25.3.14

Quando o saldo negativo é positivo

A execução Orçamental de fevereiro apresenta um saldo negativo de 30 milhões de euros, de acordo com os critérios da troika. O ministério das Finanças destaca que é uma melhoria de 150 milhões de euros, em comparação com o mesmo período do ano passado.


Os portugueses estão mais pobres! O saldo da execução orçamental de fevereiro é negativo! O governo vê algum problema? Não.  Menos + menos = mais


Até 25 de maio, vai ser sempre assim: o sol brilha, a areia regressa, o mar recolhe, a troika vai a banhos para a Ucrânia, a merckl fia audis para que um ou dois portugueses possam ficar mais endividados, as palavras de apoio abundarão...
                            

24.3.14

Imaginar, hoje

«Imaginar é ausentar-se, é lançar-se numa nova vida.» Gaston Bachelard, O Ar e os Sonhos

Muitos dos meus alunos entendem que "imaginar" é sair de si, evadir-se da prisão em que se encontram: casa, sala de aula, trabalho... Enamorados de si ou siderados por um outro passam instantes fantásticos, longe dos problemas. No sonho, no cinema, na praia, nos mares do sul ou, simplesmente, navegam na net ao encontro de imagens de vitórias e de ecos. Fumam a vida!
Outros compreendem que "imaginar" não pressupõe que se abandone o corpo, o lar, a sala de aula, o trabalho... apenas sentem que imaginar é  equacionar o problema e não descansar até que os sonhos, as tentativas, os erros se materializem em novas ferramentas...
A diferença está em que os primeiros se ausentam de si, se tornam improdutivos, ociosos, enquanto que os segundos se esquecem de si para gerarem vida...



23.3.14

A chave de Saramago

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Alberto Caeiro, Há metafísica bastante em não pensar em nada...)                   http://arquivopessoa.net/


O diálogo com Deus é questão antiga. Não vou reacendê-la, porque não estou em condições para o ver entrar pela janela, pelo menos enquanto ela não for de alumínio lacado...
E bem sei que Saramago nunca deixou de acertar contas com esse Deus tirano que permitiu que por muito tempo ele crescesse longe da abundância e da igualdade.
Compreendo, assim, que Saramago preferisse a simplicidade de Caeiro para quem a vírgula era sinal suficiente para apreender a realidade, desfazendo toda a metafísica de quem não sabe caminhar por si, de quem não sabe sentir por si...

E de repente tudo começa a fazer sentido quando a M.N.L. resolve enviar-me um mail a explicar-me que, tendo colaborado e estado presente no lançamento do livro "A Sala de Aula", de Maria Filomena Mónica, sentia necessidade de agradecer-me por desafiar os alunos a pensarem por si e não a reproduzirem saberes inócuos...
Esta simpática aluna tem toda a razão! Durante 40 anos foi esse o meu desafio. E também era o de Pessoa / Caeiro e de Saramago... e já agora de Camões!
Não por limite de idade, mas porque o Ministério da Educação reduziu o pensamento a um sistema binário no qual não há lugar para a dúvida... nem para a surpresa da vírgula, informo que brevemente abandonarei o ensino.



22.3.14

O passado de pouco nos serve

O passado de pouco nos serve, apesar de haver quem nos queira infernizar os dias com histórias mal ordenadas. Também há aqueles que tudo fazem para colocar uma pedra sobre atos que condicionam as nossas vidas. 
Por omissão ou por saturação tudo se torna passado e deste modo o presente desfaz-se em euforia para os que servem o poder e em disforia para os que não conseguem fugir ao seu raio de ação.
A transição entre passado e presente deixou de ser objetivo da educação e como tal os sistemas educativos já não fazem sentido...
Ainda há quem viva dessa mediação, mas será por pouco tempo. E quem o não compreender, não sobreviverá.

O passado não é exemplo, porque deixámos de ter rumo. À deriva, nos desencontramos...



21.3.14

Falta-nos a cólera do filho de Peleu

Canta-nos, deusa, a cólera de Aquiles,
o filho de Peleu;
a cólera fatal que tantos males
provocou aos Aqueus;
a cólera que tantas nobres almas
nos infernos prendeu
e que de tantos corpos fez pasto
para as aves do céu.
Pois deste modo é que se ia cumprindo
o desígnio de Zeus.
Homero, Ilíada, Canto I (trad. David Mourão-Ferreira)

Falta-nos a cólera
Falta-nos a cólera que desfaça a desfaçatez dos tiranos
Falta-nos a cólera que dilua a untuosidade dos interesses
Falta-nos a cólera que combata a indiferença dos amorosos
Falta-nos a cólera de Aquiles

Tudo porque Zeus deixou de ter qualquer desígnio...
Nem no dia da Poesia a Deusa pode cantar o filho de Peleu...
E as aves do céu bem podem esperar!

Se a poesia queremos celebrar
Que a cólera não nos falte
A cólera...

20.3.14

A Primavera que o não é

A Primavera nem é prima nem é vera!
Não é vera porque tudo soa a embuste e não é prima porque já vem gasta...
Até parece que os sinais de vida só agora começam a piscar... um pouco como se no resto do ano estivéssemos de luto.

Pássaros tontos, andamos por aqui às voltas, à espreita da semente podre até que o passarinheiro nos capture.

19.3.14

Com a idade aprendemos...

Com a idade aprendemos que há comportamentos que não mudam mesmo que as certezas diminuam. Isso acontece geralmente com os falsos rebeldes que, na verdade, tudo fazem para esconder as fraquezas que os atormentam...
Num país de gente fraca, quem comanda é a fanfarra e a fanfarronice torna-se genuína. Irresistível!

No entanto, no mesmo país, ainda há gente aprumada, que merece a nossa consideração, sobretudo quando, pelo trabalho e pela inteligência, se supera e nos surpreende...

Com a idade aprendemos a tolerar os primeiros e a incentivar os segundos. Convém é que o façamos com elegância!