momento ergue

As lisas rodas do meu carro, aterra

        Meu coração.

Tudo quanto me ameace de mudar-me

Para melhor que seja, odeio e fujo.

Deixem-me os deuses minha vida sempre

        Sem renovar

Meus dias, mas que um passe e outro passe

Ficando eu sempre quase o mesmo, indo

Para a velhice como um dia entra

        No anoitecer.
            Ricardo Reis

Das duas odes que Fernando Pessoa atribuiu a Ricardo Reis, prefiro esta sobre o medo do destino. Não se trata de medo, mas, nesta fase, não sinto qualquer necessidade de sobressalto, de aceleração… Prefiro que o minuto dure sessenta segundos, nem mais nem menos… E as pedras do caminho, passo bem sem elas.
Sobretudo, sofro que queiram que eu mude de máscara de acordo com as conveniências. 

8.6.19

Peixe com história por contar

Provavelmente, este peixe é da estirpe daqueles que tiveram paciência para ouvir o franciscano António ou o jesuíta Vieira…
No presente caso, o peixinho, na tentativa de descobrir em mim um despertador de consciências, acabou fotografado frontalmente… Creio que, mais do que curiosidade, o que ele me pedia é que o libertasse daquele fluviário de Mora tão distante do oceanário de Lisboa…
Se eu o tivesse trazido comigo, talvez se passeasse a esta hora pelo Parque Eduardo Sétimo e por lá encontrasse outros pregadores…

7.6.19

Olá, por aqui!

Publio Terêncio Afro terá deixado escrito, uns 150 anos a.C - Homo sum: humani nihil a me alienum puto. Tradução pessoal - Sou homem: penso que nada do que é humano me é estranho.

Talvez seja verdade! No entanto, a não ser que feche os olhos e os ouvidos, começo a duvidar da universalidade da máxima. E também não sei se estou preparado para me metamorfosear de todas as estirpes com que me cruzo…
Há dias em que não me importo de ser eu o estranho, apesar de não resistir a saudar: - Olá, bom dia, boa tarde...

6.6.19

O futuro próximo

A entrada dos monoblocos não é fácil. Parece que se esqueceram de tirar as medidas ao portão!
E quanto às futuras salas de aula, pressinto que o melhor será organizar muitas visitas de estudo… ao ar livre… O novo espaço  afigura-se-me irrespirável, independentemente do ar condicionado… sem falar das inevitáveis alergias… A inclusão acomoda-se!




3.6.19

Do lado de Agustina

«O mundo tornou-se categórico quanto ao que é demonstrável; o que é iluminado desconcerta-o.» Agustina Bessa-Luís, O retrato, 28 Agosto 1968.

Tantos foram os anos a ler "A Sibila", no tempo em que ainda havia leitores para aquele matriarcado intratável, que, desconcertado, eu imaginava que aquele não era o meu país, mas deixava-me conduzir aos lugares mais sagrados e abjetos de que ainda guardo memória - os cheiros pestilentos, as calosidades rochosos, os segredos biliosos, as invejas de morrer. A insídia. A morte suja que não abria as portas do paraíso, a não ser a algum custódio…
Havia um outro lado, que se iluminava nas páginas de Agustina, e que agora se extinguiu, a não ser que os leitores regressem, o que se afigura nada provável… 

4 junho 2019

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse hoje que Agustina Bessa-Luís, escritora que morreu na segunda-feira, "está no Panteão do coração de todos os portugueses"
Ainda se estivesse no coração, agora no "Panteão do coração"... Rima, mas é só verborreia.

2.6.19

Sitiado

Situado, mais do que localizado, sitiado.
As circunstâncias dão cabo do homem, transformam a notoriedade em efemeridade ou, em alternativa, agrilhoam-no… 
O texto não passa de tentativa caduca em que, apesar de tudo, algumas linhas se precipitam das ameias do ser.
Segui-las, talvez, possa ser a última oportunidade de furar o cerco.

1.6.19

O desconcerto dos professores

Talvez seja hoje o dia certo para lembrar que milhares de professores, neste fim de semana, se encontram em regime de reclusão a classificar os derradeiros testes e a  preparar a avaliação que antecede os exames finais… Não creio que a maioria dos professores tenha trocado essa tarefa por um fim de semana no areal…
Talvez seja o dia certo para lembrar que muitos professores não têm tempo disponível para acompanhar as suas crianças porque, afinal, continuam ao serviço de centenas milhares de jovens que se comportam diariamente como crianças…
                                 Assim que só para os professores / anda o mundo concertado.