1.6.09

Os novos corifeus

Os professores avaliadores devem fazer uma nova formação de médio ou longo prazo ao nível do ensino superior. Esta é a recomendação do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores (CCAP) que considera que, actualmente, muitos não possuem experiência, competência nem perfil para avaliar os colegas, como prevê o modelo de avaliação. O relatório deste órgão consultivo do Ministério da Educação será apresentado à tutela nos próximos dias.

Quem é que definiu o perfil destes conselheiros? Onde é que adquiriram a competência e a experiência necessárias para elaborar um relatório? O que é que significa, na boca destes corifeus, formação de médio ou longo prazo? Por este andar, acabamos por fazer tábua rasa de todas as aprendizagens efectuadas ao longo da vida e, quais castas virgens, voltamos aos bancos das Universidades para lhes taparmos os buracos do orçamento… A estratégia é sempre a mesma: em vez de identificar os recursos humanos disponíveis para as várias missões, desvalorizamos o trabalho realizado e adiamos o país…

30.5.09

O fueiro…

Há tempos que me interrogo sobre o papel da ética nas sociedades actuais. Da minha experiência, ressalta a ideia de que o egoísmo individual ou de grupo faz tábua rasa dos valores que deveriam pautar o comportamento do ser humano.

Registo, a cada dia que passa, provas de intolerância e, sobretudo, de oportunismo boçal, embora os protagonistas pareçam agir em nome de maiorias e de valores respeitáveis. Há, no entanto, nestes comportamentos um traço comum: desprezo por qualquer lei que introduza os princípios do rigor, da responsabilidade e, da consequente prestação de contas num quadro hierárquico.

A estratificação é naturalmente má! Mas, ao contrário dos anos 60 do século XX, estes novos libertários não descansam enquanto não ocupam o topo das demoníacas e desprezíveis hierarquias.

Se os meus olhos tivessem a coragem de subir a página, descobririam, de imediato, que a disposição das palavras obedece a regras cuja observância parece natural… Porém, se os meus olhos se acobardarem, sentir-me-ei mais próximo do discurso pré-verbal e capaz de compreender o fueiro paterno…

Há quem nunca tenha sentido o efeito dum fueiro nem saiba do que se trata, apesar das chispas dos seus olhos mo enterrarem pelas costas abaixo…

27.5.09

Causas endógenas…

Um Século de Literatura no Camões merece maior participação dos alunos. Hoje, às 18 horas, os alunos perderam a oportunidade de aprender a declamar com o actor José Manuel Mendes e de ouvir a Profª Doutora Margarida Braga Neves falar com propriedade e rigor do homem e da obra de Jorge de Sena, antigo aluno desta centenária instituição. Se o motivo para a ausência dos alunos é apenas a hora (4ª feira, às 18 h) a que decorrem "os encontros", então, estamos no momento certo para eliminar essa causa. Basta que, em sede de Regulamento Interno, se permita que na elaboração dos horários seja guardado um "bloco" por turno para este tipo actividades, sejam elas da responsabilidade dos departamentos, da direcção, dos encarregados de educação ou dos próprios alunos. Se houver essa abertura, daremos um passo de gigante para honrar o preceito do Projecto educativo "Por uma escola participativa…" Caso nos encolhamos na determinação e na decisão, ficaremos na história da instituição como os responsáveis do país de Abril que deixaram no "exílio" vultos da envergadura de José Rodrigues Miguéis e de Jorge de Sena…
«Eu não sou exactamente um emigrante no estrangeiro, porque, quando saí de Portugal, tinha vinte anos de escritor publicado, e desde então a maior parte da minha obra, ou grande parte dela, foi escrita para Portugal ou em Portugal publicada. Seja o que seja, continuo a ser o que era, quando me exilei muito a tempo naqueles idos negros e tristes de 1959: um escritor português que vive no estrangeiro e que mantém um permanente contacto com Portugal…» Jorge de Sena, Discurso da Guarda, 1977
/MCG

26.5.09

Na encosta do presente…

Escolher entre um projecto pessoal e um projecto messiânico pode ser tarefa árdua.

Se o messianismo acredita que pode salvar a humanidade, o unipessoalismo crê que tem nas mãos a chave do futuro.

Independentemente do vencedor, o rebanho continua pachorrentamente na encosta do presente, incapaz de seguir caminho sem a sombra do cajado…

 

(Do outro lado da encosta, o Dr. Oliveira e Costa ajusta contas com o Dr. Dias Loureiro. O Dr. Honório Novo, por sua vez, procura enterrar o Dr. Vítor Constâncio… e o rebanho bem pode continuar a ruminar!)

 

25.5.09

A estepe vence o planalto

O PLANALTO E A ESTEPE

Quando o leitor começara a pensar que ao General não restava outra conclusão de vida que conformar-se com a sentença de Camões "De amor não vi senão breves enganos", em Moscovo, eis que o Deus ex machina (Esmeralda) descobre a amada Sarangerel em Cuba….

Quando o leitor se deixara convencer que a revolução socialista (comunista) não passava de uma fraude gigantesca que destruía nações, quebrava corações, atirando-os para o fundo das masmorras da Mongólia e para o labirinto do Eduardo Santos, eis que Pepetela troca o abismo da ideologia totalitária pelo compromisso corrupto com os (novos) títeres que governam África – um romance que, pela sua dimensão simbólica, poderia ser exemplar, acaba por se tornar inverosímil.

Apesar de tudo, o romance é de agradável leitura, com algum suspense (ingrediente mais policial do que trágico). Caracteriza bem a vida dos estudantes africanos na capital do Império (Moscovo) e a sua passagem (formação ou apodrecimento) em Argel … Quanto à guerrilha, a imagem é oca e apressada, a remeter para outros romances (ortodoxos e heterodoxos) do Autor.

 

 

 

24.5.09

Distracções!

Quando menos se espera, o humor desponta. Por aqui há companheiros muito distraídos! Não acredito, no entanto, que o larápio venha a solicitar o manual de instruções. Nem Cristo tinha Biblioteca! E se o engano tiver sido das abelhas? O mel terá certamente outro sabor! Sabor a “biciclete”!

22.5.09

Bénard da Costa

No charco também há vida! Pouco interessa que a enxerguemos ou não.)

" Estou farto desta dor inútil de chorar por mim nos outros! - eu que nem sequer tenho a coragem de escrever os versos que me fazem doer!" José Gomes Ferreira

De Bénard da Costa talvez devesse escrever em tom elegíaco, mas como fazê-lo? De pé, entre a pantalha e as primeiras filas do auditório, Bénard antecipa o filme da morte: vários querubins conduzem-no pelo passeio da fama até ao círculo cintilante da ironia. Perdido o contexto, esfuma-se na mão suave do grande realizador. Por cá, as loas narcísicas cobrem-no de fumos…

(Este cansaço ameaça estilhaçar-me a compostura!)