11.10.09

Nota biográfica incompleta…

Jorge Freitas e Silva Melo

Nasceu, de cesariana, em Lisboa, a 7 de Agosto de 1948. Residiu inicialmente no andar onde mora actualmente o primeiro-ministro José Sócrates, na rua Castilho. A mãe era professora do ensino primário e o pai comerciante (?). Até aos 4 anos, viveu em África. De regresso, foi viver para a rua da Artilharia 1 (bairro judeu, à época), onde foi vizinho de Esther Mucznick e de Vera San Payo Lemos. Entretanto, foi viver para um prédio situado perto da Igreja de S. Mamede, onde também residia a actriz Manuela Porto.

Estudou nos Maristas, onde quis fazer uma redacção sobre o dirigente africano Lumumba, sendo suspenso durante três dias.

De 1963 a 1965, fez o 6º e o 7º ano no Liceu Camões, tendo como professores, para além da própria irmã[1], Mário Dionísio, João Bénard da Costa e Padre Fernando Belo. No entanto, de acordo com um testemunho seu, também terá frequentado o Liceu no 5º ano (1962-1963), pois referindo-se ao mestre Mário Dionísio, cita a resposta que ele dava aos alunos que não conseguiam exprimir o seu pensamento: “só que enquanto não souberes dizer, não sabes". O seu ensino era só isto: seja nas aulas de Francês – até ao 5º ano – seja nas de Português – 6º e 7º – ensinava “ a saber dizer”. Por isso insistia – e se insistia! – na organização do discurso, na estruturação do comentário, na propriedade dos termos, na ordem da apresentação, na convenção da paginação...

Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi aluno do Padre Manuel Bernardes, com ele tendo aprendido a ler / descobrir Les Mots et les Choses, de Michel Foucault.

Em 1969 e 1970, estudou cinema na London Film School. Mais tarde, estudou teatro em Berlim – estagiário[2] na Schaubühne – com Peter Stein – e no Piccolo Teatro/ Scala de Milão – com Giorgio Strehler.

Fundou e dirigiu, com Luís Miguel Cintra, o Teatro da Cornucópia (1973/79). Fundou, em 1995, a sociedade Artistas Unidos de que é director artístico e onde se centra, actualmente, a sua actividade.

Produtor, realizador, encenador, actor, argumentista, cronista, ensaísta, crítico e tradutor. Recentemente, Jorge Silva Melo trouxe à cena a peça Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello. E, também, é possível ver nas salas de cinema a curta-metragem A FELICIDADE com Fernando Lopes, Pedro Gil e Miguel Borges.

Na relação de Jorge Silva Melo com a Escola Secundária de Camões, vale a pena recordar a produção dos Artistas UnidosO Amante de Ninguém” apresentada ao público nas Caves do Liceu Camões, em Abril de 1999. E acrescente-se que Jorge Silva Melo continua a inspirar-se em José Rodrigues Miguéis, um autor nosso, demasiado esquecido.


[1] - Doze anos mais velha. Hoje, JSM toma conta da irmã…

[2] - Bolseiro da Gulbenkian.

O Baile da vida e dos nós…

Ontem, tive oportunidade de ver o filme-documentário Le Bal des Actrices, de Maiwenn le Besco. Um documentário sobre o universo selectivo e competitivo da vida das actrizes na vida e na tela. O documentário acaba por virar ficção, levando à simulação de revolta das actrizes convidadas, ao aperceberem-se que perderam o protagonismo. A documentarista (esposa-mãe-amiga-fotógrafa-realizadora) acaba por valorizar/questionar os múltiplos papéis que desempenha, deixando no ar uma certa insatisfação. Uma ideia de precariedade… em tons de comédia musical ligeira.

Este filme integra a 10ª Festa do Cinema Francês. Os franceses continuam a apostar em nós.

E nós, como é que explicamos a decadência da cultura e da língua francesa  em Portugal? O que é feito dos nós culturais e afectivos que, pelo menos, desde o séc. XVIII, fomos desenvolvendo até 1974?

Desgraçadamente, este apagamento da cultura e da língua francesa envolve as restantes línguas românicas, gerando, por seu turno, o desvirtuamente da língua portuguesa.

Há dias em que chego a pensar que os nossos linguistas e os nossos gramáticos são de raíz anglo-saxónica!

9.10.09

O registo detalhado da vida…

Procuro notas biográficas de individualidades várias e apercebo-me que, na maioria dos casos, estas notas são lacunares. Nascemos e saltamos de imediato para a faculdade, amamos a referência a formações obtidas no estrangeiro ou, pelo menos, sob a asa de algum guru estrangeiro.

Emancipamo-nos, libertando-nos da mãe e do pai, ocultando o nome do professor do ensino básico ou secundário, a não ser que este, laureado por uma qualquer causa alheia ao ensino nos possa abrir portas…

Fragmentos mais ou menos extensos do passado evaporam-se, mistificando o leitor incauto…

Riscado o registo detalhado da vida, vejo-me na ideia de que a biografia se tornou caprichosa, no limite inverosímil, para não dizer mentirosa…

Descrentes, amamos, no entanto,  a hagiografia feita da suspensão da história.

O hagiógrafo suspende a História.)

Se, hoje, me dedicasse a esse registo detalhado da vida, o dia seria feito de violência armada, de violência verbal, de irresponsabilidade, de abuso de poder, de deturpação, de manipulação… mas, hoje, Obama viu ser-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz…

6.10.09

A imortalidade ao nosso alcance?

Nobel para a Telomerase – a enzima da imortalidade celular
«Desde os anos 30 que se reconhecia uma função especial das extremidades dos cromossomas. As pontas dos cromossomas estavam protegidas por estruturas a que se deram o nome de telómeros. Mas foi com a descoberta da estrutura do ADN que os telómeros saltaram para a ribalta. O problema que surgiu era simples: se as enzimas que sintetizam o ADN necessitam de uma cadeia molde pré-existente, o que acontece quando chegamos ao fim do molde nos telómeros?»
Depois da teologia nos assegurar a imortalidade, à condição da travessia …, de tempos a tempos, a ciência promete-nos a morte da doença e a abolição do tempo, sem qualquer ritual de passagem… Sempre a esperança de sermos os eleitos! Mas de quem?
No meu caso, registo a fortuna destes novos lexemas: “telómero” e “telemorase”…, e espero que a fortuna seja boa, mas temo que os tempos vindouros sejam de grande aborrecimento, tal como acontecia no paraíso antes da serpente se enroscar no tronco da macieira… 

4.10.09

Uma atitude perversa

No que me diz respeito, ignoro se o velho se atirou ao mar. Receando que a minha aproximação o pudesse assustar, afastei-me sorrateiramente, ficando, no entanto, à espera de notícias, o que não deixa de revelar uma atitude perversa. Sabia, de antemão, que qualquer queda do velho despertaria a atenção dos surfistas, gulosos da onda...
Ao certo, não sei nada daquele velho e por isso não arrisco continuar a narrativa, ciente de que se o fizesse estaria a forjar uma 'estória' que, na melhor das hipóteses, teria como narrador um dos surfistas.

3.10.09

Se me abrir, o que é que achará?

Se você abrir uma pessoa, irá achar paisagens. Se me abrir, irá achar praias”. Agnès Varda

No filme “As Praias de Agnès”, Varda revisita o passado (uma boa parte do séc. XX) e mostra o envelhecimento do presente.  Vemos numa encenação /instalação: a infância, o período como fotógrafa, o casamento com Jacques Demy, o feminismo, as viagens, a família e os filmes. Predomina sempre o ponto de vista de Agnès. Quase que não há opinião. Sobre a ausência do ‘Maio de 68’, responde: - Não estava lá! Assim, cruelmente, porque o seu olhar nos falta…

Um documentário a não perder, apesar de uma ou outra erupção fálica… 

(No meu caso, se me abrirem, encontrarão apenas agulhas mais ou menos secas, algumas com cheiro a mofo. Portanto, mais vale suspender o gesto.)

1.10.09

Ler com…

O primeiro contacto com os jovens de 15 anos, acabados de entrar no 10º ano, mostra-me que Isabel Alçada e Ana Magalhães já passaram à história. Uma Aventura… já não preenche o imaginário destes alunos. Lêem pouco e, quando o fazem, preferem o imaginário anglo-saxónico…

E se a leitura é marginal na ocupação dos tempos livres,  não é fácil perceber em que é que ocupam o tempo. Se ainda vêem televisão, não o confessam e, sobretudo, admitindo que alguns ainda passam uma ou duas horas em frente do televisor, nada aprendem, em termos linguísticos e históricos…

A leitura em voz alta parece cansar estes jovens que não a vêem  como uma forma de partilhar ideias, emoções. Lêem em surdina, de forma arrastada, como se o outro não existisse… e o outro, o colega, não revela qualquer disponibilidade para ouvir, para compreender as palavras, os enunciados, e por isso, na sala de aula, o diálogo torna-se fútil, digressivo…