24.2.22

O que fazer com 100.000 homens?


Deixá-los à míngua não seria boa ideia.

Só a vertigem os ajuda a compreender o que fazem na fronteira. Não a ultrapassar seria um suicídio. Por isso avançam confiantes da sua razão aniquilidadora - vieram ao mundo para destruir e nada os irá impedir, pensam os 100.000 homens conduzidos à linha da frente, sem perceber que, nas suas costas, já foram descontados...

Do lado de cá, o esplendor das noites mal dormidas, fazendo de conta que os 100.000 homens, um destes dias, regressarão a casa como se nada tivesse sido destruído.
2.
Avisam-me que são 200.000 homens, o número pouco importa... Bom seria saber se são, de facto, homens... prontos a matar outros homens...
3.
Não sei bem se os tais 100.000 homens já se aperceberam que também eles podem ser mortos ou se a vodka lhes destruiu os neurónios, a não ser que as sinapses já sejam descartáveis...
4.
Para além dos 100.000 homens, há outros homens que atravessam a fronteira com o objetivo de reportar a guerra. No entanto, falam sobretudo de si... Porque será?
5.
100.000 homens atravessaram a fronteira, sem saberem para onde se dirigem, mas avançam. Cumprem ordens, pouco lhes interessa o resultado da travessia... Muito os homens gostam de cumprir ordens! Desculpa antiga.
6.
100.000 homens continuam a avançar para Kiev e nós a assistir... A quê? Preferimos contemplar a destruição a agir.

19.2.22

Nestas terras inóspitas

 

Não sei se devo continuar, aqui, nestas terras inóspitas. Esforço-me por não ver nem ouvir, mas sinto que algo vai mal...

Prometeram-me que não invadiriam o meu território, mas vejo-me cercado, numa teia cada vez mais asfixiante...

Se ainda respiro, prevejo que seja por pouco tempo. O meu consolo é que, agora, tudo acontece em ritmo acelerado, ao contrário do que sempre procurei cumprir.

No entanto, quis tudo abarcar, e a pressa de chegar traiu-me. Deveria ter atrasado o passo, ficado suspenso do trinado, ter mandado o mundo às urtigas.

Nada disto faz sentido, é tudo banal, e não me digam que é possível transmutá-lo em qualquer coisa de original.

17.2.22

Miragens

«Não são as coisas que nos fazem mal, mas as tétricas imaginações que nós formamos sobre as coisas.» António Sérgio

«O intelecto é uno. Quem vê com 'miragens' o seu passado, constrói com 'miragens' o seu futuro. Com 'miragens' retóricas navegamos nós - na história, na literatura, na econoia e na política - e não os portugueses do século XV.» António Sérgio

Mesmo que os soldados possam recolher aos quartéis, nada impede os tiranos de iniciar a guerra... Os conflitos do passado nada nos dizem sobre o amanhã da humanidade.
Há sempre quem nos queira anestesiar com as grandezas e as misérias individuais e coletivas, fazendo-nos crer que a História nos terá mostrado o caminho da paz, mas tal, no presente, não passa de miragem / imaginação, nos termos de António Sérgio.

13.2.22

Assobiamos para o lado

 

Na iminência da guerra, surpreende-me que não haja manifestações dos povos contra essa possibilidade. Revoltamo-nos tão facilmente mas, nesta matéria, assobiamos para o lado.
Porquê?
Pensamos, talvez, que tudo não passa de encenação. O problema é que qualquer encenação convém às principais nações beligerantes, e provalvelmente não estamos a ver quais elas são, supondo que tudo se resume ao território ucraniano.
O conflito é entre a Federação Russa, com o apoio da China, e a NATO, totalmente subordinada aos Estados Unidos.
É bom não descurar que se esta vontade de redesenhar os espaços vitais avançar, a União Europeia acabará desfeita e ocupada.

10.2.22

Não gostei da encadernação


Hoje, passei pela Gulbenkian e aproveitei para ver a exposição fotográfica AS BRAVAS.

Percebi a intenção, mas não gostei da encadernação. Aquelas mulheres, muito bem fotografadas, foram, no entanto, transformadas em catedráticas vegetais... 

Como dizia Alçada Baptista, a aposta nos símbolos mata frequentemente a verdade e a vida... atitude, também, presente na obra de Urbano Tavares Rodrigues, por exemplo, no romance Filipa Nesse Dia.

Nesse dia, em Reguengos, Filipa já estava morta... Ainda se fosse em Sintra! E Hélio tivesse ido ao volante de um chevrolet...

6.2.22

Estranheza


A estranheza marca o que não é comum, o que não é autoctone.

Frequentemente, quem vem de fora ajuda-nos a superar debilidades de diverso tipo, mesmo que a nossa reação não seja a mais simpática. De qualquer modo, a integração progressiva acaba por reduzir a natural mesquinhez.

No entanto, há casos, como  os dos habitantes destes ninhos, que o melhor é eliminá-los antes que eles destruam a estabilidade do sistema...

(Ultimamente, tenho andado com a cabeça no ar, e o resultado tem sido este. Ninhos à porta dos bombeiros de Moscavide e Portela, na Urbanização do Cristo Rei...)

Esperemos que as autoridades não estejam adormecidas... E já agora, o melhor é que observem também a copa dos pinheiros.

4.2.22

Antes que...

 

Antes que eles regressem, deixem-me apreciar o retorno da poupa.
Segundo os especialistas, a poupa é pouco comum em Lisboa e Vale do Tejo, no entanto todos os anos eu a revejo às portas de Lisboa...
Como nada tenho a dizer sobre eles, os opiniosos comentaristas, estou satisfeito com este inesperado reencontro.

Posso todavia citar o António Quadros que deles afirmou: 'proliferam, são pequenos juízes que tudo fazem para estabelecer uma hierarquia de valores à medida da sua pobreza de ideias.'