16.6.12

A pé, o caminho…



Cansado de responder a perguntas de última hora – Facebook: Grupo Exame de Português - Dúvidas – parto a pé na direção do Tejo. São 30 minutos! Os bancos convidam ao repouso, evito-os, a maré vazia, percorro a zona ribeirinha e desemboco no Oriente, na expectativa de que o 28 me devolva a casa. Passaram 80 minutos! E, entretanto, espero… o 28 está encalhado numa manifestação ou numa festa rural animada por um artista popular.


12.6.12

Interregno

Interregno: período de tempo em que um país fica sem rei, presidente –  a democracia é suspensa e perde a soberania.

Ao longo da sua  História, Portugal já experimentou tantos interregnos que, hoje, agimos como se nada estivesse a acontecer. Enquanto uma parte significativa da população desespera em silêncio, outra parte, de barriga cheia, clama sem perceber que, sendo os recursos financeiros reduzidos, não pode subtrair-se às medidas de austeridade, sobretudo quando estas visam reduzir os custos de funcionamento de organismos geridos sem efectiva supervisão.

Vivemos em estado de exceção e por isso de nada serve esbracejar perante a tutela, porque esta mais não é do que a correia de transmissão dos verdadeiros soberanos…

«Fazei, Senhor, que nunca os admirados / Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses, / Possam dizer que são pera mandados,/ Mais que pera mandar, os Portugueses.» Camões, Os Lusíadas, Canto X, estância 152.

No essencial, o Poeta já percebera que o tempo português passaria a ser de interregno. Até quando?

9.6.12

Uma Igreja desorientada



Por um lado, esta Igreja está pronta a alugar o espaço, a ceder um dia santo por cinco anos, como, por exemplo, o do Corpo de Deus. Por outro lado, a mesma Igreja vocifera: NÃO PAGAMOS  FMI  FORA DE PORTUGAL!

Parece uma Igreja desatenta e perdida, mas, na verdade, ela não perde a LUZ. Basta olhar com um pouco de atenção e lá vemos os painéis solares… e se contornarmos a quinta, encontraremos o negócio imobiliário, que não das almas! 

8.6.12

O caminho


«Procura cada qual, por seu próprio caminho, a graça, seja ela qual for, uma simples paisagem com algum céu por cima, uma hora do dia ou da noite, duas árvores, três se forem as de Rembrandt, um murmúrio, sem sabermos se com isto se fecha o caminho ou finalmente se abre…» José Saramago, Memorial do Convento, 1982

São três árvores, as de Rembrandt, saídas das cinzas da noite, deixando, no entanto, que a luz do dia brilhe em fundo revolto. A vida humana decorre absorta, como se para além do claro-escuro nada mais existisse.

O subtexto de pouco serve a Saramago! Saiu do século XVII pela porta da irrisão, pois não consegue escapar ao desespero do grande arquiteto enredado no seu próprio labirinto.

6.6.12

De regresso…

O que pensaria Salazar da iniciativa da professora Cristina Duarte e dos seus magníficos alunos da disciplina Clássicos da Literatura de, apesar da decadência da língua francesa, nos fazerem (re)descobrir, em português, a excelência da escrita do autor de À La Recherche du Temps Perdu?

Aparentemente, a resposta não interessará a ninguém. No entanto, o evento realizou-se sob o olhar atento do ditador e num espaço mobilado segundo a filosofia do espírito do Estado Novo.

Claro que tudo não passa de uma coincidência, mas não posso deixar de pensar que o passado, quando menos o esperamos, nos pode assombrar.

Salazar, como talvez saibamos, preferia a religião à literatura, pois a primeira permitia-lhe anestesiar a nação…; a segunda – a literatura –olhava-a, sobretudo, como expressão de perigosa insubordinação… e é essa atitude que me preocupa ao antever que, no próximo ano, a opção Clássicos da Literatura deixará de ser leccionada porque não haverá 20 alunos que a queiram frequentar, entre os mais de 350 que se irão inscrever no 12º ano da Escola Secundária de Camões.

31.5.12

O outro lado…

A 31 de Maio, a natureza segue o seu caminho, avessa à seca. Eu deixo-me ficar em frente e procuro as abelhas e as borboletas. Elas mostram-se e ignoram-me.

À margem, resigno-me a ouvir chilreados indistintos porque nunca parei o tempo suficiente para os nomear…, embora ainda veja as oliveiras de outrora, em horas de fome…

30.5.12

Esse tempo anterior a nós

«Todos os seus objetos, até o porta-moedas, têm uma história, chegam de um tempo que existiu antes de mim José Luís Peixoto, A Minha Avó, Cal, Quetzal, 2007

Partilho com o autor deste fascínio pela história dos seres e dos objetos, apesar de, infelizmente, não ser capaz de o acompanhar na recriação desse tempo anterior a nós. E ao mesmo tempo, vou testemunhando que essa atitude é cada vez menos valorizada.

O fio do tempo é indissociável da construção e da aprendizagem dos saberes que alicerçam a identidade de cada um de nós, de cada nação ou de cada projeto supranacional. Apesar desta evidência, vivemos num tempo em que «o anterior a nós» é desprezado, não só porque pode ser aviltante, mas, também, porque preferimos secar as raízes.

Somos porque estamos na rede, virtualmente! E esta evidência põe termo ao tempo pessoano da expansão por fazer, e torna-se em cerração…