23.11.15

Ninguém gosta de ser cinza

Ninguém gosta de ser cinza; a verdade, porém, é que 'ninguém' é menos do que cinza.
A vontade de 'ninguém' é ser alguém, o que explica que, nestes dias, qualquer meio sirva para sair do anonimato.

A cinza é a expressão do anonimato.
Politicamente, o cavaco, que pensa ser alguém, recorre a todos os meios para adiar o dia da cremação, isto é, do anonimato.

22.11.15

A cinza somos nós!

Bem sabemos como um simples cavaco pode atrapalhar a vida de todos nós, embora me pareça que, nos últimos anos, muitos portugueses andaram amarrados à ideia de que a melhor forma de combater o desenvolvimento era asfixiá-lo, transformá-lo em cinza porque dela acabará por eclodir a fénix.

A ideia seduz, o problema é que a cinza somos nós num tempo e num espaço bem delimitados.

(...)

Podemos ainda pensar que um simples cavaco pouco terá a dizer sobre o que se passa à sua volta, porém enganamo-nos: sempre que outro cavaco, dentro ou fora, se sente acossado, o cavaquinho não perde tempo a clamar a sua solidariedade...

e a cinza somos nós!

21.11.15

Sempre que passo por um mercado municipal

Sempre que passo por um mercado municipal, concluo que há bancas de venda que não afixam os preços dos produtos. Em particular, as bancas de peixe.
Pessoalmente, a ausência do preço tem uma consequência: viro as costas e vou-me embora, de mãos a abanar. E frustrado.
Dois exemplos: Mercado 31 de Janeiro nas Picoas, Lisboa, e Mercado de Moscavide. Refiro estes porque foram aqueles em que entrei na pretérita semana.

Será que há alguma norma municipal que isente os vendedores de peixe de afixar os preços?

20.11.15

Exigimos quase tudo

Exigimos quase tudo, e damos tão pouco. E o mais grave é que não percebemos o risco que corremos.
Habituámo-nos a fazê-lo, seguindo padrões de outro tempo, como se tivesse chegado o momento da desforra...

A consciência pressupõe que o fazer seja partilhado, mas a verdade é que esta ciência está reduzida ao amor-próprio.

19.11.15

Cansados

Cansados de serem postos de lado, procuraram outro deus e começaram a disparar em nome dele...
Cansados de serem alvos fortuitos, esqueceram o seu deus e desataram a disparar em nome deles...
Cansados do terror, deixaram a terra a outro deus e partiram convencidos de que ainda há um deus...

Um deus, senhor de uma terra onde não haja cansaço...

(As águas de inverno abrir-se-ão e os cavalos do senhor...)

18.11.15

Atos nefandos

O problema dos atos é que, aos olhos de quem os pratica, eles estão sempre justificados. O resto é juízo do outro, da comunidade. Esta pode aceitá-los ou rejeitá-los, reprimi-los conforme os seus interesses, os seus valores...
Deste modo, há que procurar compreender a génese das pulsões de morte e não aceitá-las, rejeitá-las, exaltá-las ou condená-las...e, sobretudo, há que evitar que as condições propícias à sua eclosão se disseminem.
Os atos nefandos, infelizmente, para além do executante e do eventual mandante, resultam de circunstâncias a que a comunidade não pode eximir-se. 

(Este comentário tem o objetivo de contrariar a tese de quem pensa que é possível erradicar o mal, como se este fosse uma entidade estática de natureza individual.)

17.11.15

Sou apenas um alcatruz

Por vezes, convenço-me que o Acaso determina os acontecimentos. O certo é que sempre tive relutância em aceitar que o Fado pudesse anular o livre-arbítrio, fazendo de mim um autómato iludido ou paranoico.

O facto é que, nestes últimos anos, tudo o que me acontece surge como se eu apenas executasse um guião de que não me posso furtar.
Cada dia parece diferente do anterior, no entanto o tempo de escolha vai-se diluindo de tal modo que apenas resta a obrigação de servir...

E nem o Acaso surge para me provar que a roda da Fortuna cai por um segundo para o meu lado - sou apenas um alcatruz, de raiz árabe...