23.8.15

A minha cruz

Não saio da rotina, a que a minha mãe chamava "a minha cruz". Múltiplas vezes, a ouvi falar da sua cruz, sem que tal eu interpretasse como "queixa". Quem é que iria queixar-se da "cruz", sobretudo em terra de cristãos velhos?
A verdade é que, ultimamente, tenho-me recordado das palavras, quase de rotina, de minha mãe. A terra continua a ser de "cristãos", cada vez em menor número, e a locução de certo modo tornou-se anacrónica... 
Já não sei se nisto tudo não há um misto de nostalgia, talvez a "cruz " da minha mãe lhe tivesse acelerado a passagem, ou, talvez, a nostalgia seja daquele tempo em que para mim não havia cruz a não ser a de Cristo. E essa era a vida que o Pai lhe dera...
A rotina prende-nos de tal modo que, quando damos por isso, já é demasiado tarde. No entanto, não é Deus nem o Fado nem o Homem que nos impõem a cruz, mas o Tempo, ou a falta dele...
(...)
Não saio da rotina nem me estou a queixar. Não estou é disposto em entrar em depressão nem a procurar o cirurgião plástico! 

21.8.15

No reino dos silvas, ainda há quem defenda que as figueiras são malditas

Figueira cercada 

As silvas matam a figueira
No país dos Silvas nem as figueiras escapam! E desta vez, nem posso atribuir a responsabilidade a outrem... sou eu que deixo que as silvas matem tudo o que lhes aparece pela frente...

Claro que se o Senhor Silva, no seu tempo de primeiro ministro, não tivesse desinvestido na agricultura, talvez eu, hoje, não me sentisse tão incomodado com o que observei ao querer apanhar uma dúzia de figos...

Porfiei e consegui apanhar uns tantos figos, sem esquecer as pobres pêras, também elas cercadas pelas malditas silvas, mas não escapei à fúria do silvado.

Em conclusão, estou disposto a vender o Vale do Oceano a quem queira erradicar as silvas e os Silvas deste país. 

Quem ler este desabafo, pode pensar que nunca se sabe se estou a falar a sério ou a brincar. Confirmo, no entanto, que já não estou em idade para brincadeiras.

20.8.15

Poupas às portas de Lisboa

Portela, LRS
Estas aves despertaram a minha atenção, porque não esperava vê-las aqui, na Portela...
Parece que vão estar por cá entre Agosto e Outubro e quando partirem far-se-ão acompanhar pelas crias que, entretanto, já estarão a crescer nalgum tronco de árvore da Quinta do Seminário. Será?
Estas aves são persistentes, pois no dia em que as descobri estiveram pelo menos duas horas a alimentar-se no mesmo lugar. Pobres das minhocas!

19.8.15

Sinal positivo, sinal negativo

Jardim do Campo Grande (Lisboa)
Limparam e repararam as brechas do lago. Sinal positivo!
Agora que ele está a encher de água límpida, há logo quem não resista a profaná-lo. Sinal negativo!
O homem é assim mesmo: não descansa enquanto não marca o território, não deixa a pegada da sujidade.
Paciência! Pode ser que, neste caso, a água de amanhã já não seja a de hoje, e, então a profanação já estará esquecida.

( Por cima do lago, a estátua mira-se num espelho mudo.)

18.8.15

Encalhado

A única palavra que me assombra verdadeiramente é o particípio passado do verbo encalhar. O estado de quem sofre a ação de ficar sem  saída... Até hoje, sempre consegui contornar, recuar ou mesmo avançar sobre o obstáculo. 
De noite, o que sobra são resquícios de objetos e de pessoas que surgem encalhados nos meus sonhos... mas não sou eu, pois o meu sonho não se transforma num pesadelo, a não ser se considerarmos a multiplicação onírica dos precários que se arrastam pela vida, como se a  precariedade fosse um estado natural...
De dia, avanço passo a passo, linha a linha, crime a crime. E estes são tantos!  Já pensei em seguir o exemplo do autor de 2666, que em cerca de 300 páginas, estando-se nas tintas para a economia da narrativa, decidiu dar conta de todos os assassínios de mulheres em Santa Teresa, no México... o leitor acaba encalhado em tanto assassinato, mas talvez tome consciência da violência que os homens exercem diariamente sobre as mulheres. 
A verdade é que hoje encalhei por volta das 11 horas e espero desde essa hora que a maré suba. Talvez, amanhã, consiga desencalhar, mas não vai ser fácil...

(O problema da palavra não existe a não ser que a utilizemos de forma errada. Nesse caso, vai ser necessário defini-la com rigor e paciência, muita...)

17.8.15

A certeza de Maria de Belém

Maria de Belém, ex-presidente do Partido Socialista, anunciou nesta segunda-feira que se vai candidatar às eleições presidenciais de 2016.
"Apresentarei publicamente a minha candidatura após as eleições legislativas de 4 de Outubro", disse Maria de Belém, numa nota enviada à agência Lusa.

Maria de Belém já sabe que o Partido Socialista vai perder as eleições no dia 4 de outubro de 2015. Entretanto, António Costa, em vez de partir a loiça toda, vai adiando, vai dançando ao sabor do tambor da nova coligação.

Incapaz de romper definitivamente com os socratistas e com os seguristas, António Costa vai confirmando que lhe falta o perfil de estadista. 

Tenho pena!Não por ele, mas pelo país!

16.8.15

As eleições e o critério da vizinhança

Como, até ao momento, nem familiares nem amigos decidiram candidatar-se a primeiro-ministro ou a presidente da república, sinto-me à deriva: não sei se me devo abster ou votar em branco. 
Ao ouvir os candidatos, pressinto que me estão a querer enganar: uns surgem mais louros, outros mais brancos, outros ainda mais informais, sem falar daqueles que, invisíveis, querem fazer crer que a Luz está quase a chegar.

Houve tempos em que me norteava por um critério ideológico e votava sempre do mesmo modo; depois, comecei a pensar que os valores dos candidatos deveriam determinar as minhas opções, mas a pouco e pouco fui descobrindo que a honestidade, o rigor, o profissionalismo tinham perdido espaço, sendo substituídos pela mentira, pela corrupção, pela incompetência e pela propaganda...

Deste modo, só me resta o critério da vizinhança: Um dia trabalhei numa escola frequentada por um jovem cheio de iniciativa que hoje se candidata a primeiro-ministro; presentemente, vivo num bairro, onde reside uma mulher que sonha ser presidente da república.

Lançados os dados, uma coisa posso, desde já, garantir: Se o jovem chegar a primeiro-ministro, a minha vizinha nunca será presidente da república; mas se o jovem do Liceu Passos Manuel perder, a minha vizinha ainda tem uma hipótese...

Em conclusão, este critério assegura-me que, no futuro, não teremos um primeiro-ministro e um presidente da república saídos do mesmo berço...