26.9.10

Entre o viva e o abaixo…

Lá arranjei tempo para visitar a exposição “VIVA A REPÚBLICA…” Entrei expectante e saí frustrado, ao contrário da maioria dos visitantes com quem já tivera oportunidade de abordar o assunto… E porquê? Porque a exposição deixou-me a sensação de que os políticos do 1º quartel do século XX gastaram mais tempo a destruir do que a construir; gastaram mais tempo em lutas fratricidas do que a incrementar o ideário republicano.

Deixou-me ainda outra sensação desagradável: a de que preferimos as soluções musculadas.

25.9.10

Cadinho português …

Ao ouvir o modo como os governantes falam do presente e do futuro do país, lembrei-me que, ao contrário de outros estadistas, eles nunca falam do passado mais ou menos remoto. Do passado recente ainda se servem para uns soezes ajustes de contas. Mas, de verdade, não revelam qualquer conhecimento da História… E não se trata apenas dos governantes, também os deputados da nação não vão além de estereotipadas referências ao diabólico Estado Novo!

Os atletas campeões, nas diversas modalidades desportivas, ficam mal no pódio se não conseguem cantar o hino nacional e, no entanto, ninguém exige a quem nos governa que saiba um pouco de História. Se os governantes, antes de tomar posse, fossem obrigados  a prestar provas, por exemplo, sobre as causas da decadência nacional no séc. XVI ou sobre os efeitos da fuga da família real para o Brasil,  ou, ainda, sobre as razões do crescimento do partido republicano na segunda metade do século XIX, ou sobre o sucesso de um beato e obscuro ministro das finanças a partir de 1926, seguramente, não nos encontraríamos no actual estado de falência das instituições e de degradação moral…

Quem ignora a História tende a meter a cabeça na areia, deslumbrando-se com o fogo-fátuo dos gadgets e da vaidade pessoal. A propagandeada aposta num Portugal tecnológico não difere em nada da crença num ‘império português’ ou num ‘império da língua portuguesa’. Nestes comportamentos há, em comum, uma ideia de desmedida que esconde a falta de preparação ( de conhecimento das causas da nossa atávica decadência) e de sentido de responsabilidade para o exercício de cargos políticos.

É, hoje, claro que os Costas e os Buíças do regicídio  não eram franco-atiradores dementes. Eram homens com fervor patriótico,  longamente preparados para a imolação. Se dúvidas houver, basta ler os discursos políticos de Afonso Costa…

23.9.10

Clivagem…

Uma das causas da pobreza mental resulta da incapacidade de divulgar e de aplicar as soluções que diariamente despontam. A outra, talvez mais profunda, tem origem no deslumbramento individualista.  A abordagem das questões raramente coloca em primeiro lugar a colectividade, por isso a pobreza alastra, exposta ou escondida, enquanto que da riqueza, apenas, sobram as migalhas…

Nos dias que correm, tornou-se uma rotina adiar, tornear os problemas. Em vez de procurar estratégias que permitam superar as dificuldades, preferimos convocar a (des)mobilização…

18.9.10

Se não fosse o Sol…

Se não fosse o Sol, esta cidade, que cresceu e vive ao sabor do expediente, seria tão triste que ninguém a procuraria. Graças a esta luz de fim de Verão, as máquinas fotográficas podem captar instantâneos de cenas exóticas e animadas, enquanto que nos umbrais das portas, a vida estiola…

Consciente deste nosso trágico destino – só o Sol nos faz brilhar! – Pina Manique, verdadeiro senhor do Intendente, impunha o recolher obrigatório logo que o astro rei se esfumava. Talvez seja com a mesma intenção que António Costa terá decidido mudar-se para o Largo do Intendente…

17.9.10

Poceiros…

Num tempo em que decidir é uma constante da vida actual não se entende como é que os ‘decisores’ avançam e recuam com tanta facilidade em questões que, no mínimo, aumentam a angústia dos cidadãos e arruinam o futuro da colectividade.

Nos locais de trabalho, nos transportes, nas ruas, domina um sentimento de insegurança que pouco tem a ver com o aumento da criminalidade  ou com o efeito de qualquer cataclismo mais ou menos previsível. A insegurança  é manipulada em função de objectivos ocultos nacionais e transnacionais e transmitida despudoradamente pelos média.

O cidadão é chantageado por mentes torpes e ignaras que há muito deixaram de se preocupar com o bem público. E essas mentes delinquentes sobrevivem impunemente, pois são elas que decidem as regras do jogo. Um jogo soez em que as vítimas são incapazes de se defender ou de encontrar quem as defenda. Tudo isto quando  vivemos a ilusão de que nunca desfrutámos de tanto poder!

15.9.10

Quem anda à chuva…

Agora, que estamos, de regresso à escola, bom seria se (re)lêssemos a Arte de Argumentar, de Anthony Weston. Muitas das discussões que se avizinham talvez pudessem ser evitadas, pelo menos, as questões seriam abordadas de forma mais serena, fundamentada e consistente. E, por outro lado, os alunos poderiam aprender a argumentar, distinguindo os argumentos, das premissas e dos exemplos.
Lembrei-me desta obra, no preciso momento, em que me enviaram o despacho nº 14420/2010, de 15 de Setembro de 2010. Já estou a antecipar os múltiplos pontos de vista a que terei de dar atenção, quando, de facto, penso que quanto maior é o nº de avaliadores num serviço, maior é a dificuldade em aplicar, de forma uniforme,  o procedimento avaliativo, mesmo que os itens sejam claros e aceites por todos.
Aqui está uma conclusão que pede argumentos que a validem. E isso dá trabalho!
(De verdade, é possível andar à chuva sem nos molharmos! Ou não?)

12.9.10

Antes do anoitecer…


Antes do anoitecer, já a cidade dá sinais de que o dia seguinte será de labuta furtiva. Uma Lisboa encardida cresce tentacularmente nas ruas e vielas, escondendo a pobreza dos indígenas e dos estrangeiros que, solidários na miséria, caminham lado a lado, na expectativa de que o sol, um dia, possa brilhar para todos.