17.5.10

Plano inclinado…

A instituição “casamento” tal como foi concebida acaba de dar o último suspiro. O Presidente hipotecou as suas convicções, incompatibilizando-se com todos os que viam nele o garante de uma civilização judaico-cristã.

Resta saber o que significa esta decisão em termos de «avanço civilizacional». Esperemos que não estejamos perante uma vitória de Pirro!

16.5.10

A lagarta da couve

Não queria pensar no assunto, mas, quando olho a lagarta sobre a folha de couve, não posso deixar de pensar no tempo em que, qual patrão, eliminava a pobre-de-cristo sem me aperceber da minha crueldade. De facto não fazia ideia da metamorfose que o pobre e peludo ser esverdeado iria sofrer. Nem sequer me passava pela cabeça que tal termo “metamorfose” pudesse existir. Mais tarde, Kafka atravessou-mo no caminho um pouco como a lagarta da couve… E não deixo de pensar que o termo “metamorfose” se revelou durante muito tempo mais sedutor do que o bicharoco!

 

15.5.10

Hoje…

«Não, ainda não se proíbe ninguém de ler. Não, ainda não se queimam livros.» João Bénard da Costa a propósito do filme de François Truffaut, FAHRENHEIT 451 /1966

Em 2010, a destruição de livros está inscrita na lei. A imagem é quase tudo. A felicidade e o prazer são os que são proporcionados pelas drogas e pelo virtual – e cada vez mais pelas redes sociais virtuais!

Em 2010, os bombeiros que reprimem o prazer solitário da leitura já não são necessários. Creio, todavia, que um ou outro bombeiro incendiário talvez pudesse despertar em nós a sede de transgressão levando-nos a cobiçar os proibidos livros, sem ser necessário regressar ao tempo da oratura – o tempo anterior ao livro –, um tempo esfíngico, subordinado ao rigorismo ou ao laxismo da memória.

Quanto ao filme  FAHRENHEIT 451 /1966, os dois lados da moeda equivalem-se na anulação da consciência. Impera um pensamento geométrico que me arrasta para a leitura de Blaise Pascal… E dele para o jansenismo….

14.5.10

Crepúsculo…

 Quando a espiritualidade entra em crise, o recurso à transcendência perde todo o sentido. Em alternativa, a atenção humana ainda procura voltar-se para o Ideal, para a Revolução, para a Utopia, sempre com o intuito de criar um novo homem, mais justo, mais solidário, mais fraterno. No entanto, esse  novo homem acaba por se revelar déspota, ganancioso e predador. Eliminados o Destino, Deus, o Ideal, a Revolução, a Utopia, que lugar sobra para a consciência? Uma consciência  criada para servir a Ordem! Perante a Desordem, a consciência apaga-se de vez e o Ser que resta opta pelo Cifrão e pelo Momento.

(Em memória de Raul Brandão.)

13.5.10

Cilada…

   Longe de Fátima (talvez os locatários tenham engrossado a mole quis ver e saudar o Papa!), o guindaste, aparentemente, descansa  ao fundo da rua… No entanto, o contra peso de base está posicionado sobre um edifício, qual espada de Dâmocles, o invejoso. Porém Dionísio, o déspota de Siracusa, finge que cede o trono a Dâmocles que inebriado acaba por se aperceber que a sua glória pode cessar a cada momento, pois uma espada pontiaguda ameaça abrir-lhe o crânio…  Se nem Platão conseguiu evitar a escravatura, como é que a república, submersa pela dívida soberana, vai escapar ao seu destino?

12.5.10

O caminho do Papa

 Cercado de automóveis, Santo António aponta o caminho ao Papa, pois até um engraxador abandonara  as ferramentas de trabalho. De qualquer modo, o lugar escolhido, à porta de um banco, junto de duas caixas de multibanco, dá que pensar quanto às intenções do trabalhador.

Sentado num banco enquanto esperava (talvez, Godot?), cheguei a pensar que o santo estava a indicar-me o caminho, a mim. Por pouco não me sentei na cadeira, dando um novo rumo à minha vida, até porque, tal como aconteceu com o santo, estou cansado de combater o alheamento, senão a alienação… Falta-me a brandura papal!

11.5.10

A expectativa

  Tão distante e tão perto, a mão tímida acena, quase invisível. Para quem?
Houve tempo em que talvez pensasse nessa emoção. Hoje,  bastam-me apenas a cor e o movimento.