21.2.17

Gente civilizada!

O tema de hoje bem podia cingir-se à "violência" no namoro... ação dinamizada pela APAV, tendo como público jovens do ensino secundário... De tudo o que foi dito, nada me surpreendeu, apesar da tendência de alguns jovens para considerarem que a violência não é habitual entre gente civilizada, gente bem educada...
Os palavrões, os insultos, a chantagem, o boato, o empurrão e o apertão, o riso alarve, o controlo das sms, das chamadas, dos chats, o assédio, o abuso, são, afinal, comportamentos dos bairros da periferia...
Por aqui, são tudo rosas, meu senhor! 
Nós, gente civilizada, não faltamos ao respeito, não gritamos, não empurramos, não partilhamos fotos inconvenientes, não arrastamos pelos cabelos os mais frágeis... aqueles /as que não nos satisfazem os caprichos...
Talvez, o amigo /a se exceda, grite, insulte, agrida, abuse da fraqueza do parceiro / da parceira... No entanto, não vamos maçar-nos. Não metas a colher... assunto privado. 
Quem disse que tal pode ser crime público!

E a propósito, agora que tanto se insiste em aligeirar a carga de trabalhos escolares, registo aqui um excerto vicentino que bem poderia ilustrar um debate sobre a violência doméstica: 

Inês - Por que bradais vós comigo?
Escudeiro - Será bem que vos caleis.
                   E mais sereis avisada
                   que nam me respondais nada,
                   em que ponha fogo a tudo,
                   porque o homem sesudo
                  traz a molher sopeada.
                  Vós nam haveis de falar
                  com homem, nem mulher que seja
                  somente ir à igreja
                  nam vos quero eu leixar.
                  Já vos preguei as janelas,
                  Por que não vos ponhais nelas
                  estareis aqui encerrada
                  nesta casa, tam fechada
                  como freira d'Oudivelas.
                        Farsa Inês Pereira

20.2.17

Só posso estar de acordo

Vital Moreira contesta esta decisão e alerta para as consequências de aliviar o número de horas de português e matemática. "Não concordo nada com uma eventual redução da carga letiva do Português e da Matemática, quer por serem o fundamento de todo o conhecimento, quer pelo evidente défice de saber nessas duas áreas de que padece grande parte dos alunos que completam o ensino obrigatório". jornal i

Há que ter cuidado com os linguistas, com as associações profissionais e com os revisores curriculares, pois, na maioria, só procuram protagonismo e emprego bem remunerado.
Quanto à disciplina de Português, há muito que se sabe que a língua vem sendo instrumentalizada ao sabor dos caprichos da circunstância política.

19.2.17

O traço

...o traço avança por perseverança, não se desvia, mas também não se endireita; quando se debruça, tropeça na aresta que o obriga a contorcer-se e a regressar à casa de partida... pelo caminho ainda hesita...
... o traço regressa ao labirinto e, em círculos, mergulha no tinteiro; o fundo é azul escuro e o traço encolhe-se e indistinto perde-se até que Kafka o arranca e o transforma em barata tonta. 

18.2.17

Patologia espiritual

Insistir em escrever pode ser sinal de avançada patologia espiritual. Sobretudo, quando o tema é  o ajuste de contas entre mortos, moribundos e desesperados...
Talvez devesse escrever sobre mochilas ou, em alternativa, sobre redes e computadores incapazes de assegurar um fluxo contínuo de informação... ou sobre editoras que capturam os programas de ensino e os vendem a seu belo prazer, em suporte de papel e em suporte digital...
Talvez pudesse escrever sobre a desclassificação e a menorização do professor, em termos de formação e de exercício...Ou ainda sobre os políticos que se imaginam peritos em educação, conteúdos de aprendizagem, cargas horárias e que se prontificam a baralhar e a voltar a dar, sempre suportados por meia dúzia de ex-ministros e respetivas côteries...
Mas para quê?
Para já, vou regressar ao "estreito" de Gibraltar que, no dizer de Gonçalo Cadilhe, em vez de unir, quase sempre separou. Separa. E a espaços, sigo os dois académicos espanhóis, acabados de chegar a Paris, que procuram adquirir a famosa "Enciclopédia"que tantas luzes disseminou. Malgré tout!

17.2.17

Memórias à Cavaco

O senhor Cavaco acaba de sair a terreiro com as memórias das suas quintas-feiras. Não vou lê-las, porque as minhas expectativas saíram goradas, pois o que eu esperava era que o senhor nos presenteasse com as suas memórias dominicais...
Assim, fico à espera das memórias da senhora sua esposa ou, melhor ainda, do respetivo diretor espiritual. 
No entanto, pelo que vai sendo dito pelos acólitos do senhor professor, este terá feito um registo naturalista das manhas do engenheiro, dissecando-lhe o cadáver e expondo todas as malfeitorias que o carismático mafarrico lhe ia servindo à quinta-feira e nos restantes dias da semana...
Compreendo bem que o senhor Cavaco nunca tenha elevado a voz, só não entendo é por que motivo não demitiu o mefistófeles... 
Creio que o senhor Cavaco, no dia do Juízo Final, não vai ser capaz de ombrear com o seu antecessor, o senhor Sampaio que, por muito menos malfeitorias, despediu o alcaide Santana, futuro provedor da infinita misericórdia de que todos andamos necessitados... e se há alguém que sabe porquê é o senhor... 

16.2.17

O militante socialista?

«O militante socialista acusa o pedopsiquiatra de ter apresentado um relatório em tribunal de “acordo com as conveniências judiciais” de Barbara Guimarães e de ter “mentido sem escrúpulos”.» Jornal i, 16/2/2017

«O militante socialista»! Porquê?
Será que se trata de um comportamento próprio de um militante socialista, independentemente do sujeito ser o Manuel ou o Pedro?
Creio que nem a militância política nem a profissão devem ser chamadas para o caso, pois os atos de que o arguido é acusado são comuns a muitos indivíduos, independentemente de qualquer estatuto político, social ou profissional...
Se os indivíduos surgissem perante o juiz despojados de honrarias, as decisões judiciais seriam mais rápidas e certamente mais justas.

15.2.17

Desorientados

A referência é tão vasta que, por vezes, é difícil determinar o campo de aprendizagem prioritário. 
O lugar em que crescemos, segundo teorias várias, afeta-nos. No entanto, esse espaço parece diluir-se de tal modo que raros são os que lhe fixam as coordenadas, lhe conhecem os sucessos e os revezes. 
A nova referência é volátil e aleatória, o que mata a influência no sentido em que a tradição a considerava fonte, autoridade, modelo, exemplo.
A doutrina (a ideologia) é confundida com a instituição, tornando a ironia inútil e a sátira gratuita. Desorientados, não nos apercebemos do avanço despudorado da contrarreforma... da discricionaridade, não no sentido de satisfazer a necessidade pública, mas a pessoal.