29.4.21

Speculum

O canteiro, só, algo dirá do cuidador, sem curar do jardineiro. Lembra a criança que atravessou o espelho sem perceber a ilusão em que viverá desde o dia primordial, ao imaginar uma forma idealizada que, mais cedo mais tarde, se estilhaçará. Dia primordial a que se agarra para afirmar a sua presença - o EU
Não fossem, presentemente, as redes sociais, o canteiro, apesar de descuidado, teria mais significado, mesmo que o jardineiro tenha sido substituído por cuidadores avençados.

Esclarecimento:
Os canteiros não falam nem as crianças atravessam espelhos, felizmente!
O dia primordial não existe, porque varia conforme a intenção de quem recorda. Por seu turno, a presença é breve, mesmo que nos esforcemos por infernizá-la… Assim dito, parece que mais não somos do que espinhos deixados crescer por um jardineiro mal-humorado.

25.4.21

Neste 25 de abril de antanho


Tantos poetas
tantas rosas, meu Senhor!


E eles?... cravados na lapela dos espertos deste triste país
descem as avenidas, discursam em redondo a fé e o desespero
da bazuca que lhes há de pagar os cachuchos dos dias dourados…

A madrugada daquele dia foi única
fúnebre, o cortejo de hoje 

24.4.21

Coisas insignificantes

Do Jacques Lacan não me ficou nada, a não ser os livros na estante e uma vaga ideia de que o Osório Mateus o cultivava. Ou seria a Manuela Saraiva?
Ler Lacan por estes dias, apenas para verificar se já amadureci ou se nunca chegarei a compreendê-lo, por insuficiência minha, certamente.
Começo, e o significante é o único mestre... e eu o que serei? De repente, verifico que a persiana está corrida até baixo, o que me impede de ver o Tejo, se a maré sobe ou desce… Ainda não é desta que avanço nos Ècrits, o melhor é avançar para o almoço, já que tive o trabalho de o confecionar…
(...)
E depois? Voltei a ler a Lettre Volée, de Edgar Allan Poe, traduzida, em 1856, por Charles Baudelaire / La lettre volée (bibebook.com)

20.4.21

A planar


Assim andamos todos, mesmo que não o vejamos…

No caso, a ave procura a presa, e nós seguimos prisioneiros de convicções mal fundamentadas.

Por isso, deitamos fora as preocupações e mergulhamos nas rotinas anestesiantes.

Entretanto, anunciam-se eleições autárquicas e logo as aves justiceiras invadem os paços à procura de provas de negócios sujos, como se estes alguma vez tivessem sido limpos…

18.4.21

O que seria de nós?


 O que seria da infantaria sem infantes, mesmo se dizimados no campo de batalha?
O que seria da pátria sem patriotas, mesmo se falsos?
O que seria de nós se não partilhássemos o que de melhor e pior há em nós? 

Bem sei que estas interrogações parecem capciosas, mas não. São a expressão de uma inquietação antiga, avessa ao 'sacrifício' da vida humana, ao 'aproveitamento' da necessidade de proteção…

Afinal, o que será de cada um se tudo partilhar?

(Outrora, partilhavam-se propriedades, bens, ideias, valores, embora o saque fosse mais comum. E hoje?)

15.4.21

Enfunado

O marquês anda inchado, anda eufórico, anda enraivecido…
Se o marquês se calasse e se se guardasse para o julgamento, eu compreendia. 
O problema é que ele gosta demasiado de bombons e não é capaz de se privar do que lhe agrada e de quem o lisonjeia.
No entanto, por estes dias, o que mais o enraivece é a certeza de que o poder lhe fugiu definitivamente. 
Ah, o poder!

12.4.21

A grande roda




Dão-lhe lenha para nos queimar, e ele o que faz? Deita-lhe um fósforo.
E quem é que lhe dá lenha? O legislador.
E quem é o legislador? Os políticos, não, que não têm saber para tal…
A resposta não será difícil de achar. 
Basta pensar em quem é que mais lucra com a roda da justiça..

Em síntese, o juiz mais não é que o senhor do fole do momento, porque a roda não para, mesmo que estejamos todos a arder.
Nem todos! Há uns tantos que não param de se encher...