8.2.24

Chove...

Lá fora, chove. O estranho é que cá dentro também chove.
A chuva das ruas escorre para as sarjetas.
A chuva desta sala cresce sem se escoar... Avoluma-se à espera que as comportas se abram, mas estas recusam-se.
A chuva das ruas corre até se perder...
A chuva desta casa avoluma-se até nos perder.

4.2.24

A vertigem reivindicativa

Partindo do princípio de que somos todos iguais, então merecemos todos ser premiados do mesmo modo...
Pois é, sempre pensei que não era bem assim e, sobretudo, que reivindicar seria um ato de dignidade que não deveria por em causa a segurança das pessoas e afundar a coletividade.
De momento, o que surge na rua é um movimento que visa acabar com o regime democrático e, como tal, não acredito que venham a impedir o ato eleitoral de 10 de março, pois os antidemocratas desta Hora procuram por todos os meios atingir nesse dia um resultado que os coloque no poder.

1.2.24

A queda


Ninguém quer cair, mas a queda é inevitável. Dizê-lo é absurdo. Escrevê-lo, desnecessário. Não fosse o ritmo e há muito teríamos deixado tal termo de parte...
Neste hemisfério, em fevereiro, o ritmo começa a empolgar, mas insistimos em tropeçar. 
O melhor é desligar dos media: caminhar ou voltar às NUVENS de Aristófanes... e esperar que o raciocínio injusto dê cabo dos argumentos do raciocínio justo.
Sucedem-se os exemplos de queda, no entanto nada nos diz que o castigo esteja próximo, tantos são os sofistas...
 
Começo a pensar que a queda é culpa do pensamento socrático ou, talvez, do castigo cristão. 

25.1.24

Folhas Caídas

 

Esta folhagem não caiu, foi arrancada das margens do rio e seus afluentes, e esta tarde procurava o mar...

Um destes dias, fui ver o filme FOLHAS CAÍDAS, produção finlandesa... Do filme gostei, mas fiquei com uma péssima impressão da 'ordem' daquele país... trabalho precário, droga, álcool - relações humanas nulas.... (um destes dias, a Federação Russa atravessa a fronteira!)

Fiquei muito bem impressionado. Vê-se que estamos diante de um jovem psiquiatra com uma abordagem desempoeirada, com ideias claras que bem poderiam ser aproveitadas pelo SNS...

E já agora, decidi retirar deste blogue a minha lista de leituras. Afinal, a quem é que elas poderiam servir? A vaidade cresce e acaba por nos fazer mal. 

(Sócrates vai a julgamento por corrupção. Acusação do Ministério Público quase toda reposta.)

21.1.24

Lá atrás

" No meio do quarto a piscina móvel
tem o tamanho do corpo sentado."
   Carlos Drummond de Andrade

Lá atrás, faltava a palavra 'piscina', sobrava o alguidar que tanto servia para depenar a galinha, como para demolhar a roupa e o bacalhau, à vez... E por último, o banho do menino e do avô.
Meninas, não havia ou escondiam-nas, como acontecia na escola, inventada só para elas...
No alguidar, caía o porco e a porca, o galo e a galinha, só menina não caía...
Se a água fervia, a pele, como a da cobra, soltava-se.

Lá atrás, as palavras eram poucas e mal enunciadas, no dizer do professor para quem a norma era divina. Não havia casa de banho, não fazia mal, e se alguém decidia (podia) construir uma, então era o cabo dos trabalhos - licenças, taxas, fiscais... tudo em nome da ordem.
Lá atrás, não havia promessas de que me lembre, a não ser a da entrada direta no reino dos céus, desde que não perdêssemos a pobreza de espírito com que viemos à luz... ou então sermos lançados na casa das cobras que, para o efeito, ficava nos fundos da torre sineira...

19.1.24

Só agora...


Há mais de 10 anos que conheço este cacto e só agora lhe descobri a flor... depois de ter sobrevivido à  recuperação do canteiro... E não pensem que andei distraído!
Coincidência, ou talvez não, só agora me virei para Aristófanes. Tenho devorado as comédias: já vou nas Rãs, concluida a leitura das Vespas e das Aves.
Gastei parte da vida a parafrasear Sófocles e, por vezes, Ésquilo... e agora descubro um primoroso retratista do século V antes de Cristo.
De  facto, a corrupção, a mentira, a mediocridade já tinham assentado arraiais à sombra da democracia. Nem os deuses do Olimpo escapam. Tudo a nu!

11.1.24

Mudar de vida

 

É tarde!
De qualquer modo, hoje fomos à Cinemateca ver o filme de Paulo Rocha, MUDAR DE VIDA, 1966.
Em 1966, fazia 12 anos e habituava-me à 'camioneta da carreira'. O filme abre com a chegada de uma camioneta muito semelhante... Dela, apeia-se Adelino. O meu pai, destruidas as vinhas pelo granizo do início do Verão, partira para França, acompanhado de um jovem que fugia à guerra colonial. ( Nunca mais soube nada dele!)
No filme, Adelino regressa de Angola, para onde fora mobilizado em 1961. O filme não o diz, porque cumprido o dever patriótico, por lá ficou, sem efetivo proveito nem dar notícias...
Regressa, preso de amor impossível e sem coragem para ajustar contas com o irmão. Afinal, ele não dera notícias, e Julia (Maria Barroso) acabara por casar... Júlia tem todos os achaques típicos da heroína romântica. (Não foge à convenção. É salva pela representação de Maria Barroso e pela fixação da câmara.
No Furadouro, a miséria, imposta pelos homens e pelo mar, é uma constante. O tempo parece outro, já descrito por Raúl Brandão. A verdade é que, apesar da antífrase, não se compreende que ninguém parta... Ou seria impossível? Só lhes restava a sepultura. Demasiado triste!
Interessante: os efeitos da alterações climáticas estão bem presentes na vida dos pescadores do Furadouro.