7.8.18

Três fotos de Tarragona


Três fotos - perspetivas distintas. Delas nada direi, pois o leitor detesta maçadas de veraneante...
(…)
Prometo voltar um destes dias,  se a ameaça não se abater sobre mim, pois estou a acabar de ler uma novela de Manuel Puig, intitulada  Maldicion eterna a quien lea estas páginas

Entretanto, será que a sandia deve ser considerada a esposa do sandeu? Por aqui, ela serve-se bem fresquinha; quanto ao sandeu, de momento, só me lembro do epíteto vicentino.


5.8.18

Ao sabor do tempo

Com o aumento da temperatura, a inteligência diminui - a tese não é minha, é de um monge medieval que, no essencial, defendia que o Equador não podia ser habitado pelo homem, ser inteligente...
Por aqui, não é fácil encontrar um jornal ou uma revista e a televisão é insuportável, tal é a algaraviada…
No entanto, hoje consegui comprar o Diari de Tarragona, uma espécie de JN de outros tempos com revista e tudo… e ainda, conforme o local referenciado, escrito em castelhano ou em catalão… o que dá que pensar sobre a geografia regional e humana…
Lido o jornal, ataquei a Revista XL Semanal, nº 1606, e depois de ter dado uma vista de olhos aos disparates verbais de Arturo Pérez-Reverte (meu conhecido de outras viagens), parei no artigo Agenda cultural, de Juan Manuel de Prada, e estacionei no seguinte parágrafo:
La cultura, en el sentido originario da palabra, es el alimento que el alma necesita, para no consumirse ni rendirse a la barbarie; pero lo que nuestra época llama 'cultura' no es otra cosa sino 'vivir com los tiempos' o 'estar a la moda', que como Tacito nos enseñaba no consiste en otra cosa sino em «corromper y ser corrompido».

O motivo desta reflexão terá sido o impulso «del doctor Pedro Sanchez, que para poder assistir a un corcertito de rock en Benicassim tomó el avión oficial»… Parece que esta doença é, afinal, ibérica, embora o grau de servilismo possa ser distinto...

4.8.18

Deve ser do calor...




Apesar dos 35 graus, lá apanhámos o autocarro para B..Cambrils, dando voltas a Salou… O passeio permite perceber como é que a sociedade espanhola se distribui dos mais ricos aos menos pobres… Sim, porque os pobres trabalham em condições deploráveis…
Salou é o coração da riqueza e assim o que vi nesta ida e volta basta-me…
De regresso a La Pineda, senti que os espanhóis quando vislumbram um português é como se estivessem a reencontrar um parente pobre...

3.8.18

Árvores de metal

Não sei se a ideia é homenagear se substituir as árvores - uma ideia com futuro…
A própria água talvez venha a ser de metal... Entretanto, já há quem mergulhe apenas os pés no oceano…
Compreende-se: a senhora se mergulhasse já não conseguiria levantar-se, o que levou as amigas a dar-lhe banho, despejando-lhe baldes por entre os seios, de forma pouco discreta…
Ainda olhei em torno à procura do Almodôvar, mas só avistei um enorme paquete atracado no cais não muito distante…
O resto, pelo que observo, resume-se a mais espaço, a mais gente burguesa, vinda de todos os lugares de Espanha, com alguns franceses à mistura...

2.8.18

Lá fiz a viagem!

A primeira dificuldade encontrei-a na letra S. Em nada facilita o despacho das bagagens - de tanta digitalização, bovinos desorientados, andamos às voltas à espera de um esclarecimento...
A segunda dificuldade resultou dos meus ouvidos não terem sido preparados para voar - qualquer dia hão de parecer chagas de cristo…
À chegada, o mundo parecia outro, as portas acolhiam sossegadamente os passageiros e até as malas surgiram no lugar certo…
Depois, o transbordo decorreu sem incidentes e dentro do tempo previsto…
Mas ainda havia uma derradeira dificuldade - a porta do alojamento. Recebido o código que permitia abrir a porta, alguém tinha dado cabo do sistema… Tudo sem falar na canícula, na desertificação, nas praias repletas de gente...

1.8.18

Bem longe da foz

Eu até posso fingir que vou (estou) de férias, mas, para mim, se as temperaturas sobem acima de 25 graus, elas tornam-se um martírio.
Estranho, não é? Mas sou assim: canso-me, irrito-me, perco a vontade de fazer o que quer que seja…
Com tanta gente a desejar não fazer nada, logo eu procuro estar sempre ativo, mesmo se oficialmente de férias.
Em conclusão, vou passar as férias a fugir do calor, só que não me deixam. Ninguém compreende esta minha particularidade, cuja origem remonta à praia da figueira, bem longe da foz ou, se a canícula aumenta, talvez mais perto...

31.7.18

Não é preciso estar só...

Traversare una strada per scappare di casa
lo fa solo un ragazzo, ma quest’uomo che gira
tutto il giorno le strade, non è più un ragazzo
e non scappa di casa.

Ci sono d’estate
pomeriggi che fino le piazze son vuote, distese
sotto il sole che sta per calare, e quest’uomo, che giunge
per un viale d’inutili piante, si ferma.
Val la pena esser solo, per essere sempre più solo?
Solamente girarle, le piazze e le strade
sono vuote. Bisogna fermare una donna
e parlarle e deciderla a vivere insieme.
Altrimenti, uno parla da solo. È per questo che a volte
c’è lo sbronzo notturno che attacca discorsi
e racconta i progetti di tutta la vita.

Non è certo attendendo nella piazza deserta
che s’incontra qualcuno, ma chi gira le strade
si sofferma ogni tanto. Se fossero in due,
anche andando per strada, la casa sarebbe
dove c’è quella donna e varrebbe la pena.
Nella notte la piazza ritorna deserta
e quest’uomo, che passa, non vede le case
tra le inutili luci, non leva più gli occhi:
sente solo il selciato, che han fatto altri uomini
dalle mani indurite, come sono le sue.
Non è giusto restare sulla piazza deserta.
Ci sarà certamente quella donna per strada
che, pregata, vorrebbe dar mano alla casa.

Lavorare stanca - Cesare Pavese

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Atravesar una calle para escapar de casa
puede hacerlo un muchacho, pero este hombre
que anda
todo el día por las calles ya no es un muchacho
y no escapa de casa.

Hay tardes de verano
en que hasta las plazas se vacían, tendidas
bajo el sol declinante, y este hombre que llega
a una alameda de inútiles hierbas, se detiene.
¿Vale la pena estar solo, para estar siempre más
solo?
Trabalhar cansa

Não é preciso estar só para sair de casa e encontrar-se nas ruas desertas ou movimentadas, basta folhear uma página amarelecida pelo tempo e perguntar-lhe quem são estas criaturas tão silenciosas, ali esquecidas.
Desta vez, por um instante dessa solidão sobressai Cesare Pavese (1908-1950), cuja voz só o silêncio poderá consagrar, mas para isso é necessária a disponibilidade por ora perdida… esperemos que não para sempre!