Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
21.4.13
Tempo primordial
20.4.13
Ser voluntário
19.4.13
Palavras cunhadas
Será certamente essa uma das razões porque a memória me devolve a incómoda presença de Vergílio Ferreira:
18.4.13
Um dia com Luís Vaz…
Com tantos Camões a limpar a fachada, a disfarçar as rachas das paredes, a varrer o pólen dos plátanos, amanhã, a escola vai estar um brinquinho!
Mesmo que as cartas náuticas tenham sido recolhidas, nenhum aluno, émulo do Poeta, chegará atrasado e deixará de catrapiscar a colega do lado. E, sobretudo, nenhum perderá a oportunidade de ser feliz!
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A segunda, a D. Francisco de AlmeidaHeliogábalo zombava Das pessoas convidadas, E de sorte as enganava, Que as iguarias que dava Vinham nos pratos pintadas. Não temais tal travessura, Pois já não pode ser nova; Que a ceia está mui segura De vos não vir em pintura, Mas há-de vir toda em trova. | A terceira, a Heitor da SilveiraCeia não a papareis; Contudo, por que não minta, Pera beber achareis, Não Caparica, mas tinta, E mil coisas que papeis. E torceis o focinho Com esta anfibologia? Pois sabei que a Poesia Vós dá aqui tinta por vinho E papéis por iguaria. |
17.4.13
Prece
sem o propósito de ser simples.
Saberia assim sofrer com mais calma
rir com mais graça.
E saberia amar sem precipitações.
Nas minhas ironias haveria generosidade.
Nas minhas amarguras
haveria conformação e paciência.
(...)
Eu queria ser simples naturalmente
sem saber que existia a simplicidade.
JORGE BARBOSA, Claridade, Janeiro 1947
16.4.13
A Natureza em Manhã Submersa
15.4.13
Manhã Submersa
Leio e releio Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira, e só encontro silêncio, solidão, ocultação, noite, medo, pavor, pesadelo, inferno, demónios ( solitário e carnal), censura, crime (pecado), castigo (físico e psicológico), castração, amputação, MORTE.
As estações estão lá, mas anoitecidas, pavorosas, como se fossem pedregulhos prontos a esmagar os Gaudêncios, os Gamas e os Lopes. A natureza é um lugar horrendo (locus horrendus): «O vulto grande das árvores crescia na escuridão, como faces lôbregas que avançassem aos urros para mim. Mas eu corria sempre, tropeçando nos canteiros, tropeçando no meu horror, até que finalmente me atirei para um banco junto a um tanque de águas mortas.»
As árvores, as águas, o silêncio, a noite, as vozes são a expressão da morte lenta de jovens que, no íntimo, apesar de não terem projeto de vida, a única vocação que pressentiam era a do sangue, da seiva, da libertação…
A outra vocação era lhes imposta pela origem humilde, pelo «ódio infeliz de uma fome que não se cumpriu».
Por instantes deixo-me surpreender pela placidez da natureza de maio: «No pequeno jardim do Seminário rescendiam as violetas, os campos em redor estavam verdes de promessa, e no ar cálido, ao escurecer, ecoava brandamente a memória breve do dia. À noite fazia-se a devoção do mês de Maria com flores, luzes e cânticos. Era uma devoção bonita, literária como o Natal e cuja unção nós explorávamos frequentemente nos exercícios de Português.»
Afinal, maio era uma devoção literária!
/MCG