15.8.17

A origem da tragédia nacional

Em primeiro lugar, a ignorância. Em segundo lugar, a ganância. Finalmente, a incompetência.
De forma abreviada, é esta a resposta para tanto desastre. 
Neste cenário, estamos a ser governados por incompetentes gananciosos que abusam da ignorância das populações rurais e urbanas e que, também, elas sonham vencer a vida a qualquer custo...
Por isso há tantos candidatos ao exercício do poder local e central. Infelizmente, falta-lhes quase tudo - em primeiro lugar, a sabedoria; em segundo lugar, o despojamento; finalmente, a competência...

Se o rio vai seco, espera-se que a chuva caia...
Se o mato arde, espera-se que chova e que a vegetação não volte a crescer...
Se as árvores escondem o vazio que as mata, espera-se que não tombem quando a festa decorre...
Se morre tanta gente, espera-se que o Senhor a acolha e a proteja dos fogos letais...

Agora até temos um Presidente que gasta os dias a correr para os cemitérios, como se tivesse sido contratado como carpideira...
  

14.8.17

O mal da escrita no reino do compadrio

(Este romancista ( o Poeta) bem tenta que o leitor lhe envie um sinal, mas sem o menor sucesso...)

O demónio que me aterrorizava, quando na minha horta substituía o pai que partira para os bidonvilles parisienses, não estava certamente à altura dos patrões franceses que humilharam o António quando este procurava viver com alguma dignidade o exílio a que se vira forçado por uma ditadura que condenava os seus filhos a uma morte precoce...
Talvez seja por isso que não encontro, em Palingenesiao pai do (autor) Silva Carvalho - a figura do pai surge diluída na figura do tirano, que tanto pode ser patrão, como seu substituto num universo capitalista nojento... (O leitor toma, no entanto, conhecimento que os pais lhe pagaram as propinas durante dois anos e o visitaram em Paris.)
Este autor ou, melhor, este homem que sonhava não ser pai, mas mãe, porque a mulher é a verdadeira criadora... e talvez seja por isso que a descoberta da sexualidade, à medida que o romance evolui, se torna mais humana, mais relacional, menos demoníaca... Este autor, afinal, só procura o diálogo...
Silva Carvalho escreve este romance não apenas para recriar o espírito da época, submetendo-o a uma abordagem diferente - o mal da escrita:

« O essencial, contudo, não me parece que seja escrever direitinho, mas, pelo contrário, aceitar o mal da escrita para que ela nos possa revelar o que a trabalha e assim nos acalenta, de uma forma ou de outra.»  op.cit, pág,238.

Terminada a leitura deste romance, espero ainda cumprir o reiterado desejo do Silva Carvalho:

«Lembrem-se, a intenção deste livro era chamar a atenção sobre a minha obra poética, onde penso que atingi a qualidade não só de obra mas também a de destino, como mais lídima manifestação do que ainda se chama de cultura.» op.cit. pág. 143.

12.8.17

A minha horta

A horta
Espero que o proprietário atual do terreno não se aborreça com esta foto.
Registo-a, aqui, apenas como testemunho de um dos lugares onde comecei a trabalhar com cerca de 4/5 anos - a horta, situada na "Ingueira", na encruzilhada do Carvalhal do Pombo com  o Cabeço Soudo e a Rexaldia.
Desse tempo, resta a nora, que puxada por uma burra, me garantia a água necessária à rega diária.
A horta, hoje, é pequeníssima, se comparada com a daquele tempo, que estaria melhor organizada e me dava um trabalho dos diabos. Lembro que, para além das batateiras, dos tomateiros, dos feijoeiros, das aboboreiras, da beterraba, das couves de vários tipos, das alfaces, das cenouras, também lá havia três ou quatro laranjeiras e que, ao lado, corria a ribeira que assegurava a água do poço...
Embora o trabalho não fosse remunerado, a não ser com o almoço e o jantar, alguma roupa e um par de sapatos de tempos a tempos, creio que a Geringonça não deveria deixar de fora os pequenos trabalhadores, cuja atividade teve início mal começaram a andar... 

11.8.17

A coisa e a imagem


Praia do Atlântico - Troia
O que eu vi não é o que a foto mostra. Tudo estava no devido lugar. A luz intensa tostava e o azul era límpido. Apesar do bar estar abandonado, nada se me afigurou tão cinzento. Será que a ausência daquele equipamento, numa praia com bandeira azul, contaminou tudo à volta?

10.8.17

Ficar em silêncio

Sempre que as férias se aproximam, decido continuar a catalogação e o registo de publicações acumuladas. Não sei bem para quê, embora lá no íntimo acredite que, assim, estarei a facilitar a vida a quem quiser desfazer-se de tal acervo...
Por outro lado, desconfio que a tarefa tem uma outra motivação: folhear ou voltar a rememorar todo um conjunto de existências que, doutro modo, não me questionariam a não ser pela acumulação de pó e do horrendo bicho do papel - o lepisma saccharina...
Este procedimento tem, no entanto, um custo: em vez de avançar na tarefa, perco-me na leitura breve de cada livro, de cada revista..., fazendo esperar as leituras que tenho em curso e em projeto, como acontece com a Palingenesia,  com Sursis e com No Ano da Morte de Ricardo Reis - o primeiro para pagar a dívida ao (António) Silva Carvalho, o segundo para completar a leitura da trilogia de Jean-Paul Sartre (Les Chemins de la Liberté) e o terceiro, por obrigação profissional, pois a leitura que dele fiz já se escapuliu da minha fraca memória...
(Lembro-me agora que ainda hoje pensei que o Silva Carvalho bem poderia recuperar o 'António' para se diferenciar definitivamente do Armando... Espero que este apagamento da identidade não resulte de nenhum trauma com origem no velho 'estado novo')...
O que não se entenderá é por que motivo, tendo dado a esta postagem o título "Ficar em silêncio", não me calo. A razão é simples, é porque tenho aqui ao lado um livrinho intitulado Elogio do Silêncio, de Marc de Smedt, e não resisti a folheá-lo, tendo, de imediato, poisado os olhos na afirmação de que o "silence" surgiu na língua francesa (?) em 1190, descendendo do latim SILENTIUM, com a particularidade de "ser o único substantivo masculino que acaba em ence, en francês..."
Ora, digam lá se o melhor não seria eu ficar em silêncio, pelo menos, nas férias!

9.8.17

A única ficção - (António) Silva Carvalho

«A única ficção que me atrai é a realidade.» Silva Carvalho, Palingenesia ou o estado e o processo do romance, pág.116, Fenda, 1999

Neste caso, por mais que o Autor se queixe de não estar suficientemente preparado para construir o romance segundo as leis do género - muito permissivo, diga-se -, como leitor, o que me interessa é o próprio Silva Carvalho..., pois na obra encontro muito do que da sua própria boca, em tempos anteriores à escrita, ouvi...
No romance, o homem ganha coerência. E, por outro lado, a História daquela época recupera uma dimensão bem distinta da que habitualmente é transmitida pelos "filhos-família" que se autoexilaram em Paris, no Bairro Latino...
Ao ler, tão tarde, este romance, compreendo melhor o sofrimento daquele que, desde cedo, percebeu que a ideologia mais não é do que uma forma de opressão... e que, até hoje, se manteve distante e discreto, embora, lá no fundo, acredite que o tempo se encarregará de lhe reconhecer o caminho...
O problema é que a realidade vive refém da memória, sendo muitas vezes difícil revivê-la sem recurso à imaginação, à ficção.

8.8.17

Promo internet. A MEO abusa do cliente

Acabo de receber da MEO a seguinte mensagem: «PROMO INTERNET: o seu pedido de desativação foi recebido com sucesso. Obrigado.»

A MEO é simpática! Sempre pronta a premiar o cliente...

Resolveu premiar-me com dois gigas até 31 de Agosto. Ativou-os em todos os cartões da meu pacote MEO. Não me pediu autorização para o fazer! Mas informa que, a partir de 1 de setembro, o cliente passa a pagar mais 3,98 euros, a não ser que ligue para o nº 800200023, a pedir a desativação...

 Obrigado a pedir a desativação de um produto que não solicitei!