20.7.12

Um país de equívocos

I - Os incêndios deixam os pobres mais pobres. Raramente, se ouve falar de um rico vítima de incêndio!

Os incêndios deixam o país mais desolador. E não se percebe porquê!

A senhora ministra da agricultura, das florestas… bem podia criar um projeto de limpeza do território. E digo limpeza, porque o território está sujo e floresce sem qualquer controlo. E são esta sujidade e este desleixo os responsáveis pela repetição dos incêndios, novo pasto das televisões e consequente manipulação dos telespectadores.

A senhora ministra dos matagais deveria pugnar pelo asseio. Bastava que contratasse 10% dos desempregados para proceder à limpeza dos caminhos, à poda das árvores e à desmatação…

II – A morte de José Hermano Saraiva traz-me de volta o irmão, o António José Saraiva.

Ambos cavalgaram a História, mas fizeram-no de modo bem distinto. O rasto que deixaram mostra uma forma bem diversa de encarar a política, a literatura e a comunicação… e por isso este ruído da morte

… um ruído de tambores que anula o canto triste da avezinha…

19.7.12

Por uma república formatada

I - Nada melhor que a leitura de uma instrução de exame, por exemplo, de Literatura Portuguesa, para se compreender a alma do avaliador (GAVE) e o futuro que nos espera:

Tendo presente a leitura que fez de textos de um dos poetas indicados no módulo do programa intitulado «Romantismo, Realismo e Simbolismo» – Almeida Garrett, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre ou Camilo Pessanha –, refira os dois aspetos a que atribui maior importância na obra do poeta por si selecionado.
Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras.(
2012, Prova 734, 2ª fase)

Como se vê, é simples: durante um ano, memorizam-se três ou quatro respostas, de cem a duzentas palavras, e já está! E também nunca percebi se um texto com 100 palavras é equivalente a um de duzentas, quando se disserta ou argumenta… E todos os anos é isto!

A Literatura vê-se, assim, reduzida a opinião, quando não a «achismo» imbecil!

Pobre Literatura! Pobre País!

II - O ministro da Educação, Nuno Crato, não promove a prospetiva no seu gabinete. Parece não ter nenhum assessor capaz de prever situações que poderão resultar dos seus atos. Situações felizes e infelizes!

Preocupado com a transparência da sua ação, reduz o número de horas de aprendizagem, aumenta o número de alunos por turma, aumenta a carga horária dos professores e surpreendido com o efeito dessas decisões, confessa que nunca pensara que poderia criar milhares de horários-zero e, sobretudo, que isso poderá empobrecer ainda mais o estado da educação. 

Claro que Nuno Crato sabe muito bem o que é a prospetiva, ele que tanto ama a arte de calcular!

17.7.12

Despertar temporão

Hoje é um daqueles dias em que acordo antes da hora prevista e não sei se coloque a máscara da caruma se do vagabundo. Um dia em que vou precisar de máscara…

O despertar temporão traz-me de chofre uma experiência de véspera: a autoridade tributária e aduaneira, para efeitos de cobrança, impõe 350 € como mínimo de venda de uma propriedade mesmo que o valor seja apenas de 1 €.

O despertar temporão também me traz uma preocupação: como é que vou reagir à valorização das obras de fachada que me vão querer vender ao longo do dia?

Talvez tivesse sido melhor não ter acordado!

De qualquer modo, caruma ou vagabundo sempre é melhor que “a apagada e vil tristeza” em que soçobramos!

13.7.12

O vagabundo

Quando com uma mão nos dão autonomia e com a outra nos condicionam a decisão, apetece mandar tudo às urtigas e partir para uma longa viagem de vagabundo, a pé e / ou à boleia, mesmo que não seja ao serviço de Portugal.

Um vagabundo do tipo daquele que Camilo José Cela consagra na obra “Vagabundo ao serviço de Espanha”.

O vagabundo de Camilo José Cela, visto ter palmilhado meia Espanha, lido demoradamente as histórias dos lugarejos que ia atravessando, partilhado fraternamente os palheiros que lhe cediam para repousar das canseiras  ou curtir os excessos raros e inesperados do prazer da gula ou do sexo, debatido com cónegos, alcaides, feirantes e prostitutas…, a esta hora já deveria ter acumulado uns milhares de unidades de crédito e ser magnífico reitor de uma qualquer vetusta universidade aristotélica…

De facto, o conhecimento do vagabundo de Camilo José Cela é infinitamente  superior ao saber do excelentíssimo ministro relvas até porque aquele viajante age segundo um princípio  que considero fundamental: – não se atravessar no caminho de ninguém!

E o que me  impressiona no vagabundo é que este pícaro, à força de palmilhar a Ibéria, sabe que em cada aldeola, vila ou cidade  o relvas não é a exceção.

9.7.12

A mão cega dos classificadores



Hoje é o dia em que muitos jovens sentiram que uma mão pesada se abateu sobre eles, apesar de terem trabalhado arduamente ao longo de dois ou três anos.

E essa mão cega ceifou a torto e a direito na seara que lhe foi imposta. 

E é preciso não esquecer que avaliação destes jovens está a ser feita sem qualquer equidade. Classificadores há que recebem formação e classificadores há que são nomeados à pressa!

Quando olho para os resultados que me vão chegando, vou perdendo a fé na idoneidade profissional dos classificadores. Há resultados de sacos de provas que deveriam ter sido aferidos antes de serem publicados. Provavelmente, não o foram porque vivemos em tempo de austeridade, mas esta não destrói apenas o corpo… pode minar, sobretudo, os valores, tornando-nos má moeda.

7.7.12

ÁREA DE NÃO CAÇA



ÁREA DE NÃO CAÇA

Gosto da expressão nominal: é apelativa como se exige! Apesar da proibição, não vislumbrei mais do que duas ou três carochas… Frustrado, segui o caminho serpenteado e privado,  desembocando numas perigosas arribas.

Na verdade, o mar vem devorando a terra, e os pinhais parece que deixaram de combater a erosão.

Em tempo de crise, talvez pudéssemos instalar uns tantos hidrantes… dávamos emprego a certos autarcas, protegíamos a escassa floresta e, talvez, limitássemos a erosão.

Creio, entretanto, que estamos a necessitar de um termo alternativo para “floresta”… Bosque? 

6.7.12

A hidra

Boca-de-incêndio? Tomada de água? Marco de água? Não! Hidrante é que é! Tal e qual como no Brasil… ou será um anglicismo – hydrant? De qualquer modo, ao investigar acabo por entender que o hidrante é um hiperónimo, pois designa equipamento de segurança usado como fonte de água, caindo a boca-de-incêndio sob a sua alçada…
… a alçada da serpente que nos pode devorar ou, então, levar-nos de regresso ao Brasil. O fio de areia, perdida a cabeça, estende-se para Sul, tão azul que nos faz esquecer o ponto de partida.
No meu caso, faz me esquecer que existem instituições que dão cursos em bandeja de ouro ou explica-me por que motivo, tendo um dia sido designado para um júri de apreciação do currículo de uma venezuelana, nunca mais repeti.
Acontece que votei contra as equivalências solicitadas, porque não reconheci à candidata competência em várias matérias e, sobretudo, qualquer domínio da língua portuguesa.
Afinal, isso poderia ter sido ultrapassado com uma classificação de 10 em Língua Portuguesa I, II, III, IV. Será que já alguém solicitou o programa destas 4 cadeiras?