24.10.13

A construção da opinião

Na minha opinião ou opinião pessoal são sintagmas nominais frequentes, mas que nada acrescentam à compreensão das estratégias comunicacionais.
No presente, a opinião é objeto de construção que, na maioria dos casos, gera comportamentos emocionais, adesões irracionais.
Por exemplo, numa simples apresentação de listas a uma associação de estudantes, a  decisão resulta da injeção de um conjunto de estímulos acrobáticos e ruidosos.
Ao contrário do que muitos defendem,  a opinião atual é esvaziada de qualquer juízo de valor. 
Numa eleição, as ideologias, suportadas pelos grupos económicos e financeiros e das suas extensões mediáticas e partidárias, injetam nas mentes fracas poderosos estímulos que as convencem de que as suas escolhas são racionais e livres...
Na verdade, raramente a opinião se revela capaz de identificar o problema e, sobretudo, de discriminar as soluções apresentadas de modo a fazer a escolha mais vantajosa para o conjunto da sociedade.
Sim, porque, na história da construção da opinião, o critério que, outrora, validava a decisão era o bem comum.
Presentemente, não há jovem que não tenha a sua opinião, embora não consiga explicar a sua origem.

23.10.13

Entretanto, a chuva verdasca as vidraças

Sorrisos cúmplices passam altivos de um saber efémero. As palavras de ontem perdem-se em abundantes gestos de surpresa e arrastam-se em círculos de pedra.
Os testemunhos viciados respondem a um guião engenhoso ou, talvez, manhoso! As cadeiras esfíngicas registam a pose, apenas temendo o caruncho das novas vaidades...
A chuva, entretanto,verdasca as vidraças e amortalha o sol de verão, mas, infelizmente, não liberta a memória do tempo em que as cadeiras eram de pedra e resistiam ao caruncho, à pompa e à circunstância.

22.10.13

A escola, lugar de indisciplina e de depressão

Paulatinamente, o exercício da docência vai sendo condicionado e desvalorizado. 
Na formação, a pedagogia é substituída por uma didática definida por uma autoridade espúria. 
Na sala de aula, a parafernália imposta pelas editoras substitui o saber do professor, transformando-o numa fonte secundária, ignorada ou facilmente questionada pelo aluno desatento e desinteressado.
A desvalorização da função docente cria o clima propício à reivindicação de saberes não certificados, a não ser pela abscôndita superioridade social, cultural, política e, por vezes, profissional.
Em certas disciplinas,o professor mais não é do que um distribuidor de conteúdos dispersos por manuais, cadernos de exercícios vários, e quando isso acontece a sala de aula vira lugar de indisciplina.
A introdução de suportes diferentes dos apresentados pelas editoras torna-se suspeita. A avaliação, com recurso a testes não formatados pelo IAVE, é questionada por colegas, alunos e encarregados de educação.
A aplicação de conhecimentos em novas situações deixou de ser um objetivo. Procura-se, a todo o custo, evitar a surpresa, porque esta provoca estados depressivos... e a depressão é a explicação para todo e qualquer desajustamento... 
A articulação da escola com a comunidade é desejável, mas aquilo a que se assiste, neste domínio, é no mínimo perturbador, porque, presentemente, o país não tem qualquer projeto educativo fiável e duradouro.

21.10.13

Sem palavras…

Estou sem palavras desde o final da manhã quando um jovem mais atrevido me exigiu que o não avaliasse pelo sua cultura mas, sim, pelo sua competência linguística. A exigência não me deixou indiferente e expliquei-lhe que a língua e a cultura são indissociáveis. 
A explicação não terá surtido efeito, mas fiquei a pensar no meu passado como professor de didática de língua materna, quando exigia aos estagiários que planificassem, tendo em conta uma rede de conteúdos assim distribuídos: linguísticos, discursivos e culturais. E, por vezes, a rede era mais extensa!
Espero que esses professores não me tenham amaldiçoado por lhes ter exigido tal esmiuçamento! Se o fizeram, podem descansar, pois o vingador acabou de chegar…
(As imagens mostram dois espaços a que, no meu entendimento, a cultura não é alheia! Mas dizê-lo pra quê!? O melhor é continuar a falar e fechar os olhos e os ouvidos…)

20.10.13

Jorge Silva Melo na terra do faz de conta

Ontem, assisti à última representação da SALA VIP, de Jorge Silva Melo. Ainda não foi desta que o JSM obteve os meios necessários à montagem de uma ópera! De qualquer modo, não faltaram as árias nem o discurso sobre os limites da voz e a exuberância do corpo masculino ( efebo louro, genitália exposta, pronto a servir em troca do vil metal). Por seu turno, as mulheres, secundarizadas, deixam-se possuir fria e mecanicamente. Só a música da Terra latino-americana as traz de volta, à origem…  A espaços, o teatro (a música e o cinema) condenou a política cultural, mas deixou-se arrastar por um atávico narcisismo cosmopolita, acertando contas com a morte, uma morte travestida… mas clara e operaticamente exorcizada.

O resto são contrastes do faz de conta reinante. Segundo as pitonisas da Hora, o novo OGE não é para cumprir! Nem sequer pode ser discutido, pois ainda não está elaborado. A PEN era a fingir! No entanto… os cortes são a sério!

Há flores que florescem independentemente dos pomos que apodrecem. Há jardins que têm  amigos que fecham os portões aos mendigos que fenecem nos passeios das avenidas e nos recantos das vielas…

/MCG

19.10.13

Transitoriedade ou o casulo da ilusão

Vou concatenando, sem me admirar...
Tantos cães com dono, tanta frustração!
Um gato que podia ser livre, mas não salta o muro...
As vegetais antenas esverdeadas de um gafanhoto, talvez louva-a-deus ou tira-olhos; mas não, sou eu que quero ver assim, ali só há o casulo da ilusão!

Em tempos, Mário Sá-Carneiro terá vivido, numa quinta, chamada da Vitória. As crónicas situam-na em Camarate, mas a que eu conheço é, hoje, da Derrota, e situo-a na freguesia da Portela, agora Moscavide e Portela.
Não faço ideia se no início do século XX, Camarate integrava a Portela. E também não estou seguro que a Vitória não resulte de alguma humilhação infligida ao exército napoleónico. Só sei que a Quinta da Vitória, para mim, não passa de um bairro de lata. Isto é, não passava. Agora, é só entulho! A comunidade foi desaparecendo aos poucos. Não sei para onde. E ninguém explica! Para quê? O objetivo era dispersar...

E quanto a Mário Sá-Carneiro está quase a fazer 100 anos que se suicidou em Paris!

Em conclusão, a minha definição de "transitoriedade" é bem diferente da que está a ser enviada ao Tribunal Constitucional!

18.10.13

O cuco, o parasita onomatopaico



Infelizmente, há uma correlação entre o aumento do número de cucos e a densidade de pobres, o que me leva a pensar que a política atual está ao serviço desse onomatopaico parasita. O cuco necessita de bolsas de pobreza para se reproduzir. Sem elas, esse melómano parasita extinguir-se-ia!
Só assim se compreende a política de austeridade! Esta gera sucessivas bolsas de pobreza, ou seja os ninhos que lhes permitem reproduzir-se e, simultaneamente, eliminar as espécies incumbentes...