23.6.14

O IAVE erra porque persiste no erro

Na dúvida, a questão 2.3 deve ser excluída (Exame 639). Neste tipo de pergunta, a ambiguidade é inaceitável.
O IAVE erra ao prolongar a polémica porque:
a) descontextualizou o enunciado (o leitor desconhece a sequência do texto ensaístico);
b) recorre a especialistas independentes, pressupondo que existem especialistas ajuramentados;
c) confunde a verdade com a opinião;
d) insiste em verificar conhecimentos de natureza pragmática com recurso a um tipo de exercício inadequado.

22.6.14

A Madona, de Natália Correia

A Madona, de Natália Correia, é um romance que exige do leitor atenção redobrada.
O título deve a sua origem ao estatuto social da protagonista, Branca. Madona (do latim, mea domina), figura senhorial que, como norma de vida, quer submeter o homem: « Eu acabava de fazer uma descoberta que satisfazia o que quer que fosse que emprestava à minha alma soturna beleza de uma flor carnívora. Torturar um homem! Reduzir a cinzas a sua força bruta! Uma gruta cuja escuridão ia explorar.»
Esse programa é cumprido na exploração mental e física de Miguel, do Anjo e de Manuel - que acabará por se suicidar. Este suicídio é, por outro lado, a expressão da (im) potência da ruralidade portuguesa. Branca reduz Manuel a um objeto bestial, incapaz de compreender que a domina é estatutariamente mais forte que o vil servo...
A autora, neste romance, evita a contextualização histórica e geográfica, apesar de criar um lugar bem português - Briandos. Um lugar onde as ménades (bacantes) e as erínias (fúrias) se procuram libertar das grilhetas masculinas, à semelhança do que vai acontecendo um pouco por todos os lugares europeus percorridos por Branca...
E tudo decorre, sob a forma de evasão do torrão natal, até que Ereshkigal (divindade suméria, rainha da terra do não retorno) dite a sua lei.
Sob os fumos de Maio de 68, Natália Correia pratica uma escrita densa, elaborada, barroca, surrealista, intimista, feminista, em que as personagens se encontram ora em fase de construção ora em fase de demolição identitária pessoal e cultural. E, sobretudo, esta escrita foge à ideologia explicita, deixando- nos navegar em turbulentas águas míticas que nos levam dos mitos cristãos aos sumérios, com passagem obrigatória pelos greco-romanos...  A sua escrita é simultaneamente crua e suculenta...
Autor: MCG

21.6.14

Preciso de sossego

Preciso de sossego. Há anos ainda cheguei a pensar que ele chegaria antes de morrer. Hoje, sei que ele já só é possível na morte.
Outrora, aprendi que o sossego era um estado interior. E até podia parecer verdade, mas, à época, as paredes chegavam a ter um metro de espessura e o silêncio só abria em ruído com hora marcada. Hora efémera!
Agora, instalo vidros duplos que insonorizam a morada, só que o ruído é um estado interior…
A informação é antevisão, é proclamação, é repetição, é aclamação, é negação. A informação passou a controlar todos os meus passos: sei o que não me interessa; sei o que me desestabiliza; sei, de véspera, ou inopinadamente, que continuo a ser bengala ou bordão; sei que não tenho tempo para acabar o que comecei… e por isso vou continuar a ler, devagar, A Madona, de Natália Correia, ciente de que chegado ao fim, talvez ainda tenha tempo para voltar ao princípio, sem, contudo, regressar a uns anos 60 que nada tinham a ver com o que eu era nesse tempo…
É, assim, o país, entre tempos e a vários tempos!
(E eu com saudades do silêncio...)

20.6.14

Apenas tempo ou um pouco mais…



O que faço eu aqui? O que fazem eles aqui? Apenas tempo ou um pouco mais?

As fotos desaparecidas revelavam e escondiam… as palavras, neste caso, são apenas um complemento, talvez uma última prova de vida neste mundo palavroso.

Na primeira, o contraste revela o estado da governação. Deixo as palavras para o observador.

A segunda  esconde vários dramas: o idoso doente e ignorado, o emprego precário, a imigração prostituída e alcoolizada,  a juventude alienada pela ociosidade e pela droga… Tudo suavemente emoldurado pelo poder autárquico…

Há, também, por trás, um presidente do município que gosta de marchas, de magustos… loquaz, mas que cala demasiado, talvez por falta de tempo para se sentar num  banco de jardim… longe dos holofotes…

19.6.14

Gente irritante

Há por aí tanta gente irritante! Uns governam, outros aspiram a governar! Em comum, uma inteligência mínima, mas ardilosa...
Duvido que, apesar dos títulos académicos, esta gente irritante saiba ler e escrever... No entanto, reconheço-lhe o mérito de saber acolitar qualquer poder emergente e de saber escolher o lugar que mais lhe convém.

Na verdade, esta minha irritação tem origem num pequeno enunciado:  O exame de Português do 12º ano de escolaridade (obrigatória!?) serve para avaliar se o aluno sabe ler e escrever.

E eu que pensava que esse era o objetivo do exame de Português da quarta classe de há 50 anos! Se fosse hoje, eu teria entrado diretamente em qualquer Faculdade...

18.6.14

Exame de Português 12º Ano

ONTEM
«Castiguem-se lá os negros e os vilões para que não se perca o valor do exemplo, mas honre-se a gente de bem e de bens, não lhe exigindo que pague as dívidas contraídas, que renuncie à vingança, que emende o ódio, e, correndo os pleitos, por não se poderem evitar de todo, venham a rabulice, a trapaça, a apelação, a praxe, os ambages, para que vença tarde quem por justa justiça deveria vencer cedo, para que tarde perca quem deveria perder logo. É que entretanto vão-se mugindo as tetas do bom leite, que é o dinheiro, requeijão precioso, supremo queijo, manjar de meirinho e de solicitador, de advogado e inquiridor, de testemunha e julgador, se falta algum é porque o esqueceu o padre António Vieira e agora não lembra.»

Bem sei que o exame não visa medir a inteligência do examinando, mesmo assim, se começássemos por verificar a ligação de Saramago com Vieira (a intertextualidade), o que é que encontraríamos?
E se o tema da dissertação fosse a "justiça" neste sorumbático país?
Talvez seja pedir demais...

HOJE
Saramago e Vieira. 
Não vale a pena ter lido o romance e o sermão! Intertextualidade nem cheirá-la! Em vez da "Justiça", a "Ambição" fundamentada no palpite... Quanto aos restantes conteúdos declarativos, sumiram... A Gramática está reduzida à rasteira...

Considerando o programa em vigor, bom seria que alguém esclarecesse quais são os objetivos da Prova de exame, 1ª fase, código 639...

17.6.14

Qual é o seu palpite para o exame de amanhã?

«Palpite não é opinião. Esse é o erro mais comum entre os palpiteiros amadores. Palpite está para a opinião como a crença está para o conhecimento. O palpite se funda no que o palpiteiro acha que sabe. A opinião sobre o que realmente se sabe.» http://blogdopierri.blogspot.pt/2008/09/teoria-geral-do-palpite.html

À pergunta cerimoniosa, respondo que não arrisco qualquer palpite. Nem mesmo o argumento  defensor de uma envenenada homenagem a Saramago me persuade. A coligação já  faz tempo que enterrou a voz do prémio nobel, a voz do povo esmagada pelo peso do desemprego, da austeridade e do estrangeiro...
No entanto, enquanto me interrogo se haverá uma teoria geral do palpite e se, na verdade, não é esta que impera, por exemplo, nos exames de História, Filosofia e Português, aqui transcrevo um excerto de Memorial do Convento que bem poderia servir para verificar a qualidade do ensino e da aprendizagem:

«Castiguem-se lá os negros e os vilões para que não se perca o valor do exemplo, mas honre-se a gente de bem e de bens, não lhe exigindo que pague as dívidas contraídas, que renuncie à vingança, que emende o ódio, e, correndo os pleitos, por não se poderem evitar de todo, venham a rabulice, a trapaça, a apelação, a praxe, os ambages, para que vença tarde quem por justa justiça deveria vencer cedo, para que tarde perca quem deveria perder logo. É que entretanto vão-se mugindo as tetas do bom leite, que é o dinheiro, requeijão precioso, supremo queijo, manjar de meirinho e de solicitador, de advogado e inquiridor, de testemunha e julgador, se falta algum é porque o esqueceu o padre António Vieira e agora não lembra.»

Bem sei que o exame não visa medir a inteligência do examinando, mesmo assim, se começássemos por verificar a ligação de Saramago com Vieira (a intertextualidade), o que é que encontraríamos?
E se o tema da dissertação fosse a "justiça" neste sorumbático país?
Talvez seja pedir demais...