25.12.16

A noite de natal de 2016

A noite de natal, que se vai extinguindo, foi um pouco melhor do que a do ano anterior, não por efeito da coligação de esquerda, mas porque, estrategicamente, os participantes não se envolveram nas habituais polémicas - a visão utópica foi condescendente com a visão bem informada, realista e cética.
E convém não esquecer os ausentes, uns irremediavelmente; outros, por puro egoísmo...
Quanto à coligação de esquerda, apesar de mais otimista, nada trouxe que ajudasse a resolver os problemas dos participantes na ceia de natal.
Como banda sonora, regressou o Feiticeiro de Oz! (1939) Pelo que vejo a visão utópica continua a apreciar o filme de Victor Fleming....

23.12.16

O cinema social de Ken Loach

O filme "Raining Stones", de Ken Loach foi realizado após o termo da governação de Margareth Thatcher (1979-1990). De certo modo, pode ser lido como consequência do thatcherismo, pois mostra o estado em que vivia a classe operária na periferia de Manchester ou de Liverpool.
Os desempregados recorriam a expedientes, por vezes, à margem da lei, para impedir que a perda de "estatuto" económico e social se tornasse visível.
Curiosamente, neste novo mundo, os sindicatos desapareceram e cederam o lugar à Igreja (católica). Uma igreja que abraça a causa dos novos pobres e que não hesita em proteger o pai desesperado que, ao tudo fazer para assegurar que a filha não tenha tratamento desigual na cerimónia da primeira comunhão, acaba por contribuir para a morte do agiota que, pela força, tirava proveito da miséria social.
No essencial, o cinema social de Ken Loach ilustra bem as consequências da política levada a cabo pela coligação PSD-CDS, entre 2011-2015.

21.12.16

O Natal...

Nunca percebi se o Natal tem dono, todavia alguém inventou um Pai que faz muitas compras num mercado gigantesco para alegria de muitas crianças, apesar do número daquelas que são esquecidas ser quase igual ao das prendadas...
Por conseguinte, há crianças que riem e muitas, anónimas, apesar de terem pai e mãe, sofrem... E há também quem enriqueça à conta do negócio, sem falar dos que se empanturram como se não houvesse dia 26...
Sobre o Natal, há muitas teorias, mas aquela do menino nas palhinhas, rodeado por José, que, afinal, não era pai, e de Maria, que nunca conheceu homem, sem falar dos tristes animais, a quem naquela noite roubaram uma parte do estábulo, é a que mais me impressiona desde os tempos em que era criança...
No entanto, nunca me explicaram que, face a certas sociedades em que «o aborto e infanticídio eram praticados de maneira quase normal, de tal modo que a perpetuação do grupo se efetuava por adoção, muito mais frequentemente do que por geração, sendo um dos objetivos principais das expedições guerreiras obterem crianças»*, os sacerdotes sentiram necessidade de santificar o nascituro... Só que o escolhido foi o Filho, feito por um tempo menino...
Uma história que sempre me pareceu mal contada, mas que continua a servir de alibi a muitos comportamentos, uns dignos, outros indignos...
No Natal, sobe-me a tensão arterial!

Entretanto, Boas Festas!

*Claude Levi-Straus, Tristes Trópicos, Cadiueus.

20.12.16

Línguas de fogo...

Não sei se as metáforas ensandeceram, mas as que encontro andam tão estafadas que me apetece calcá-las e deixá-las a fenecer. Parecem ter sido moídas por um energúmeno, que atolado numa qualquer lixeira, decidisse lançá-las aos abutres de serviço na Academia ou lá como se chama o clube  de sapiências que tomou conta das universidades, politécnicos, institutos e quejandos...
Ouvi dizer que as metáforas só são pertinentes se perderem a referencialidade e ficarem a levitar no espaço cerebral dos seus criadores, deixando os leitores a decifrar puzzles irresolúveis. Basta sonegar duas ou três peças para que a metáfora se eleve acima das cabeças, para depois sobre elas poisar como língua de fogo...
O problema é que as línguas sagradas parecem ter vontade própria, pois são elas quem decide quem integra o falanstério dos eleitos, são elas quem agracia e quem deixa de fora... E os eleitos não se fazem rogados, desatam a voz, assaltam as cadeiras e ocupam-nas vitaliciamente.
Há até uns tantos, que depois de mortos, ainda continuam assombrar-nos com a sua inexplicável opacidade.   

19.12.16

Transtorno coletivo

Poder-se-á pensar que a tirania é um privilégio dos estados ou daqueles que aspiram à conquista do poder, mas, pela amostragem dos últimos anos, a violência individual serve-se (ou esconde-se por detrás) de causas mais ou menos nobres para satisfazer instintos autodestrutivos. 
Temos assim uma conjugação explosiva que levará inevitavelmente a uma permanente retaliação e à morte de qualquer tipo de humanismo que ainda possa persistir.
As mortes, por exemplo, em Alepo, em Ancara e em Berlim são a prova do transtorno coletivo em que vamos mergulhando.

18.12.16

O que mais irrita...

 
O que sobra do Império é bastante absurdo!
As portas de madeira carcomida, o metal ferrugento, os púcaros amachucados, as aves empalhadas  e depois, uma natureza defenestrada e pessoas fascinadas por uma melopeia guerreira, convencidas de que a mudança liberta, mesmo se a nova exploração as torna infra-humanas.
O que mais irrita é a quantidade de ferrugem, os arquivos mortos, a ideia de que nada vale a pena.





Está quase tudo na exposição de Antonio Ole. A bromélia, não.

O mapa do tesouro

«O governo de Passos Coelho prometeu o mapa dos diamantes a Angola, uma semana após ter tomado posse e quatro dias antes de ser derrubado no Parlamento.»

Enquanto uns esfolaram e mataram, durante 100 anos, para rastrear o território angolano, um governo desmiolado entrega o mapa do tesouro.
Gesto solidário, pensarão uns; gesto perdulário, pensarão outros.
Por mim, é mais um ato irresponsável, de desrespeito pelo passado, mesmo se de sangue.

Quanto às contrapartidas, o tempo dirá... ou talvez o Correio da Manhã.