25.11.12

Zonas de contacto

A sinapse é zona de contacto entre dois neurónios (axónio + dentrito), sem a qual o cérebro morre.
Na Gramática, essa zona de contacto vem mudando de nome - "conjunção", "conector", "articulador"... - mas, a sua função é inalterável: permitir a transmissão do fluxo nervoso. Isto é, permitir que a frase se torne enunciado e alimente a partilha.
 
Ao rever textos, na maioria dos casos, vemos que não há irrigação suficiente; por vezes, o fluxo fica à deriva, por uma unha negra...
 
E, na verdade, no atual discurso estudantil, docente e político, não há zonas de contacto. Faltam as sinapses! Faltam os mediadores!
 
Por isso, os dias que se aproximam serão depressivos, porque o cacete e a palavra são de natureza bem distinta!

Interlúdio XIII

Sharon E. Hutchinson (1996), na obra Nuer Dilemmas: Coping with Money, War and the State, refere a dado momento um método que utiliza para validar a sua interpretação nos estudos de campo e que bem poderia ser aplicado neste blogue:
 
                                                                        "Open note taking"
 
O que implicaria que o leitor, furtivo ou não, aqui deixasse, sobretudo, o seu desacordo, complemento, interrogação, clarificação... 

24.11.12

Interlúdio XII

Sempre que um teste se aproxima, surgem perguntas assustadoras! A última solicitava ao "prof". de Literatura se ele não conhecia uma obra que resumisse " As Folhas Caídas" de Almeida Garrett.
Esta ideia de resumir poemas é recorrente e é um bom indicador do estado e da natureza da receção da poesia neste país de poetas.
 
Não querendo defraudar o inquiridor, registo aqui três enigmas que poderão ajudar a preparar o referido teste (de Literatura!):
I - O que é a Beleza para Garrett? E para os Românticos? Onde encontrá-la? E para os Neoclássicos, qual seria a fonte da Beleza?
II -  A defesa da VOZ que brada ( no púlpito ou no deserto): argumentos, exemplos; razão e sentidos; a força das imagens. 
III - Amor de Pedrdição - personagem preferida.

23.11.12

OS RESTANTES descartáveis!

" Em 2013, a idade exigida para a aposentação no caso dos magistrados mantém-se nos 61 anos e 6 meses e só em 2020 atingirá os 65 anos, já que o regime em vigor - e que se irá manter - prevê um crescimento de seis meses ao ano desde 2011.
(...) Também as forças de segurança (GNR, PSP, PJ, guardas prisionais) e funcionários judiciais mantêm as actuais regras de aposentação.
Para os restantes trabalhadores da administração pública, a idade da reforma passa dos actuais 63 anos e seis meses para os 65 anos em 2013, quando estava previsto que essa meta apenas acontecesse em 2015." (Diário Económico)
É disto que eu gosto! Eu e mais uns tantos fazemos parte dos restantes. Dos descartáveis!
Continuam os regimes de exceção!

22.11.12

Dia XXXIX

A - À espera, na sala 22. O assunto poderia ser: As arcádias e a estética neoclássica; A imitação dos antigos... (Mas, não!)
 
B - O tempo é de contrato de leitura! Dois blocos semanais são insuficientes para tanta leitura! Claro, há sempre a exposição formatada ou, em alternativa, ao sabor do argumento...
Hoje subiram ao palco as seguintes obras: O Meu Pé de Laranja Lima; Os Filhos da Droga; Singularidades de Uma Rapariga Loura; Alquimista...
Na turma B, para além da intriga, foi possível perceber que, num cenário de crise económica e social, brasileira ou portuguesa, o problema é o modo como sofremos a mudança. Como as imagens que nos domesticam nos podem arrastar para a construção ou para a destruição. A obra, por mais simples ou complexa que se declare, acaba por nos obrigar a seguir percursos de reformulação ou de degradação. A leitura é, neste caso, um ato educativo dos interlocutores.
Na turma A, não foi possível ir tão longe! Ficámos pelo questionamento e explicação da SINGULARIDADE de Luísa - vaidosa, desonesta e desinteressada da cidadania vs rigor e honestidade de Macário.  O resto já se prende com o modo de esquematizar, localizar os acontecimentos na viagem do alquimista e, sobretudo, interpretar o seu significado. Talvez, para a semana se entenda o caminho!  

21.11.12

O país ficará mais pobre...

A classe docente vai experimentar uma nova modalidade de avaliação - agora, o avaliador será externo!
Cada centro de formação de professores disporá de uma bolsa de avaliadores (externos) administrativamente habilitados e, face à procura, dispersá-los-á pelo respetivo território, com o objetivo de se pronunciarem sobre a EXCELÊNCIA do ato docente.
Concluída a tarefa, o resultado da avaliação será lançado numa nova base de bases.
E pronto! Tudo continuará na mesma!
... No entanto, o país ficará mais pobre... e uns tantos, que não os avaliadores e avaliados, um pouco mais ricos!

Dia XXXVIII

1851 - Almeida Garrett seleciona as folhas (os poemas) já a a antecipar a imortalidade e por isso queima umas  e reune, em coleção, aquelas que o aproximam do IDEAL (IGNOTO DEO). Deixa de lado as composições que o mostravam no palco, diante de um público inebriado pela vaidade. Esse era o tempo da juventude, o tempo da Lírica de João Mínimo e das Flores sem Fruto!
As folhas que iam dando forma ao «sonho de oiro do poeta» constituem um produto diferente, porque gerado pela imaginação orientada pelos valores da BELEZA, da LUZ, da VERDADE, afinal a essência desse "deus desconhecido" / o IDEAL que o poeta pretende servir e que ele bem sabe que só pode demandar longe das «vulgares turbas» e das « coisas vãs e grosseiras». Ele o poeta que cultivou a cidadania como nenhum outro em qualquer tempo português. Ele que anunciou Antero e Pessoa e ainda permitiu que Nobre e Pascoaes dele se nutrissem.
 
«Deixai-o passar, gente do mundo, devotos do poder, da riqueza, do mando, ou da glória. Ele não entende bem d'isso, e vós não entendeis nada d'elle.»
                                                         ADVERTÊNCIA do autor de FOLHAS CAÍDAS
 
 (Irrita este tempo da enunciação em que, paradoxalmente, o texto é despojado dos seus co-textos!Um tempo antipedagógico! Um tempo que expulsa Garrett e quer cultuar Camilo!)