No âmbito do projeto "Moving Cinema", fui hoje à Cinemateca com três "alunos emprestados" ver o filme "Le Havre", do finlandês Aki Kausrimaki.
Até ao momento da partida para a Barata Salgueiro, pensava que os dez alunos que integram a Oficina de Cinema da Escola Secundária de Camões, fossem cinéfilos... só que para meu espanto a maioria não deu notícia. Lá saberão porquê!
A proximidade das instituições permitiu que a deslocação se fizesse a pé e de forma célere. Todavia, na Conde Redondo ocorreu um pequeno incidente: um aluno deu uma cabeçada num semáforo, porque eu, atento ao que se passava no outro passeio, chamei a atenção para uma situação caricata. Um jovem, que descia a rua, chocou com uma corda de prumos sinalizadores de obra, deitando-os abaixo, sem revelar qualquer preocupação em os recolocar na posição correta. Entretanto, o mestre de obras, que saía do prédio em renovação, ficou estupefacto ao aperceber-se do que acabara de acontecer, sem, no entanto, perceber quem fora o responsável...
Desenlace: "o aluno emprestado" chocou com o semáforo sem lhe fazer qualquer mossa, facto que causou o gáudio de uns tantos africanos estacionados numa esquina.
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A sala Félix Ribeiro estava cheia de petizes de origens diversas, mas alguns pareciam ter alguma dificuldade em compreender que o silêncio é condição necessária ao bom visionamento de um filme. Por outro lado, outros jovens, predominantemente de origem africana, revelavam uma apreensão muito interessante das situações, sem esquecer aqueles que conseguiam recordar o filme do ano anterior.
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Estas últimas reticências são a expressão de um intervalo gasto para entrega de uma caixa de música ao pai de uma criança de quatro anos que gosta de música, mas ainda não ouviu falar do topónimo Havre.
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Ora os "alunos emprestados" também não sabiam que "Le Havre" é um porto francês - a pergunta surgiu a meio da Conde Redondo, ainda antes do semáforo... o que me fez lembrar o tempo em que nas aulas de Francês ensinava a geografia, a economia, a cultura de França, sem descurar a História, por exemplo, da ocupação alemã e da resistência...
Talvez por essa razão, o filme "Le Havre" recrie a situação dos emigrantes clandestinos e dos refugiados neste início do século XXI, mas com ecos comportamentais e icónicos do tempo da proliferação dos "campos de concentração" e do modo como as populações davam, ou não, proteção a quem era perseguido ou se via obrigado a fugir...
... Só que o desconhecimento dos lugares e dos tempos acaba por limitar a compreensão de obras cinematográficas, como a de Kaurismaki. Preferimos acreditar que as nossas "leituras" são capazes de dar conta do que, entretanto, vai acontecendo na "Jungle" europeia...