23.4.14

Pode ter sido bela, irreverente, mas não deveria ser esquecida...

Pessoas há que quando morrem, logo são esquecidas. É o caso de Natália Correia! Pode ter sido bela, irreverente, ter-se colocado do outro lado da barricada... todavia, hoje, não gostei que tenha sido esquecida... Ao editar Novas Cartas Portugueses Portuguesas, em 1972, mostrou a fibra de que era feita.
Essa edição foi apreendida e destruída, mas nem por isso as autoras que acolhera na Estúdios Cor deixaram de fazer o seu caminho, de subir ao Olimpo.
Nas palavras eloquentes de Maria Teresa Horta, a guerra de libertação autorizada pelo esforço heróico do partido comunista visava arrancar a mulher à condição de escrava do pai, do marido, do estado - tudo figuras masculinas, figuras despóticas milenares. 
Curiosamente, MTH parece ignorar que o PC também se estruturava em torno de figuras masculinas, em regra, despóticas.
Vale a pena relembrar que Natália Correia, cedo, se colocou do lado da MÁTRIA, porque bem sabia que havia caminho a percorrer, tal como, involuntariamente, é reconhecido no "monólogo de uma mulher chamada Maria com sua patroa", monólogo esse escrito por uma das três Marias:

«Muito obrigado isto passa, não é preciso chamar o médico, minha senhora, isto passa, até já estou habituada, são uns ataques que me dão, fico assim sem conhecimento, sem alentos e depois torno a mim como boa, pode estar certa, não se aflija e desculpe, não quis assustá-la minha senhora, ora logo o raio do ataque me havia de dar aqui em casa..Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Novas Cartas Portuguesas, editorial Futura 1974

Não fossem os mitos urbanos, a empregada que pede desculpa à «minha senhora» seria vista como uma mulher explorada por uma "igual" só que de uma classe social privilegiada. Essa trabalhadora, se ganhasse o suficiente para ir ao médico e à botica, seria despedida. 
Trabalhador pobre, homem ou mulher, não pode ficar doente, não tem dinheiro para transporte, e livre-o Deus, outra figura masculina e despótica, de desmaiar de fraqueza no local de trabalho...

(Texto escrito, numa hora amarga, por um homem que detesta a demagogia, o compadrio e o comadrio...)

22.4.14

O palhaço e o visto

Saibam quantos meus versos não ignoram
Que os meus danos para fora riem,
Minhas risadas para dentro choram.
(...) Natália Correia, Sonetos Românticos, Na câmara de reflexão onde a simulação é um crime I (1990)

A euforia de uns é a tristeza de outros.
Deixo de rir porque o palhaço despreza o outro. O palhaço manda rasteirar o estrangeiro, lembrando-lhe a sua condição de bárbaro...À boca de cena, o palhaço agiganta-se até se esfumar por detrás da cortina.

Entretanto, o palhaço veste a pele do lobo mau e, sorrindo da própria perfídia, atira-se à mão que lhe serve exóticas iguarias.
Chega de criminosa simulação!

21.4.14

Milady já não é britânica

Milady já não é britânica
deixou de ir à boutique
não precisa de guarda-roupa
Milady prefere o ouro o carmim
o briho do ébano
à carnação ebúrnea
Milady esconde os olhos
alonga-se na nudez
vê no umbigo a rosa do mundo
Milady ainda vai à escola
as páginas dos livros troca pelo bâton pelo verniz
espera ser feliz
Milady faz beicinho
se a nota não lhe faz jus...

20.4.14

A benção pascal


A benção pascal já chegou às pastelarias! 
Padre e acólitos começaram por entrar na pastelaria! Foi mais fácil do que entrar no prédio ao lado! Os moradores ou estavam ausentes ou escondiam-se por detrás das portas… Nem a chuva se apiedou do cordeiro pascal! Quanto à ressurreição, parece que ela chegou ao Estádio da Luz. Vamos ver por quanto tempo!

19.4.14

Ai o destino das flores, Gabo!


Pelo contrário, Francisco Marques, morto de saudades, declara  que «esta noite em companhia da mulher é que ninguém lha tiraria.» (J.S., MC)

Entre o Forte e o lugar de Elvas terá passado João Elvas que «por singular capricho não quis entrar na cidade onde nasceu, deram as saudades nesta abstenção.» (J.S., MC)

«Ai o destino das flores, um dia as meterão nos canos das espingardas, os meninos do coro, a basílica de Santa Maria Maior, que é sombreiro, e também a basílica patriarcal, ambas de gomos alternados, brancos e vermelhos, se daqui a duzentos ou trezentos anos começam a chamar basílicas aos chapéus-de-chuva, Tenho a minha basílica com uma vareta partida, Esqueci-me da minha basílica no autocarro…» (J. S., MC)
Para ti, as flores eram amarelas; para nós, brancas e vermelhas. Quantos frutos amadureceram à tua sombra! Quantas linhas ganharam asas sob a tua ousadia!
Quantos mortos saíram da sombra porque seguraste o globo da magia, sem precisares de manto nem de um mar novo!
Sem ti, os Marques e os Elvas nunca teriam sacrificado a vida sob o olhar pasmado do diabo ou sido os nossos olhos na troca de princesas…
(E tudo num implacável universo jesuítico e hispânico…)

18.4.14

Citado pela AT para pagar uma dívida de um avô…

Citado para pagar uma dívida da herança de um avô, falecido há 20 anos, hoje fui à Serra d’Aire à procura das oliveiras que justificam a execução. Refira-se que não faço a menor ideia de quais são as oliveiras, se ainda estão de pé ou se já arderam até porque o terreno não é pertença nem do avô executado nem do cabeça de casal da herança, também já falecido, nem meu, também cabeça de casal, para azar meu, ainda vivo…
Se não pagar a dívida agora apresentada no prazo de 30 dias, tendo início em 2008, lá serei penhorado e não estarei sozinho porque todos os meus 4 tios “receberam” a mesma notificação, um deles  também já falecido. A Autoridade Tributária e Aduaneira espera uma colheita farta, pois não esclarece se o valor da dívida é global ou individual…
Enquanto procurava as oliveiras certamente envolvidas em silvas ou em rebentação, lá fui pensando se qualquer dia não seremos todos citados por uma qualquer dívida de D. Afonso Henriques, cabeça de casal de D. Henrique e D. Tareja …
A demanda acabou por ser interessante porque descobri uma realidade que desconhecia: os terrenos são férteis; o orvalho noturno é suficiente para regar as hortas que por ali vão crescendo à sombra das oliveiras e das azinheiras; os desvairados pássaros cantam ao desafio; e até um velho moinho de água em ruínas espera que a ribeira que o alimentava volte ao seu leito natural…
Só espero que a AT não se lembre de me fazer pagar com juros de mora a água da ribeira do furadouro que por ali corre, isto sem falar do moinho!
Para quem quiser aventurar-se por estes caminhos da Serra d’Aire, basta visitar os moinhos da Pena e depois embrenhar-se pelas encostas da serra…

17.4.14

Carvalhal do Pombo, freguesia de Assentiz

A ideia é simples!
Contar a "estória" de cada família que se instalou e se enraizou em Carvalhal do Pombo.
Nesta blogue, há espaço para narrativas e imagens. Quem quiser contribuir, tem toda a liberdade para o fazer.
No que me diz respeito, sou fruto do casamento dos Cabeleiras com os Gomes, estes oriundos das Moreiras Pequenas...
Caso haja colaboração, estou disposto a escrever a história  desta aldeia do concelho de Torres Novos, cujos rebentos se espalharam pelo mundo...

Os contributos podem ser enviados para: macagomes@hotmail.com

PS. Parece que a proposta não teve acolhimento, sobretudo, por falta de leitores.