28.9.09

A derrota da aritmética…

Vivemos num país que não sabe calcular. Até ao dia 26 de Setembro, o PS não passava de um partido de direita. Governava em ditadura, asfixiando a sociedade esclarecida e manipulando o povo.
Desde ontem,  o PS passou a integrar a esquerda. O Povo vota sempre à esquerda! Uma parte desse povo votou Sócrates, outra votou BE e o restante povo, genuíno, votou CDU.
No entanto, 39 %  da população não votou e outros 39% dos que não são povo votou PSD e CDS. 
O resultado global dá uma vitória esmagadora dos que por alguma razão inefável não são povo (78%) sobre a maioria de esquerda - povo des(unido) - (55%).
Sócrates vai ter que gerir esta absurda aritmética, sabendo, de antemão, que não vale a pena fingir que é povo… até porque o povo de esquerda tem horror a cuscos…
(Amanhã, Cavaco Silva revelará ao país que como alguém o tem andado a espiar, de futuro deixará de receber o 1º ministro no Palácio de Belém. E, como por enquanto não quer afrontar a maioria de esquerda saída das últimas eleições, passará a presidir mensalmente ao Conselho de Ministros, na esperança de que Sócrates opte pela cicuta.)

27.9.09

Um novo ciclo democrático…

A partir de amanhã, começa um novo ciclo democrático. Governar em tempo de crise global exige muita concertação e, sobretudo, disponibilidade dos grupos parlamentares para a construção de soluções capazes de mobilizar a sociedade portuguesa, diminuindo as desigualdades e promovendo a produção de riqueza cultural e material.

Qualquer estratégia de bloqueio que venha a ser criada porá em causa o futuro da democracia e abrirá a porta a soluções totalitárias.

Amanhã é outro dia…

Às 8 horas em ponto compareci na mesa de voto nº 10, na Portela, Loures. E votei em consciência e em liberdade! Mais diligente do que eu só a senhora presidente da Junta, candidata à presidência da Câmara que, no seu passo decidido, acompanhava idosos pontuais, mas que não sabiam em que mesa de voto deveriam colocar a “cruz”… Por ela, nenhum deles deixaria de cumprir o seu desígnio!

E votei desapaixonadamente, liberto do espírito de vingança que absorve a lucidez de uns tantos paladinos da justiça e acaba por os atirar para becos-sem-saída.

E não se pensa mais nisso. Para quê? Amanhã é outro dia e não tem que ser o último…

25.9.09

Um país atarantado…

Considerando que a abstenção poderá diminuir nestas eleições em relação às «europeias», resta perceber de que lado estão as corporações que suportam o Estado, depois de Sócrates as  ter afrontado.
Dos partidos da oposição nada há a esperar. Aos problemas e às propostas de resolução, nada disseram. E tudo leva a crer que, na próxima 2ª feira, a mesma oposição faça de conta que nada perdeu no dia 27 e, sobretudo, que o inimigo continua o mesmo.
Tal como o calor insiste em ficar durante o mês de Setembro, também, em Outubro, o país continuará o mesmo: contestatário, mas sem capacidade de resolução dos problemas que mais o afligem.

23.9.09

De regresso à 1ª República…

A comunicação social trocou o rigor informativo pela intoxicação da opinião pública. A verdade e a mentira deixaram de estar em campos opostos, de tal modo caminham de braço dado que acabam por criar um sentimento de desorientação que poderá comprometer o futuro da democracia.

Os candidatos tornaram-se inverosímeis e risíveis. O presidente da República não soube ou não quis afastar-se dos interesses partidários, perdendo muita da autoridade que lhe era reconhecida.

Externamente, o país perde credibilidade, dilui-se em contradições partidárias que hipotecam a legitimidade do Estado.

É no universo do audiovisual que se travam as maiores batalhas. Hostes de comentadores mais ou menos fanatizados manipulam / criam descaradamente factos, evidências…

A palavra, o gesto, a imagem desconcertam a cada momento, introduzem a incerteza…, tornam-nos desconfiados, descrentes, cépticos, convidam-nos a ficar em casa.

Da abstenção falar-se-á na noite de 27, mas é nestes dias que ela cresce…

21.9.09

Em liberdade e em consciência...

«...e votamos em liberdade e em consciência.», A. Souto, Crónica, Floresta do Sul (blogue)
De acordo com Manuela Ferreira Leite, não é bem assim. A liberdade já não é o que era no cavaquismo. De facto, já nos esquecemos do que foi o cavaquismo, presumimo-lo enterrado, mas ele anda por aí,à espreita da oportunidade. Creio mesmo que uma boa parte da desgraça de Sócrates ao cavaquismo se deve ( a outra parte vem-lhe do tempo em que ele, Sócrates, terá militado no PSD!). Finalmente, apesar do que pensamos, não votamos em consciência, porque ao esquecermos o passado, a nossa consciência perde verticalidade.
E por isso, é melhor não esquecer as origens do Bloco de Esquerda. Lá dentro, há de tudo! 
Anda por aí muita gente que já não se recorda de como tudo começou. Atente-se em Mário Soares que não se lembra de quando foi Presidente da República, de tal modo que não lhe repugna uma coligação do PS com o BE. Quem diria? Se lembrasse do papel do PC na sua eleição como presidente, talvez, hoje, apostasse numa coligação de sinal menos radical. Mas se o fizesse, sabe-o bem, perderia o estatuto de paladino da democracia, em 1974 e 1975.
( O melhor seria mesmo sair de cena, mas, quando os interesses estão em jogo, não há ninguém que nos faça abandonar o palco.)

20.9.09

Matizes

Sobre a fina areia, ora corre a lagoa para o mar, ora o mar invade a lagoa. O azul profundo vinca no horizonte a serra.
À volta a lixeira; tudo é clandestino; instalações precárias (pós-25 de Abril de 1974?) que se eternizam. A poeira esmaga o pinhal. O povo também tem direito ao paraíso da Lagoa de Albufeira! Até quando?
Tenho pena de não ter observado se, de facto, António Lobo Antunes continua a ter razão: «A classe SG-Filtro tinha o poster de Che Guevara na parede do quarto, nutria-se espiritualmente de Reich e de revistas de decoração, não conseguia dormir sem comprimidos e acampava aos fins de semana na Lagoa de Albufeira conspirando acerca da criação de um núcleo de estudos marxistasMemória de Elefante, 1979
No entanto, creio que as campanhas antitabágicas nivelaram as marcas de cigarros e, sobretudo, penso que a actual esquerda portuguesa desconhece Che Guevara, Reich ou Marx. A esquerda portuguesa prefere os "gatos fedorentos" às ideologias "fedorentas". A esquerda portuguesa só pensa em ocupar legal ou clandestinamente as "lagoas" deste país, de preferência em condomínio fechado.