13.10.08

Gratos...

Perante a notícia de que os sindicatos dos texteis ganham com o encerramento das unidades de produção, ao cobrar 10% das indemnizações e dos subsídios de desemprego, vale a pena recordar que, em 1916, os portugueses (Aquilino Ribeiro, Domingo de Lázaro) se interrogavam sobre a veracidade da seguinte prática: «É verdade que, por cada português, um ministro recebe uma libra?» Entenda-se cada português que chegava ao campo de batalha para combater a Alemanha. Relembre-se que Portugal decretou Guerra à Alemanha a 9 de Março de 1916.

Quantas libras de ouro ganharam, hoje, os governantes portugueses ao entregarem o estado português como garantia aos grandes banqueiros?

11.10.08

A calma destes sobreiros...

Há quem procure a simplicidade...
Eu, mesmo sem caruma, aprecio a pose destes sobreiros de Montargil. Ajudam-me a esquecer as ideias balofas e ridículas que me assombram o quotidiano...
No entanto, a imagem deixa na sombra o trabalhador que, diariamente, expurga a terra dos ramos secos. E a palavra não dá conta da euforia das aves que, ocultas nas ramagens, se preparam para mergulhar na barragem.
Atento, oiço-lhes o canto e procuro-lhes o voo..., mas falta-me a calma dos sobreiros neste sábado outonal.

8.10.08

Torno pública uma explicação privada...

O tema poderia ser a avaliação do desempenho docente e o modo como as organizações a abordam. Mas não é, de todo.

Como diria MIA COUTO, cada professor é uma raça!  Ou ainda como refere Aquilino Ribeiro, em Domingo de Lázaro, ficcionando a sua experiência docente no Liceu Camões, em 1914:

«Se há profissão que fomente a autolatria e a hipertrofia do eu é o magistério. Todos os magistérios. Cada professor é uma filosofia, uma política, uma universidade (...) No ensino secundário, por certo o mais abalizado, que tem os seus dramas de hiperestesia e recalcamento, cada professor pensa por sua cabeça e reage à sua maneira.»

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A liberdade é absoluta. Cada um faz o que entender. Não serei eu a atirar a primeira pedra!

No entanto, mesmo aqueles que declaram que não é necessário uniformizar, dar instruções, acabadas as reuniões, solicitam permanentemente explicações e soluções que não os deixem desemparados na hora da verdade. A maioria dos professores interroga-me, todos os dias, sobre como fazer, como aplicar a lei.

A Lei ainda pesa...

Por isso, tenho vindo a elaborar "ferramentas mínimas" que poderão ser utilizadas ou não, de acordo com a consciência de cada um. E quando as disponibilizo, faço-o para todos..., mas a opção é do avaliado... Só quando dispomos da totalidade da informação é que somos livres na escolha!

Em conclusão,  o meu objectivo é que avaliadores e avaliados conheçam todas as regras do jogo e só isso... Se ajudar tanto melhor! Caso contrário, não será necessário recorrer à Lei para que me retire. Basta que mo digam, no sítio certo.

Manuel Gomes

Estes pensamentos...

A bolha financeira explodiu. Nem podia ser de outro modo. Tudo o que não tem raízes acaba por ser derrubado. Agora, é preciso evitar o pânico.

Também a caruma se encontra à beira da implosão. Começam a faltar-lhe os argumentos para combater a demagogia e o facilitismo.

Os últimos dias têm sido de luta porfiada contra múltiplos espectros, uns sorridentes outros carrancudos, e como é próprio dos espectros, alguns são totalmente invisíveis...

De modo que começo e acabo a pensar em Antero de Quental, António Sérgio e Jorge de Sena. Vá lá saber-se porquê!

De qualquer maneira, estes pensamentos não fazem sentido a esta hora da manhã, quando, lá fora, um autocarro...

(...)

Ainda antes de apanhar o autocarro, lembrei-me que acabava de trair Sá de Miranda, sem esquecer que, aqui ao lado, jaz o romance que obrigou António Lobo Antunes a percorrer os Estados Unidos, promovendo a tradução do romance Que Farei Quando Tudo Arde? - What Can I Do When Everything's on Fire?

Há quantos dias não lhe percorro as labirínticas avenidas! No entanto, o mundo arde... E nós que faremos?

Ai, os títulos! Agora que se anuncia O Arquipélago da Insónia, começo a pensar que, para António Lobo Antunes, o título é mais do que uma coincidência, é o espelho do estado do mundo.

Só lastimo que o escritor, peregrino da escrita e viajante desencantado do mundo, não se atreva a subir a Duque Loulé, atravessando a Praça José Fontana, e após descanso merencórico à sombra do coreto, ouse entrar no Liceu Camões, nem que seja para exorcizar alguns fantasmas que continuam a habitar-lhe a moleirinha... E talvez nos pudesse ler um pouco de Sá de Miranda!

5.10.08

Na Gulbenkian, à volta de Fernando Pessoa

WELTLITERATUR, uma exposição de literatura a não perder. De 30 de Setembro a 4 de Janeiro de 2009. Sob a tutela de Cesário Verde - "Berlim, Madrid, Paris, S. Petersburgo, o Mundo!"-, de Camões a Mário Cesariny, passando por Camilo Pessanha, Ana de Castro Osório,  Teixeira de Pascoaes, Mário Sá-Carneiro, Santa Ritta Pintor, António Botto,  Almada Negreiros, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Alexandre O'Neill, um fluir de letras, de sons, de imagens, de quadros, de livros abre-se em LIVRO de onze páginas.... que percorro da esquerda para a direita, convidando-nos a (re)LER, não ali, mas naquela Biblioteca que, aos poucos, fomos (ou vamos) construindo...,

mesmo que a Adelaide não nos deixe o jantar "prompto"... Sorte, a de Pessoa!

 

2.10.08

Traduza esta língua, por favor

Alinasa mapo Vaz:

catua patca mta:

isuamu: mpamce

catua sama aluna pama:

trama aluna metama

auna cema pua cato.

uata vata cenia...

25.9.08

Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. (António Vieira)

Um familiar parte, sem deixar nem aviso nem rasto; outro, passados 10 anos, oferece-me a crua imagem do que resta da transitoriedade; um terceiro dá corpo à criancice que há muito deveria ter ultrapassado...; no intervalo, o expediente, a ocultação e a mentira...

Na finança, o jogo e a fraude que corrompem e deprimem os povos...

A Assembleia de Escola foi extinta, mas qual fénix, renasce no dia seguinte sob a forma de Conselho (transitório ou geral)... A Assembleia da República discute a mudança do paradigma do casamento... De futuro, quem é que me poderá impedir de registar definitivamente, no notário, a união das minhas agulhas com o afã do bicho da madeira? De tornar pública esta minha secreta relação?

Entretanto, vou navegando entre A Poesia Trovadoresca, O Sermão da Sexagésima e O Domingo de Lázaro, mas a navegação é lenta; os escolhos surgem a cada braçada sob a forma de signos catacréticos. E de repente, sou interrompido por uma aluna que me interpela, pedindo autorização para trazer um dicionário de casa. Sim, de casa... Quem diria? As palavras atrapalham-lhe a compreensão, ferem-lhe a visão. Ainda não desistiu de ler, ao tropeçar em significantes como "sexagésima", "lázaro", "lazareto", "arrabalde", "mansarda", "águas-furtadas", "coita"...

Espantado, eu que vivo em pleno tempo de preparação penitencial, quase que exclamo: ALELUIA! Mas tenho vergonha. Há muito tempo que o bicho da madeira se esconde por entre a caruma...