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23.9.13

António Ramos Rosa

Entrega-se
como para morrer
mas não morre

É demasiado rígida
e não tem gretas
não estremece

Cai
vai caindo
sem atingir o repouso
sem oferecer o rosto

à terra
que ela chama

(JL, Ramos Rosa, 13.11.1990)


Rosa, António Ramos[1] (17.10.1924 -21.09.2014). Fez estudos liceais no Algarve (Faro, até ao 6º ano do Liceu) e trabalhou como empregado de escritório, actividade que abandonou, sendo explicador e tradutor (durante mais de 20 anos). Foi co-responsável pela edição das revistas: Árvore; Cadernos do Meio-Dia. Foi um elemento activo do MUD Juvenil, tendo sido presidente da Comissão Distrital de Faro. Esteve 3 meses preso no Aljube por ter subscrito um manifesto por ocasião da comemoração do 5 de Outubro de 1947. Considera-se um antifascista genuíno, simpatizando com a democracia directa. Entende a poesia como forma de conhecimento, como arte do impossível, um acto fundador, para dissipar o que está escrito[2]. Em 1971, Ramos Rosa rejeita o Prémio Nacional de Poesia, concedido ao livro “Nos Seus Olhos de Silêncio”, porque se aceitasse entraria no jogo de compromisso com o fascismo.[3] Quanto às influências de João Cabral de Melo Neto, considera-as muito pequenas[4]. É de 1958, o seu poema «O funcionário cansado”: / Sou um funcionário apagado / um funcionário triste / Obra: Grito Claro (1958); Viagem através duma Nebulosa (1960); Poesia, Liberdade Livre (ensaio, 1962); Ocupação do Espaço (1963); Construção do Corpo (1969); Nos seus olhos de silêncio (1970); Não Posso adiar o Coração (1975); As Marcas no Deserto;[5]  Gravitações (1983); Incisões Oblíquas (ensaio, 1988); Acordes (1989)[6]; Pátria Soberana (2001); Os Volúveis Diademas (2002), ed. Ausência; Em 1988, recebeu o Prémio Pessoa pelo conjunto da sua obra. Para A. Ramos Rosa: «a prática poética ou artística é sempre um fenómeno social que só se justifica e identifica pela sua inerente capacidade subversiva.»[7]

(Nota de leitura necessariamente incompleta.)


[1] - Não posso adiar para outro século a minha vida / nem o meu amor / nem o meu grito de libertação / não posso adiar o coração. // Não posso adiar / ainda que a noite pese séculos sobre as costas / e a aurora indecisa demore./
[2]  - / É preciso queimar os livros e calarmo-nos / Esta é a matéria bárbara a matéria viscosa /
[3] - Entrevista conduzida por José A. Salvador, Diário Popular.
[4] - No entanto, reconhece influências de Drummond de Andrade e Paul Éluard, assim como dos poetas espanhóis da geração de 27  (Guillén, Vicente Aleixandre e Pedro Salinas). E ainda dos norte-americanos: Theodore Roethke e Wallace Stevens.
[5] - Livro oferecido aos 80.000 jovens que se reuniram em Bolonha, em 1977.
[6] - Prémio de Poesia APE /CTT.
[7] - Entrevista dada a Baptista-Bastos, a 9 de Abril de 1981.