11.2.12

Citação e paródia

Gustavo Borda (Guatemala, 1954-Los Angeles, 2016) respondeu um dia a quem lhe reprovava a inclinação germânica: «Fizeram-me tantas crueldades, cuspiram-me tanto, enganaram-me tantas vezes que a única maneira de continuar a viver e continuar a escrever era transferir-me em espírito para um sítio ideal…» Ora, na paródia do chileno Roberto Bolaño, esse lugar ideal é a Alemanha nazi.
Se cito, aqui, A Literatura nazi nas Américas, ed. Quetzal, é porque  o complexo de inferioridade portuguesa cresce à medida que o  número  de políticos e comentadores germanófilos aumenta. Os sinais da bota estão por todo o lado… e da democracia à ditadura vai um passo por enquanto enluvado…
A paródia recria os sinais, invertendo-os, mas não os faz desaparecer. Rimos, mas apetece chorar! A comédia alegra-nos, mas o que nos espera é a tragédia.
Roberto Bolaño (1953-2003) viveu exilado desde o início da ditadura de Pinochet, primeiro no México, depois nos Estados Unidos, para, finalmente, se instalar em Espanha. Internacionaliza-se com Os Detetives Selvagens, obra marcada pelo romance Paradiso do cubano Jose Lezama Lima. Em 1996, publica Literatura Nazi en America, novela escrita como se fosse um dicionário de autores admiradores e defensores do nazismo… As criaturas impressionam pelo seu realismo e respetiva loucura!
Para compreender este tipo de escrita (paródia) vale a pena ler: Vidas Imaginárias de Marcel Schwob; Spoon River Anthology de Edgar Lee Masters; Manual de Zoologia Fantástica de Borges ou A História Universal da Infâmia, também, de Borges.
As criaturas de Bolaño são mesmo infames porque vivem connosco e nós não as vemos e por isso vale a pena seguir o destino das personagens saídas do inferno do nosso destrambelhamento… da nossa inferioridade.

7.2.12

Se até um dente nos pode deixar gregos…

Para quê queixarmo-nos dos credores se até um dente (nosso!) nos pode dar cabo do juízo!

No meu caso, a solução foi simples: uma ablação dolorosa quanto baste. Efeito hemorrágico de sabor desagradável nas horas imediatas, porém compensado por gelado bem fresquinho que  o frio vai de feição!

Claro que, na minha idade, já não estou para namoros com odontologistas e quejandos e por isso sou pela extração rápida, se possível.

Chegado aqui, só me resta recomendar aos gregos, muito mais antigos do que eu, que procedam à ablação de qualquer credor que os atormente antes que se faça tarde… até porque as alternativas são muito caras e minam lentamente o humor e a saúde do paciente.

5.2.12

A rede

Diariamente, a rede  mostra a sua força, se colocada ao serviço do crime. Veja-se o que tem acontecido em Salvador da Bahia – 82 mortos, pelo menos. Tudo porque a polícia decidiu fazer greve!

O Brasil não é exceção, é proximidade. A Síria, por seu lado, mais distante, continua a chacinar os cidadãos que contestam a ditadura, mesmo se em nome de qualquer outra ditadura.

‘Distância’ e ‘proximidade’ exprimem, aqui afetos ou desafetos, e não lugares!

Ser homem pressupõe a rede neurológica. Ser humano exige a rede social; infelizmente, o crime, também, só é possível em rede!

Desde sempre, a rede esconde o seu modus operandi, gerando heróis do bem e do mal.

Para entendermos a rede, necessitamos de deitar abaixo os pedestais.

31.1.12

A transumância, em tempo frio e seco…

Quando um funcionário cria uma plataforma digital para registo (e gestão?) da avaliação do desempenho docente e lhe é, simultaneamente, conferida competência para interpretar o quadro legislativo regulamentar, corremos o risco de meter no mesmo saco quem coordena todo o processo de avaliação e avaliados.

Vem isto a propósito da impossibilidade de atribuição das menções qualitativas de excelente e de muito bom aos membros designados  pelo conselho pedagógico para constituírem as comissões coordenadores de avaliação de desempenho docente. Pensar-se-ia que essa escolha resultaria do mérito dos designados para a tarefa e que competiria ao referido órgão, concluído o processo, avaliar se, efetivamente, tinham desempenhado a função com isenção e rigor.

Mas não! Qualquer diretor, ao submeter a avaliação por si determinada, depois de ouvido o departamento de cada um dos docentes em causa, e não o conselho pedagógico, vê-se confrontado com a proibição de não poder ir além da menção de bom, caso o professor (membro da CCADD) não tenha requerido aulas observadas pelo mesmo diretor.

Em dois anos, o ministério da educação não foi capaz de compreender a incongruência de aplicar o mesmo critério a situações distintas. Hoje chega ao fim um processo de avaliação insustentável!

Pelo menos, para e por mim!

(De qualquer modo, esta minha crítica não faz muito sentido, pois há muito que conheço a qualidade do informático e, sobretudo, a sua capacidade de vender maçãs podres aos amigos, sejam eles de sindicato ou de partido.) 

28.1.12

Os símbolos

Antes era cerração, depois esplendor; agora é só bruma! De repente, os credores ficaram com pressa!

E nós, que fazemos? Matamos os símbolos, em nome da produtividade. Mas, de verdade, o que se passa é que os credores detestam  palavras como “independência”, “liberdade”, “república”, “democracia”…

E nós, fazemos-lhes a vontade!

/MCG

24.1.12

Falta de visão…

O euro da periferia vale cada vez menos porque o país faz apostas erradas há mais de 30 anos, designadamente na vertente educativa. Voltámos as costas ao Atlântico, abraçámos sofregamente o euro, sem qualquer interiorização da identidade europeia. Turistas apressados, eliminámos a fronteira, caindo de chofre nos braços dos credores.

A falta de cultura europeia impede-nos de dialogar, olhos nos olhos, com os dirigentes europeus, e, mais grave, impede-nos de desenhar um sistema educativo transnacional capaz de nos tornar parceiros e não pedintes…

As apostas de Crato são empobrecedoras porque visam recriar um nacionalismo bacoco imbuído de rigor positivista e, sobretudo, porque a escola pública programa a desigualdade entre os portugueses… A Crato falta visão europeísta e sem ela qualquer revisão curricular não passará de um ersatz…

22.1.12

O silêncio

Há dias tão longos, tão pesados que o melhor é matar-lhes a palavra!

Há palavras tão nuas, tão cruéis que o melhor é calá-las!