23.12.10

Festas Fartas!

Independentemente da confissão ou da convicção, a grande maioria corre frenética para a noite de Natal, como se não houvesse mais noite. A vertigem arrasta para a despesa fácil e para a mesa farta, como se a riqueza nos fugisse definitivamente.

E de verdade, o ano de 2010 parece assinalar para muitos portugueses uma viragem profunda no estilo de vida... Por enquanto, ainda mantemos rotinas... e por isso Boas Festas a todos os que me têm acompanhado.

(E quanto a 2011, esperemos que, para fazer prova de honestidade, não seja necessário renascer duas vezes!)

19.12.10

Por demonstrar…

O dia de hoje foi um pouco diferente do de ontem. Com menos frio. Continuei, no entanto, a corrigir trabalhos de última hora, alguns reflexo de enorme preocupação  dos autores em melhorar os seus desempenhos. Já há quem seja tão perfeccionista que corrige e reformula as vezes que eu quiser!

Estou a referir-me a um conjunto de jovens que, provavelmente, se submetidos ao Programme for International Student Assessment (PISA), obteriam resultados que permitiriam, por extrapolação, colocar Portugal nos píncaros da Lua.

De qualquer modo, mesmo que esta amostra possa compensar as inúmeras horas despendidas, fica sempre a frustração de que muitos estudantes não valorizam nem a leitura nem a escrita e, sobretudo, o desespero de que estas ferramentas são cada vez mais utilizadas de forma desonesta.

Ao contrário de Daniel Sampaio que pede que «não nos esqueçamos de que os dados do PISA são uma boa notícia que os nossos jovens nos trouxeram» (Pública, 19.12.2010), eu creio que se trata apenas de resultados que procuram tapar o sol com uma peneira.

(Continua por demonstrar como é que Portugal passou a estar na média da OCDE – entre a excelência e a desonestidade a fronteira é ténue.)   

18.12.10

Entretanto…

Quando acreditamos que ESCREVER ajuda a organizar a leitura da realidade (exterior e interior) e apostamos em recorrer a essa estratégia como ferramenta de ensino e de aprendizagem, estamos a correr riscos… pois necessitaremos de dezenas e dezenas de horas para rever os textos que nos são submetidos, quase sempre fora de horas…

Não há componente não lectiva que abarque o tempo despendido nesta tarefa! E, frequentemente, somos enganados! Quantas vezes, recebemos “cópias” de outras “cópias” mal engendradas! Infelizmente, não são apenas os alunos que recorrem ao plágio!

Ainda há poucos dias um dos maiores plagiadores que conheci foi promovido a cardeal! Quando o conheci ainda era presbítero, mal sabia escrever e tudo o que escrevia era plagiado, graças às novas tecnologias da informação…

O plágio é tão bem visto que, amanhã, o Governo não deixará de nos impor a reforma aos 67 anos de idade. Basta olhar para o vizinho do lado!

(Tudo isto pode parecer descabido, mas há vários dias que venho revendo textos que eu próprio motivei e que, na maior parte dos casos, são vistos como um capricho de professor obsoleto e que, concluídos os 36 anos de serviço, se vê ameaçado com mais onze…)

Entretanto, vou ter de mudar de estratégia para que a morte não me surpreenda a escarafunchar, nem vale a pena, dizer no quê…

15.12.10

De que serve encanar a água?

É tanto o ruído, tantas são as frases sobrepostas que as meninges latejam. Pouco interessa se a palavra encontra interlocutor. Fontes donde a água jorra indiferente à necessidade!

De que serve encanar a água se qualquer riacho a pode encaminhar para o mar? Esse lugar em que, definitivamente, a gota morre.

Inebriados, transformamos o sério em risível, alheios à vida que paulatinamente estiola…

(O sentido atravessa sem cor as fendas destas surdas paredes e eu sigo pelos interstícios para longe do rumor que me esmaga o cérebro. Só não sei porque regresso todos os dias!)

14.12.10

A medida errada…

A União Europeia comporta-se actualmente qual Procusto que tinha a mania de deitar os seus convidados num leito a cujo tamanho os adaptava.  O directório europeu, depois de ter engordado os países periféricos, decidiu agora emagrecê-los, desprezando por inteiro os seus efeitos.

E o que é que os governantes da periferia europeia fazem? Obedecem servilmente.

E as várias corporações que posição tomam? Reivindicam a manutenção dos privilégios.

A ninguém parece importar que a opção europeia tenha sido tomada sacrificando a milenar posição de Portugal no mundo. E por isso ainda não percebemos que o euro é uma má moeda que, por mais que a estiquemos ou a encolhamos, não corresponde à nossa medida.

12.12.10

Ontem…

Nada escrevi sobre ontem, dia triste com sol tímido.

De manhã, aquela missa “bonita”, com as seculares vozes gregorianas, uníssonas, a convocarem para o reencontro com Deus, alternando com notas de fado a lembrar que os únicos encontros só podem acontecer nesta vida…

E por mais que o Frei tivesse sabido escolher as palavras bíblicas anunciadoras da tua ressurreição, por mais que o Frei tenha exagerado na defesa do valor “pertença”, seja ele de pertença a uma família, a um externato (da Luz franciscana), seja ele de promissora pertença à família do Fado, a mim ninguém me tira da cabeça que o teu derradeiro gesto, Catarina, foi de ruptura, cansada de promessas que nunca chegaram a aquecer-te a alma e, sobretudo, incapaz de te ressuscitar no dia seguinte!

E por isso, à tarde, a pretexto de folhas e de árvores outonais, atravessei a ponte e percorri as estradas, sabendo que qualquer convicção de pertença pode estrangular a voz, pode ser impiedosa para quem procura, por si, a ataraxia.

10.12.10

Catarina n.s.

Sempre me pareceu que os teus silêncios, as tuas ausências, as tuas leituras revelavam o incómodo de te atrasarem na realização dos teus (pouco) secretos objectivos e por isso, hoje, não me surpreende que tenhas querido juntar-te àqueles outros que, jovens como tu, também, transpuseram definitivamente a linha… Essa linha inexorável que separa a vida da morte…