20.10.17

Há comportamentos que não entendo

Há comportamentos que não entendo e que já não menciono. Se ousasse escrever uma novela, talvez revelasse aquilo que certos jovens tanto procuram deixar a nu. Não sei se o fazem gratuitamente ou se porque alguém lhes sugeriu que essa era a técnica mais adequada à melhoria de classificações... Não creio, porém, que o objetivo seja regressar ao estado primitivo, pois os acessórios de marca nada revelam do estado vegetal inicial...
Há outros comportamentos que não entendo e que resultam de não compreender a vantagem que se possa tirar de começar tão jovem a copiar... Hoje foi um desses dias em que me vi no papel de polícia de ronda, inofensivo e com vontade de zarpar.
Mas esta minha incompreensão é um pouco artificiosa, pois sei muito bem que o sucesso está cada vez mais associado ao parasitismo...
Entretanto, acabo de me lembrar que voltei a confrontar-me, numa turma de 12º ano, com um grupinho da sueca.

19.10.17

Acender e deixar arder

Acender e deixar arder são dois atos indissociáveis, mesmo que os sujeitos possam ser distintos.
Apagar, só as casas se ainda sobrarem acessos e ainda houver água nos depósitos terrestres e aéreos. E depois esperar que as nuvens de fumo não reduzam a visibilidade a zero.
Com a floresta a arder, os acessos inutilizados e o céu que nem breu, só resta esperar, deixar-se filmar e contar as vítimas... e depois chafurdar na lama...
A estratégia escolhida não é de agora, é dos dias em que a gente lorpa se apoderou da governação, sem qualquer tipo de formação e que se algum grau académico possui é porque o adquiriu numa  das muitas chafaricas de ensino que foram abrindo de norte a sul do país de abril...
No entanto, essa gente lorpa sempre odiou a escola, tudo fez para a vulgarizar e desclassificar... Essa gente lorpa que organiza as praxes, que alimenta as juventudes partidárias, que inferniza a vida daqueles para quem o mérito se atinge pelo trabalho e pelo estudo...

18.10.17

É tudo tão absurdo!

Já não consigo nem vê-los nem ouvi-los. Abrem a boca e eu desligo a TV.
Desde os noticiários aos programas de encher chouriços, é tudo tão absurdo que o zapping esgota as pilhas do comando à distância. Por vezes, até pareço o Álvares de Campos da Ode Triunfal antes do seu coração se ter quebrado sem motivo real.
E escrevo "é tudo tão absurdo" num dizer superlativo inexplicável. Se é absurdo, para quê acrescentar tão?
O absurdo não é mensurável! É ou não é, simplesmente. E o que o é, não necessita de graduação.
Por exemplo, é absurdo, para mim que não para certos políticos e gestores bancários, haver investidores que não dispõem de capitais próprios, mas que não desistem de pedir empréstimos que sabem nunca vir a amortizar...
E também é absurdo que haja investidores que não dispõem de capitais próprios, isto sem me querer pronunciar sobre o material militar que foi recuperado sem nunca ter sido roubado... 

17.10.17

Um presidente incendiário

Depois dos pirómanos, dos vampiros, das chefias incompetentes, da amnésia dos antigos governantes,  da pesporrência ministerial, do fundamentalismo dos relatórios científicos, eis que acaba de se pronunciar o presidente dos afetos que, afinal, se revela um incendiário político...
De imediato, a grande maioria dos comentadores acerta o tom e dá início à época das loas....

16.10.17

A nau Catrineta não volta mais

Ao calcorrear o país durante muitos anos, a imagem gravada era a de uma terra diversa, rica florestalmente, embora maltratada pelo primitivismo dos seus habitantes e, sobretudo, por projetistas em busca do el dorado.
Não será difícil perceber que o empreendorismo português, nos últimos 40 anos, não olhou a meios para capturar recursos, destruindo caminhos e linhas de água e, sobretudo, construindo vias rápidas que trouxeram consigo a desertificação.
As populações residentes, cada vez mais reduzidas, viram desaparecer a escola, o posto de correio, o mercado, a mercearia e a taberna, a agência bancária, e até as ermidas se tornaram apenas objeto de romarias estivais dos emigrantes que por alguns dias regressavam ao lugar que os viu nascer - o progresso, a austeridade, a troika, o centralismo...
Agora, já não é só o pinhal do interior, é também o de D. Dinis que é devorado pelas chamas gulosas dos abutres, políticos e seus comparsas.
Com a chegada do inverno, chegarão as marés vivas que não olharão a dunas e a edificações alcandoradas. O mar entrará terra adentro e destruirá tudo o que se lhe opuser... e depois alguém gritará que a culpa é das alterações climáticas.
A verdade é que a culpa é nossa, porque não sabemos escolher os governantes. Gostamos dos incompetentes, dos demagogos, dos manhosos, dos intriguistas e até dos corruptos, sem esquecer aqueles que, de tempos a tempos, nos dão com o pau...

15.10.17

A Acusação

Estive a folhear a Acusação e fiquei com a ideia de que, afinal, neste país, há pessoas com muito espírito empreendor. 
O crescimento dos negócios é de tal ordem e tão célere que a velha de ideia de que o catolicismo sempre fora um entrave ao desenvolvimento industrial e comercial se me apagou. Vou deixar de ler o velho Antero das Causas da Decadência dos Povos Peninsulares... (Terei, entretanto, encontrado a explicação para o facto do Partido Socialista, nascido na Alemanha luterana, nunca reivindicar a herança da Geração de 70 do século anterior...)
Por outro lado, parece que o crescimento do negócio transfronteiriço é inseparável da criação de fortes laços de amizade, mesmo nos casos em que as relações terminam em divórcio. Há ainda um outro dado a não descurar, a província leva a palma à capital na sua capacidade de expansão e de internacionalização. E não menos importante, os amigos tudo fazem para promover a formação do Amigo Maior, mesmo que este ame o fausto e a prosápia...
Finalmente, começo a desconfiar que a fraternidade é tão profunda que há amigos tão poderosos que nem sequer são mencionados pela Acusação. Pelo menos, o localizador não os conhece pelo nome que lhes terá sido dado na pia batismal...
(Um destes dias, voltarei à Acusação!)

14.10.17

Ontem, senti pena do jornalista Vítor Gonçalves

Ontem, senti pena do jornalista Vítor Gonçalves. Senti que na sua contenção morava uma alma isenta e nobre que, de algum modo, desejava que o seu entrevistado se redimisse.
Mas era absolutamente impossível cumprir o guião. Ao entrevistado pouco interessavam as perguntas; as suas respostas apenas visavam encobrir as causas da megalomania que deixou um país de pantanas...
A certa altura, apeteceu-me regressar a Platão e reler os diálogos socráticos, em que o filósofo utiliza os seus interlocutores para os rebaixar, expondo-lhes a mediocridade e a sordidez dos seus pensamentos...
Sem público, Sócrates não existiria, e é isso que explica a necessidade de controlar o entrevistador, exigindo-lhe submissão e denegrindo-o.
Afinal, o público ama a megalomania e a hipocrisia do poder...