14.6.11

O tempo dos almotacés…

A quente, não é de esperar grande sensatez! E por isso esqueço os  rostos do dia, e regresso à memória de outras modernidades…

Ao tempo da camioneta da carreira que trouxe a pontualidade e a democratização, que descobriu novas fronteiras, novas serras, novos mares…

Ao tempo do petróleo (querosene ou petroline) que apagou a noite e anoiteceu as velas de sebo, que impôs a higiene…

Ao tempo da electricidade que humilhou Apolo e ofereceu aos poetas as flores do mal e as horas mortas…

Ao tempo do automóvel aristocrata e burguês…

Ao tempo da escola oficial que nos queria libertar da ignorância em troca de votos comprometidos…

Ao tempo dos bens comunais: a eira, as lameiras, a água de rega, o forno, o moinho-à-beira rio, o açude, a serra…

Ao tempo dos almotacés!

(…) E este regresso mais não é do que o reconhecimento de que quem olha e escuta  é a consciência de um devir que ainda  pode escolher entre os impulsos desmedidos e os bens comunais…

10.6.11

10 de Junho de 2011

«De verdade, mentir é um vício maldito. Somos homens porque capazes de respeitar a palavra dada.» Montaigne, Les Essais, Livre I, chapitre IX.

De facto, faltar à verdade é o pior dos crimes, até porque o reverso da verdade se revela sob mil figuras. Tal como os pitagóricos pensavam: o bem é certo e finito e o mal é incerto e infinito.

Na solenidade do dia, os discursos parece que se desprenderam dos homens, revelando os homúnculos que, em nome da nação, continuam a ajustar contas, deixando António Barreto a falar sozinho…

Na oratória de Barreto mora a cerração que, talvez, venha a ser desfeita não pelos homens mas pela contingência…

( A angústia.)

7.6.11

A materialidade…


Manuel Baldemor, 1947, Paete Laguna, Filipinas, cinzela o papel com o sentido de quem quer revelar lugares perdidos na voragem de sociedades que preferem a especulação financeira e a ociosidade ao trabalho.
A solução passa cada vez mais pela redescoberta da matéria, em todas as suas extensões, isto é, pela valorização do homo faber.
De nada serve o comentário daqueles cuja palavra perdeu a referência.
A litotes, talvez!

6.6.11

É difícil mudar!

Hoje estive, entre as 11h15 e as 12h45, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, para ser submetido a um exame médico, cujo resultado será enviado ao meu médico assistente num prazo de três semanas.

Entretanto, enquanto por lá permaneci, tive tempo de perceber que tarefas que exigem extrema atenção são executadas no meio de conversas gratuitas e pautadas por continuadas sms, ou interrompidas para atender conhecidos e amigos que beneficiam de celeridade insuspeita e de tratamento privilegiado…

Nem vale a pena lastimar o tempo que passei já preparado à espera que o radiologista aparecesse, quando, ainda na sala de espera, vi doentes da medicina interna abandonados à porta dos gabinetes até que  surgia um auxiliar a perguntar-lhes se já tinham feito os exames… De comum, nenhum daqueles doentes se encontrava em condições de dizer o nome ou de confirmar se sim se não…

Concluído o exame, ninguém me disse onde deveria dirigir-me para fazer o pagamento, como se essa diligência nem existisse… Lá descobri a tesouraria, apesar de não haver nenhuma placa a assinalar o local. 

Fiquei, deste modo, esclarecido sobre as dívidas dos utentes, sobre a baixa produtividade nas unidades de saúde, sobre o desleixo em certos actos médicos, sobre o modo como os doentes mais indefesos são tratados, e sobre o modo como o amiguismo e o corporativismo beneficiam de privilégios que não deveriam existir num estado de direito…

5.6.11

A decisão…

A última intervenção televisiva de José Sócrates, pela imodéstia testemunhada, parece querer confirmar que a decisão dos portugueses foi acertada.

(Esperemos, no entanto, que não seja necessário pegar em armas para colocar sensatez na cabeça dos governantes.)

Os próximos três meses serão fundamentais para atalhar a caminhada para o abismo.

Vamos lá ver se, a partir de amanhã, a nova ordem sabe cortar em tudo o que é desperdício e imoralidade, como, por exemplo, o actual modelo de avaliação de professores ou a parque escolar.

3.6.11

A alternativa?



Agora que a campanha eleitoral está a chegar ao fim, procuro uma alternativa e só antevejo soluções defuntas! Não sei se os candidatos a deputados deram a devida atenção às velhas tecnologias, mas o país rural e urbano expõe-as, de norte a sul.

De qualquer modo falar de candidatos a deputados é um excesso de linguagem, pois, apesar das novas tecnologias, parece que eles enfiaram o gorro do «físico prodigioso» e terão partido para uma qualquer longínqua praia paradisíaca. Ninguém lhes conseguiu pôr em vista em cima! Esperemos que o devasso satã não os tenha sodomizado!

Quanto à alternativa, bem sabemos que não podemos voltar atrás, nem virar à esquerda ou à direita, ou mesmo sonhar o futuro, pois se o fizermos perderemos o presente, tombando definitivamente no abismo…

Esta lição, no entanto, só serve a quem pense que o Sol nasce todos os dias. Infelizmente, continua haver quem ainda não tenha entendido que o Sol é um fingidor!

2.6.11

Tristes e hilários!

Todos os dias o Sol finge que nasce e, ao despertar, para nos enganar, fá-lo sempre de modo diferente. E nós, sempre do mesmo modo, fingimos que a pequenez não nos afecta, que a prosápia não nos coage, que a astúcia não nos inibe…

Resignados, ouvimos convicções inatacáveis, ideias secretas…

sorrimos

dos aplausos bajuladores, das histerias beatas…

e dos que têm ideias só para os outros concretizarem…

e dos que propõem interpretações fantasiosas…

e dos justiceiros prontos a empunhar a espada!

(Fingimos e a alma morre! A sorte é que o Sol não finge o seu curso…)