27.6.12

O distribuidor

Decorria o Portugal-Espanha, e eu pus-me ao caminho. A linha vazia! Nem sombra de TGV!

(Embora não perceba nada de futebol, quando olho para a colocação dos jogadores em campo, procuro, de imediato, o distribuidor. Hoje, como nos últimos tempos, não vi ninguém com essa capacidade! A simples hipótese de uma vitória resultar de uma cavalgada desenfreada por uma das alas causa-me calafrios!)

Entretanto, nada faz sentido. Para quê combater a Espanha se dela somos uma parte!? Se queremos ganhar o Europeu / um lugar no mundo, devemos começar por ganhar Portugal… e isso só acontecerá a partir do dia em que a Ibéria se constituir num verdadeiro espaço cultural, económico e político. E para isso, as nações ibéricas precisam de distribuidores.

( O distribuidor é aquele indivíduo que tem uma visão global do campo / do espaço ibérico e é, a cada momento, capaz de flanquear o jogo.

A Ibéria sempre teve os seus defensores, mas os nacionalismos oportunistas têm vingado sempre.

Agora que perdemos, o melhor é apoiarmos Espanha na próxima partida… e talvez o TGV volte a fazer sentido!

26.6.12

A porta

Sentados (ou deitados?) esperamos a resposta. Talvez o telefone toque, um amigo envie uma sms ou um email caia na caixa de correio. De vez em quando, reunimos e exigimos… que o telefone toque, o amigo envie uma sms ou o email nos traga boas notícias.

Lá fora há um caminho (até vários!), mas o difícil é vencer a porta e sair. Sair, percorrer o caminho, as vezes que for necessário, disponíveis para agarrar o destino – o nosso!

( Quando a escola não nos deixa caminhar.)

24.6.12

Um dia perguntei


«Há, por um lado, o romance que analisa a dimensão histórica da existência humana, e por outro lado, há o romance que é a ilustração de uma situação histórica, a descrição de uma sociedade num dado momento, uma historiografia romanceada. (…) Ora, eu nunca me cansarei de repetir: a única razão de ser do romance é dizer aquilo que só o romance pode dizerMilan Kundera, Conversa sobre a arte do romance
Um dia (02.05.1997) perguntei se, para compreender o romance PAULA de Isabel Allende, seria necessária conhecer a História do Chile, mas, à luz de Kundera, o ato era de retórica – « Não. Tudo o que precisa de saber, o próprio romance di-lo.»
Apesar de saber a resposta, a questão era heurística – visava encaminhar o aluno a descobrir por si mesmo… Contava com o desejo, o interesse do aluno…
Por seu lado, o aluno ansiava pela resposta que lhe evitasse percorrer o caminho. As exceções eram raras!
(Hoje, esse caminho continua por percorrer!)

22.6.12

Do ensaio…

Foi com Montaigne (1533-1592) que a literatura se assumiu como literatura de ideias – ESSAIS. Para o ensaísta, o texto, sem descartar o tom panfletário, expõe uma epifania, uma visão súbita do mundo sem passar pela ficção imaginada.

Como se sabe, a fortuna de Montaigne resultou da capacidade de fundir elementos oriundos de géneros diversos nos ESSAIS, como se eles mais não fossem que a matéria de que o ensaísta era feito: «Je suis moi-même la matière de mon livre

Ora, parece que José Saramago, à semelhança de Montaigne, ao escrever certas obras – O Manual de Pintura e de CaligrafiaEnsaio sobre a Cegueira / Ensaio sobre a Lucidez – visava não só dar expressão a essa «visão súbita do mundo», em tom irrisório, mas passando pela «ficção imaginada», passe a redundância.

E foi essa opção que permitiu que Saramago fugisse à explicação sistemática, ocultando a ideologia, mas lançando sucessivos foguetes no coração da noite.

Uma noite sem fim!

20.6.12

O fluxo da serpente…

I - Sempre que entro num hospital, instalado num edifício adaptado ou construído para o efeito, sinto que falta ali alguém que saiba gerir o espaço: as pessoas amontoam-se sem que ninguém as encaminhe devidamente. Nos próprios gabinetes médicos, o espaço é diminuto…

Por outro lado, há funcionários totalmente incapazes de gerir o movimento de tantas pessoas, frequentemente incapacitadas. Fico sempre com a sensação de que ali não há qualquer tipo de supervisão! Cada um está por sua conta: pacientes, auxiliares, enfermeiros e médicos. E nem vale a pena falar do pessoal administrativo, transformado em cobrador, e a braços com a avaria intermitente do sistema informático!

De qualquer modo, hoje, consegui realizar os exames solicitados, mas necessitei de fazer uma leitura fina do fluxo da serpente que por ali se move…

II – Consta que o texto do I Grupo do Exame de Português do 12º ano foi conhecido antes das 9 horas do dia 18 de Junho.Será possível? Já em anos anteriores fiquei com a sensação de que certas respostas só seriam possíveis conhecendo previamente as perguntas!

19.6.12

Prova 639/1ª fase 2012

Esta prova em nada difere das dos anos anteriores. 

No Grupo I A, as operações exigidas são, por ordem: identificar e nomear qualidades; explicitar a intenção crítica; sintetizar opinião; explicar a mitificação do herói. Ao aluno é atribuída a tarefa de comprovação e não de descoberta das linhas de força do texto. Claro que as orientações continuarão a dizer que o objetivo visa testar a competência interpretativa do leitor… Esta forma de formular as questões não permite distinguir a verdadeira competência interpretativa, e a estatística encarregar-se-á de comprovar que vivemos num tempo de mediania…

No Grupo I B, é pena que em todo o MEMORIAL DO CONVENTO não tenham encontrado uma passagem mais adequada para ilustrar a necessidade de rescrever a História do Povo. A tentativa de individualização do herói popular mais não é do que um gesto voluntarista, mas inconsequente, pois a memória dos nomes próprios esfuma-se facilmente.

No Grupo II – A formulação impede o erro. As alternativas, em regra, são inverosímeis.

No Grupo III – O tema a POPULARIDADE, de certo modo, determinado pelo TEXTO do Grupo I A (de Camões), poderia conduzir a uma reflexão interessante sobre os caminhos que hoje trilhamos. Mas não! A instrução atira, de chofre, o aluno para os braços de programas televisivos de grande audiência e, sobretudo, para as redes sociais, diga-se, facebook. Pobres professores classificadores, vão ficar com a cabeça à roda com tantos pontos de vista!

17.6.12

Que importa!


Que na Grécia se vote sem que o povo consiga clarificar o que quer! Que, no europeu, ganhar ou perder possa nada significar em termos de apuramento! Que, em França, os eleitores votem em função de ajustes de contas! Que significado pode ter tudo isso?

Por aqui, basta-nos a promessa de um bebedouro!  E este parece ter a majestade exigida pela função!