17.6.18

O pensamento crítico ainda não chegou ao fim

O antropólogo britânico Jack Goody explica na sua obra “Domesticação do Pensamento Selvagem” que o pensamento crítico só é possível quando conseguimos ler um texto duas vezes e repensar o que lemos para podermos distinguir entre o bem e o mal, entre verdade e mentira. Quando o processo de comunicação se torna vertiginoso, assente em multicamadas e extremamente agressivo, deixamos de ter tempo material para pensarmos de uma forma emocional e racional. Ou seja, o pensamento crítico morreu! ( Franco Berardi) O pensamento crítico 

Toda a entrevista do filósofo italiano dá que pensar, mas o que em mim tem mais impacto é «a ideia de que o pensamento crítico morreu», não pelo facto em si, mas por uma razão elementar - deixámos de ler devagar. Isto é, deixámos de ler várias vezes, de procurar interpretar, distinguir o trigo do joio…
Esta razão primeira é aquela que eu sempre considerei como estratégica para quem tem a missão de ensinar a ler / ensinar a aprender a ler, correndo o risco de ser enfadonho e retrógrado…A vertigem comunicacional é, por seu turno, a maior das formas de alienação capitalista atual…
E ler, saber ler, é o trampolim para o combate, mesmo daqueles que preferem o imobilismo. 
É certamente por isso que no tempo de que disponho, vou continuar a insistir na leitura literária e filosófica, apesar da escolástica jesuítica...

16.6.18

O meu campo é o tempo

«L'absurde ne délivre pas, il lie. Il n'autorise pas tous les actes. Tout est permis ne signifie pas que rien n'est défendu.» Albert Camus, L´homme absurde.

Nascido e criado num mundo essencialista, levei algum tempo a rejeitá-lo. A dado momento, atraído pela visão existencialista sartriana, vulgarizada, em termos literários e ensaísticos, por Vergílio Ferreira, caí num niilismo que me provocava calafrios, pois, apesar de tudo, para mim, a liberdade não poderia ser absoluta pelo mal que traria ao Outro, ao Cosmos, ao futuro de ambos…
A necessidade de negar o determinismo conduziu-me a um princípio enunciado por Goethe: «o meu campo é o tempo.» Dito de outro modo, fiz minha a ideia de que sou o meu tempo, nem o anterior nem o ulterior, o que não significa amputar e rejeitar as raízes nem alhear-me das consequências dos meus atos.
Esta consciência da situação em que encontro ajuda-me a separar o trigo do joio numa época em que a morte do Outro se tornou num vulgar gesto instantâneo...

15.6.18

Triste vida!

Não costumo falar de futebol, sinto-me enjoado sempre que ligo a televisão e verifico que o Estado nada faz para acabar com as máfias que vivem do futebol, cansa-me que se desperdicem dias inteiros em torno de jogos que duram pouco mais de 90 minutos, mas vejo-me obrigado a reconhecer que dum jogo pode depender a felicidade dos povos - triste vida!
Talvez seja por isso que, hoje, horas antes de Cristiano Ronaldo entrar em campo, no Portugal-Espanha, a notícia seja:
Cristiano Ronaldo está disposto a pagar 18,8 milhões de euros ao fisco e aceita dois anos de pensa suspensa, após reconhecer quatro delitos fiscais de que foi acusado, avança o jornal espanhol El Mundo. CR7 delinquente

Entretanto, como pode acontecer que algum aluno do 12º ano ainda esteja a empanturrar-se do costumeiro paleio vendido pela máfia das editoras, relembro que, na disciplina de Português, o fundamental é compreender, interpretar e redigir respostas adequadas às perguntas, se possível num registo de língua cuidado.
Como proposta de atividade de rememoração, capaz de satisfazer todos os requisitos mencionados, deixo, aqui, um poema de Manuel Alegre: 

Fernando Pessoa

Vem ver agora o meu país que já
não tem Camões nem Índias para achar
só tem Pessoa e o império que não há
sentado à mesa como em alto mar.

A viagem que faz é só por dentro
e escreviver-se a única aventura.
No pensamento é que lhe dá o vento
ele é sozinho uma literatura.

Eis a vida vidinha cega e surda
ditadura do não do só do pouco.
Ser homem (diz Pessoa) é ser-se louco.

Heterónimo de si na hora absurda
Viajando no sentir escreve sentado.
E é Pessoa: “futuro do passado”.
Manuel Alegre, Sonetos do Obscuro quê (1993)

14.6.18

A flor de tília da árvore do centenário

A árvore do centenário vingou. Oferece-nos a flor para que possamos preparar uma infusão que  acalme os  alunos, agora que os exames vão começar, e que alivie os professores da tosse seca típica de um ano de promessas ministeriais por cumprir...

13.6.18

Borboletas invisíveis II


Estas foram capturadas em Cabeço de Vide, junto às Termas Sulfúreas… 
O pronome parece não ter antecedente, o que é grave, pois, por definição ele substitui um nome.
A verdade é que estas borboletas existem, mas para mim tornaram-se mais invisíveis do que eu próprio.
O mesmo acontece com a água da piscina (tanque?) fluvial. Passa ali um fio água, que se perde pelas fendas  e se evapora quando o calor se intensifica…

E quanto ao cheiro a enxofre, o meu olfato nada me disse, talvez por ter perdido o /c/.

12.6.18

E nem uma palavra!

Só a vitrine separa o olhar da realidade numérica. Tudo parece claro, legível… e nem uma palavra! Talvez a luz tenha anoitecido e o sol se tenha eclipsado.
A própria Fortuna terá desertado, ciente de que nada pode fazer. Deixá-los sonhar!

11.6.18

Ipsos germanos indigenas

Ipsos Germanos indigenas crididerim minimeque aliarum gentium adventibus et hospitiis mixtosCornelii Taciti, De origine et situ Germanorum


 ( Acredito que os germanos são naturais da própria terra e nunca se misturaram com povos de outras regiões…)

A razão de tal isolamento atribui-a Tácito à dureza da terra e à severidade do clima e não a qualquer preconceito de sangue…
Pode ter sido assim em tempos remotos, mas, nos últimos séculos, tudo mudou, infelizmente.